terça-feira, 12 de julho de 2011
Imigrantes latinos sofrem com crise na Espanha e nos EUA
Os imigrantes latino-americanos, cujo principal destino é a Espanha e os Estados Unidos, sofreram o impacto da crise de forma mais "contundente", segundo um relatório divulgado nesta segunda-feira pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
O Sistema Contínuo de Informação sobre o Trabalho do Migrante nas Américas (SICREMI) publicou o primeiro Relatório de Migração Internacional nas Américas, elaborado com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Segundo o documento, apresentado pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, cerca de 80% dos imigrantes das Américas vivem na Espanha e nos Estados Unidos, dois países que sofrem com o impacto da crise de forma "particularmente" dura, o que gerou fortes repercussões para este grupo.
O número de trabalhadores imigrantes afetados pelo desemprego entre 2008 e 2009 na Europa e nos EUA foi de 13,8% contra 9,1% para os nascidos no país, segundo o relatório, que afirma que durante a recessão os estrangeiros se vêem "mais severamente afetados" que os nacionais.
Insulza explicou que isto se deve, em grande medida, ao fato de os imigrantes atuarem em setores "mais dependentes à variação cíclica, como construção, alojamento e alimentação" e a renovação de seus contratos depende das perspectivas econômicas.
Isso também se refletiu no envio de remessas. Após décadas de crescimento quase contínuo, os fluxos para os países da América Latina e Caribe caíram 12% entre 2008 e 2009, e não se recuperaram completamente em 2010.
As remessas dos EUA para México e El Salvador - as duas comunidades latino-americanas mais representativas no país - diminuíram 18,6% e 4,2%, respectivamente.
O relatório assinala que "sem dúvida custará um grande esforço de recuperação reabsorver todos os excedentes atuais de oferta de mão de obra".
No entanto, apesar da "complicada" situação econômica que "continua" nos Estados Unidos e na Espanha, o movimento migratório também "persiste" e não foram registrados deslocamentos "significativos" de retorno aos países de origem.
Insulza lembrou que a América Latina se transformou nas últimas décadas de destino de imigração, principalmente da Europa, a exportador de imigrantes, "em grande maioria por razões econômicas", para países mais desenvolvidos como os EUA, Canadá e Espanha.
Além disso, assinalou que foi registrada uma tendência à migração inter-regional "moderada, mas em progressiva ascensão" onde a Argentina, a Venezuela, a Costa Rica e o Chile, foram os principais receptores de imigrantes de outros países da região.
No ato de apresentação do relatório também participaram o ministro de Governo, Polícia e Segurança Pública da Costa Rica, Mario Zamora; o observador permanente adjunto da Espanha perante a OEA, José María de la Torre - país que promoveu o relatório -; e a diretora do escritório da Cepal em Washington, Inés Bustillo, entre outros.
Zamora destacou a importância deste documento, que a partir de agora será anual, para evitar "mitos, preconceitos e estereótipos" com os quais a imigração tem sido tratada, e para ajudar a focar "melhor" as políticas públicas a fim de adaptar os serviços às necessidades sociais dos migrantes.
Por sua vez, o representante espanhol destacou o papel fundamental da imigração na Espanha e a "facilidade de integração" da comunidade latino-americana que há 500 anos "compartilha língua, religião e um espírito comum".
"Não conceberíamos a Espanha sem imigração", disse e lembrou que este país, que tem 42 milhões de habitantes, tem 7 milhões de imigrantes - 16% da população.
De la Torre afirmou que em um futuro próximo a América Latina voltará a ser receptora de imigrantes "devido ao importante desenvolvimento econômico que está experimentando nos últimos anos".
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