A história do
garoto haitiano que chegou ao Acre por meio de traficantes de
pessoas é apenas um capítulo da complexa imigração que acontece no Brasil
após o terremoto que assolou o Haiti em 2010.
Segundo a Polícia
Federal, nos últimos quatro anos, 17.712 haitianos migraram para a fronteira
das cidades acrianas de Brasileia e Epitaciolândia de forma irregular. A
Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Acre informa que foram mais de
20 mil haitianos que pediram o refúgio na região no mesmo período.
Apesar das
diferenças dos números da imigração da PF edo governo do Acre,
ainda é baixa a quantidade de haitianos que procuraram obter os vistos de entrada no Brasil na
Embaixada em Porto Príncipe, no Haiti ou nas embaixadas de Quito (Equador) e
Lima (Peru). Segundo o Itamaraty, de 2012 a março de 2014 foram emitidos cerca
de 10 mil vistos permanentes de caráter especial a cidadãos haitianos, por
razões humanitárias, conforme resoluções do Conselho Nacional de Imigração
(CNIg), ligado ao Ministério do Trabalho.
A reportagem da agência 'Amazônia
Real' entrevistou diplomatas brasileiros que trabalham em consulados e
embaixadas que emitem vistos para migrantes haitianos. Os diplomatas, que
pediram para não terem os nomes divulgados, dizem que a rota do tráfico de
pessoas é estimulada por causa da exigência de documentos que o Brasil faz para
conceder os vistos.
Segundo os diplomatas, devido à
carência institucional e à informalidade da sociedade haitiana, muitos
documentos como o comprovante de residência e o atestado de bons antecedentes
são impossíveis de serem entregues pelo migrante nas embaixadas.
O garoto haitiano
que vive no abrigo em Epitaciolândia utilizou a rota ilegal montada, segundo os
diplomatas, pelos 'coiotes', traficantes de pessoas. A rota começa no Haiti e
segue por República Dominicana, Quito (Equador), Lima, Puerto Maldonado, Iñapari, no Peru,
e Cobija, na fronteira da Bolívia com o Acre.
Um diplomata disse que, se a França
não resolver o problema de documentação do garoto, ele vai permanecer no abrigo
por tempo indeterminado. 'Enquanto ele não atingir a maioridade, não poderá ter
sua tutela pelo Estado brasileiro desfeita, e por isso está impedido de seguir
viagem como os seus outros compatriotas', afirmou.
Além do problema
com o tráfico de pessoas, os haitianos que estão chegando na fronteira do Acre
não encontram mais o acolhimento depois que o governo estadual fechou o abrigo
em Brasileia. Conforme a Amazônia Real publicou anteriormente, o governo
acreano instalou um abrigo provisório em Rio Branco e
mandou os haitianos de ônibus e avião para São Paulo.
A chegada repentina de mais de 800
haitianos em São Paulo provocou uma crise com o governo do Acre. O Palácio do
Planalto decidiu intervir no problema. O ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, anunciou que o governo vai 'estimular a entrada regular de haitianos
com visto no Brasil' com uma ampla campanha de divulgação no Haiti.
A agência 'Amazônia
Real' teve acesso à estatística da Polícia Federal sobre a solicitação de
refúgio para haitianos na fronteira do Acre. De acordo com o estudo, no
ano de 2010 foram emitidos 39 documentos para os imigrantes, 988 em 2011, 2.235
em 2012, 10.156 em 2013 e 4.294 de 1º de janeiro a 30 de abril de 2014. Um
total de 17.712 solicitações de refúgios para haitianos em quatro anos.
A estatística da Polícia Federal
revela um retrato dos imigrantes e mostra que o maior fluxo do Haiti para o Brasil
aconteceu entre os anos de 2012 a 2013 pela fronteira do Acre, quando entraram
12.391 pessoas no país.
Desse total, 84% haitianos eram do
sexo masculino e 16% do sexo feminino. A faixa etária que mais migrou pelas
cidades de Brasileia e Epitaciolândia tinha idades entre 31 a 40 anos (39%),
seguido de idades entre 26 a 30 anos (30%) e 19 a 25 anos (18%).
Segundo o estudo da PF, 57% dos haitianos tinham o 1º grau incompleto e
apenas 3% o ensino superior completo. Dos profissionais que buscaram o Brasil
pelo Acre, 51% tinham a profissão de pedreiro, 14% de comerciante, 7%
agricultor e apenas 4% eram estudantes. EFE/Amazônia Real
G1 AC
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