segunda-feira, 5 de maio de 2014

O Haiti agora é aqui em Cuiabá II

No imaginário dos haitianos o Brasil que lidera a MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) e, está fazendo uma copa do mundo é a solução para seus problemas. A construção civil momentânea precisa de mao de obra , já que a nacional está escassa e cara.
O empresariado que sempre pensa na diminuição dos custos,ve com  bons olhos o aumento da mão de obra. O aumento traz na lógica do capitalismo a redução do valor pago. Em curto prazo obras serão realizadas com maximização de lucros e redução de custos.  
A sociedade, no entanto, não é feita só de empresários, grosso modo ela é heterogênea e a médio e longo prazo vai ter que conviver com estes novos estrangeiros em seu território, disputando pari passu o mercado de trabalho. Na Europa os estrangeiros são considerados culpados pelo desemprego dos nacionais, como será que nos comportaremos? Como irão se comportar os haitianos desempregados no Brasil? As obras da copa estão em reta final. O perigo de aliciamento ao narcotráfico, os empregos beirando a escravidão, o fim dos empregos nas obras da copa, são reflexões imediatas da questão haitiana.
O aumento do racismo no mundo com também no Brasil é uma preocupação nova na sociedade e os haitianos são negros. Embora sejamos um país miscigenado o racismo existe e pode aumentar com a presença deles. As palavras de Dynn Achesson Saintilus, haitiano de 25 anos, formado em jornalismo e trabalhando como pedreiro em São Paulo , já evidencia o problema. “ No ônibus, percebo que as pessoas evitam sentar do meu lado. Já me disseram que aqui não é lugar para estrangeiros, e que a presidente devia mandar todo mundo de volta para casa, diz ele na reportagem a folha de São Paulo. Completa a sua frase dizendo que, “não aconselha a vinda de seus compatriotas ao Brasil, porque muitos brasileiros são preconceituosos”.
Grosso modo, os haitianos no Brasil têm empregos que não servem mais a brasileiros, ou substituem uma mão de obra escassa ou cara, mas com salários baixos, com um custo de vida alto para os padrões deles.
Alex, um haitiano de 32 anos que fala francês, criollo, espanhol, português, mora em Cuiabá, e trabalha em um restaurante, reclama que pelo que ganha, não dá para sobreviver, nem tão pouco mandar sobras para a mulher e os dois filhos que continuam no Haiti. Diz ele, que o salário é baixo, tendo que dividir a quitinete que mora com mais 3 pessoas.
Outro haitiano que trabalha como servente de pedreiro em obras de empreiteira em Cuiabá, fala de sua angustia, decepção e tristeza, ao ver sua vida de classe média no Haiti desmoronar após o terremoto de 2010. Faltando 4 meses para se formar em contabilidade, teve que sair do país. O pai dele que tinha 6 propriedades, viu depois o governo haitiano entregar à família um casa popular e nada mais. A fuga do país é o que restou como esperança de vida.
Observa-se um instinto de sobrevivência muito grande nos haitianos. Viver a qualquer custo é o que importa, sendo uma enorme lição de vida para brasileiros que tem muitas facilidades e vivem acomodados.
Até o momento já chegaram mais de vinte e cinco mil haitianos, que saíram de Porto Príncipe, capital do país e entram pelo Panamá, passando pelo Peru e Equador.
Esperam encontrar um Eldorado motivado pelas obras da copa, das olimpíadas de 2016, dos frigoríficos do sul e, da construção civil de modo geral.
Em Cuiabá estão localizados principalmente no bairro Carumbé (morando no bairro ou provisoriamente na pastoral da igreja católica) e já somam mais de 2.000 pessoas, quase 10% do total de haitiano no Brasil.
Já os percebemos andando pela cidade e buscam uma vida melhor da que tinham em seu país de origem. Após o fechamento de pontos da imigração no Acre, o deslocamento de muitos para Cuiabá pode mudar as relações sociais em nossa cidade.
São pessoas que tem um visto humanitário, concedido pelo governo brasileiro e como tal temos que tratá-los de forma civilizada e dentro dos parâmetros da inclusão social. No entanto, temo pelo futuro destes novos pobres que como os existentes aqui, não tem uma política de cidadania decente, o que pode evoluir para acirrar mais ainda as questões sociais e transformar os haitianos em problema, encarcerando-os em guetos como os existentes em nosso território. Urge uma política do ministério e secretárias das cidades, com planejamentos urbanos para essa população carente, que tende a aumentar em Cuiabá e em outras cidades brasileiras.
Em tempo de guerra eleitoral entre PT e PSDB, os haitianos estão servindo como bucha de canhão. Mais ou menos 400 deles foram praticamente deportados do Acre, governado pelo PT, para São Paulo, governado pelo PSDB, sem o conhecimento do governo  paulista. Estão todos alojados em uma igreja na capital e sem nenhuma perspectiva de futuro. O governo paulista disse que a atitude do governo acreano se assemelha aos coiotes mexicanos. Como brasileiro, torço por vocês haitianos. Mas temo pela dubiedade de nossos governantes.
E ai “cuiabanos” o que podemos fazer pelos haitianos?

PEDRO FELIX
O documento

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