quinta-feira, 28 de julho de 2011
Ataques reacendem debate sobre imigração na dividida Oslo
Oslo é uma das capitais mais plácidas e agradáveis da Europa, mas ela é também uma cidade dividida. A zona oeste da cidade é rica, segura e predominantemente branca, mas a zona leste é mais pobre, menos segura e povoada por imigrantes, muitos deles muçulmanos.
A Noruega recentemente endureceu suas antigas leis imigratórias liberais de asilo em meio a um longo debate sobre assimilação e multiculturalismo. Apesar da riqueza do petróleo da Noruega e do baixo desemprego, tem havido uma preocupação crescente com o tamanho cada vez maior da população muçulmana no país, especialmente após os atentados de 11 de Setembro de 2001 e a crise dinamarquesa a respeito da publicação de caricaturas de Maomé no final de 2005, que também foram publicados na Noruega.
Mas a população muçulmana está crescendo e o islã é agora a segunda maior religião do país. O impacto de uma crescente e cada vez mais visível população muçulmana em uma Noruega etnicamente homogênea, liberal e igualitária levou a uma onda de popularidade do Partido do Progresso, anti-imigração, agora o segundo maior no Parlamento. E esse parece ter sido um dos motivos para o massacre realizado contra a elite branca da Noruega. O suspeito, Anders Breivik, alega que foi compelido a agir pelo fracasso dos políticos tradicionais - incluindo o Partido do Progresso - em conter a onda islâmica
De muitas maneiras, tais argumentos parecem absurdamente aumentados. A Noruega, com 4,9 milhões de pessoas, tem cerca de 550 mil imigrantes, cerca de 11% da população, sendo que 42% deles têm cidadania norueguesa. Metade dos imigrantes são brancos europeus, especialmente poloneses e suecos, em busca de melhores salários na rica Noruega.
Mas o número de imigrantes na Noruega quase triplicou entre 1995 e 2010, e os muçulmanos em território noruguês, como no resto da Europa, tendem a ter famílias maiores do que a população local. E seja por causa da economia, do desejo de viver com outros muçulmanos ou devido a falhas políticas de assistência social, algumas cidades têm muito guetos informais que impedem a fácil assimilação da língua, cultura e sociedade norueguesa.
Em Furuset, um bairro quase no extremo leste da linha de metrô de Oslo, os imigrantes superam os noruegueses, que estão fugindo da área. Uma grande mesquita foi construída ao lado de um centro comunitário em uma pequena colina perto da estação de metrô, que é cercada por um pequeno parque cheio de bancos. O parque possui uma estátua de Trygve Lie, ex-chanceler que viveu no exílio durante a Segunda Guerra Mundial e se tornou o primeiro secretário-geral das Nações Unidas, um símbolo da resistência norueguesa e de como o país abraça sua responsabilidade internacional.
"Quando me mudei para cá em 1976, essa era uma área nova e havia apenas noruegueses na região", disse Lisbeth Norloff, uma professora norueguês. "Agora há muito poucos, e alguns deles estão deixando a região”. Ela fica feliz que seus filhos estejam crescidos agora e vivam em outros lugares. "Assim não preciso me preocupar com o que fazer”.
Em suas aulas em Furuset, ela disse, apenas dois de seus 40 alunos são noruegueses e ela teve de diminuir o nível do ensino porque muitos dos seus alunos não falam norueguês em casa. "Acho que ambos os lados estão perdendo", disse ela.
Fenômeno
Harald Stanghelle, editor de política do jornal Aftenposten, disse que em muitas escolas em Oslo a maioria dos alunos não vem de famílias que falam o norueguês. "Esse é um fenômeno novo na Noruega", disse Stanghelle, "e ele tem gerado um novo tipo de debate”.
Em geral, esse debate é sobre como integrar os imigrantes em um país pequeno, com sua própria e difícil língua, se não forem capazes de aprender a falá-la bem, mesmo nas escolas estaduais.
Embora o debate ecoe aquele existente em outros países da Europa Ocidental, a Noruega é estável, rica e tem pouco desemprego, o que faz da competição por empregos não ser um grande problema. Outra diferença fundamental é que a Noruega, dados os seus princípios, tende a receber algumas das mais pobres vítimas de conflitos, como refugiados - sejam pessoas que viviam em barcos vietnamitas décadas atrás ou somalis e eritreus de agora.
Esses refugiados geralmente não são bem-educados e muitos passaram por experiências terríveis. Eles têm grande dificuldade de assimilar a cultura local até pelo menos a segunda ou terceira geração. Muitos vietnamitas, segundo Stanghelle, inicialmente tiveram problemas, mas seus filhos e netos estão se saindo muito bem na escola e integrando o coração da vida da Noruega.
Um membro do Partido do Progresso pediu anonimato por não querer colocar política no luto nacional. Mas ele disse que não há mais consenso hoje sobre uma posição mais dura e restritiva."Nossas políticas de imigração têm sido extremamente ingênuas e nossas políticas de integração também, mas isso é algo que todos os nossos partidos políticos passaram a reconhecer", disse ele.
No passado, qualquer crítica à imigração ou ao asilo era considerado racista, "mas isso mudou agora", disse ele. "Nós estamos tendo um verdadeiro debate sobre imigração e integração, e uma eleição a cada quatro anos. Somos um país de consenso, esta é a Noruega, e estamos juntos nisso".
Arne Strand, ex-editor político do jornal Dagsavisen, vê Breivik como um "cavaleiro solitário" cujo manifesto não representa toda a tensão real do debate na Noruega, mas uma exceção. Mas embora os noruegueses odeiem essa noção, ele acha que o massacre terá algum impacto sobre a política. "Esse ataque, esse assassinato em massa, abalará esse debate novamente, e há eleições municipais no próximo mês", disse ele.
Imigrantes
O debate também é real entre os imigrantes em Furuset, que temem que o isolamento dos noruegueses prejudique as chances de seus filhos de uma vida melhor aqui.
Yemane Mesghina, 39 anos, veio para o país há nove anos como refugiado da Eritréia e ficou muito grato com a recepção hospitaleira dos noruegueses. Ele é faxineiro e vive em Furuset com um bebê e sua namorada porque a região, ele diz, "é barata" em uma cidade muito cara.
Ele se sente em casa na Noruega? Ele ri. "É diferente culturalmente e na língua", disse ele. O distrito é dominado por paquistaneses, segundo ele, que vieram para cá como trabalhadores convidados na década de 70 e 80, quando a Noruega precisava de mão de obra.
Cerca de 90% das pessoas no seu prédio são paquistaneses, disse Mesghina. E o bairro também é famoso por uma gangue criminosa paquistanesa, conhecida como Gang B.
Mesghina disse que há um aspecto positivo consequente da maioria muçulmana no bairro: "Aqui não tem álcool", disse ele. Mas ele se preocupa com seu filho e como será capaz de se integrar à vida na Noruega quando há tão poucos noruegueses ao redor.
"Estou preocupado que o meu menino não aprenda a língua norueguesa e entenda as piadas", disse.
Mas ele, como muitos aqui, não ficou muito preocupado que as mortes causadas por Breivik significarão nova pressão sobre os muçulmanos. "A coisa mais importante é o que a maioria pensa", disse ele. "E a maioria nos aceita muito bem".
*Por Steven Erlanger
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