quarta-feira, 27 de julho de 2011
Ajudas para retorno de imigrantes aumentaram 47%
São os efeitos da crise expostos no mais recente Relatório da Imigração, Fronteiras e Asilo, ontem divulgado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras: em 2010, houve menos estrangeiros a estabelecer residência em Portugal e mais a pedir ajuda para regressar ao seu país. As emissões de primeiros títulos de residência diminuíram 17,41%, levando a crer que o país é cada vez menos atractivo para a imigração. Contas feitas, a população imigrante residente em Portugal encolheu quase 2% em apenas um ano.
O Brasil continua a ser o principal emissor de imigrantes para Portugal, 119 363, um número que continuou a aumentar, mesmo durante o último ano. No entanto, foram também os brasileiros quem mais ajuda pediu para voltar para o seu país. O programa de apoio ao retorno voluntário criado pelo Estado português beneficiou 559 cidadãos estrangeiros em 2010, um aumento de 46,7% face ao ano anterior. O Brasil foi o destino de mais de 80% destes regressos com ajuda. Seguiu--se Angola, para onde regressaram 50 angolanos com este apoio.
A evolução dos números relativos à imigração é influenciada pela legislação em vigor, mas também pelas condições socioeconómicas dos países implicados. Neste caso, Portugal, que segundo as previsões do FMI será o único país do mundo em recessão em 2012, contrasta com a realidade de países tradicionalmente emissores, como Brasil e Angola, com perspectivas de crescimento económico exponencial durante os próximos anos.
Os romenos, terceiro maior grupo de imigrantes em Portugal (os ucranianos são o segundo), também aumentaram o número de presenças em Portugal, para 36 830 cidadãos em 2010. Só que neste caso o cenário é diferente.
Marius Pop, padre ortodoxo em Lisboa desde 1999, tem acompanhado de perto a evolução da população romena no país. Pensa que dificilmente a crise portuguesa afectará a vinda de romenos para o país. "Como na Roménia é pior, não a sentem. São gente de sacrifícios." As diferenças entre romenos e outros tipos de imigrantes são notórias. Segundo Marius Pop, os romenos "vivem num limbo, sem saber se voltam ou não. Para estas pessoas, cada ano é uma guerra".
Apesar da crise, há quem esteja de pedra e cal. Como Hemant Devani, 33 anos, dono de um restaurante indiano em Lisboa, onde vive há seis anos, depois de ter passado também pelo Reino Unido. "As coisas estão piores por toda a Europa, e melhor na Índia. Mas não nos podemos queixar", diz. "Escolhi viver aqui, vou lutar por isto. Fugir seria coisa de cobarde e acredito que a Europa há-de voltar ao que era."
Vanessa Lyu, 32 anos, partilha a opinião: "É preciso aguentar aonde der." Mesmo depois de ter visto a loja onde trabalha perder 50% das vendas desde que abriu, há três anos. Mesmo depois de ter sido obrigada a despedir pessoas e a ver cerca de 20 dos seus amigos regressarem à China. "Os chineses não gostam de voltar para trás, mas tem de ser", disse sobre os outros. Ela pensa ficar, até porque o marido é português. No entanto, deixa a porta aberta: "Mais para a frente é uma hipótese. Na China ganha--se o dobro. Quem ganhava 200 há três anos ganha 400 ou 800 agora."
Witza Andrade, 52 anos, é brasileira e vai ficar, mas por outros motivos. Em Portugal há 20 anos, está a acabar um curso de Pastelaria para montar um negócio. Voltou a São Paulo uma vez, mas foi assaltada ao chegar. "Não conseguia viver com aquela violência", explica. "Sei que no último ano muitos brasileiros têm regressado. O emprego lá está a crescer, mas os bons empregos encontram-nos os portugueses que vão para lá."
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