terça-feira, 5 de julho de 2011

Nova classe trabalhadora do país é estrangeira

Galina Masterova

O Serviço de Imigração Federal estima que cerca de 1,7 milhão de estrangeiros entrarão na Rússia para trabalhar legalmente em 2011, e que pelo menos outros três ou quatro milhões já estão trabalhando no país sem documentos oficiais.

Não é difícil achar esses novos imigrantes. Eles são jovens que tiram a neve das ruas ou recolhem o lixo, constroem os novos e modernos arranha-céus ou vendem produtos no mercado, limpam banheiros públicos e calçadas e empurram carrinhos de comida nos parques das cidades.

Bakhid Asilbekulu, 21, veio de Osh, no Quirguistão, para trabalhar como faxineiro num mercado de Moscou por 15 mil rublos mensais, cerca de 850 reais. Ele divide um quarto com mais de uma dúzia de compatriotas num albergue próximo ao local em que trabalha. Bakhid, que em russo se autointitulou Boria, planeja retornar ao Quirguistão em dezembro e, se o dinheiro que acumular até lá não for suficiente, já tem planos de voltar à capital russa.

O boom da emigração nas ex-repúblicas soviéticas, especialmente na Ásia Central, começa com a pobreza que assola essas regiões, mas ganha força com a enorme atratividade do crescente mercado russo, que demanda cada vez mais trabalho, especialmente nos grandes centros urbanos como Moscou.

Os imigrantes vindos das ex-repúblicas não precisam de visto para trabalhar na Rússia, mas disputam com milhões um trabalho no país, seja legal ou ilegal. Mesmo assim, a necessidade de mão de obra não deve acabar tão cedo, e até as grandes empresas russas correram para garantir parte desses trabalhadores. “Todos os anos, a Rússia perde um milhão de cidadãos economicamente ativos”, ressalta Lidia Grafova, defensora de direitos humanos e conselheira de uma comissão do governo que trata de assuntos ligados à imigração.

Segundo Viatcheslav Postavnin, ex-vice-diretor do Serviço de Imigração Federal e atual presidente do Fundo de Imigração Século 21, um grupo de defesa dos imigrantes, a economia russa vai precisar de mais 30 milhões de imigrantes até 2030.

No ano passado, o Presidente Dmitri Medvedev já havia alterado as regras de visto do país para permitir que profissionais altamente qualificados e suas famílias entrem na Rússia com mais facilidade. Mesmo assim, os funcionários estimam que a medida irá atrair apenas cerca de metade dos imigrantes qualificados necessários.

Agora, o Serviço de Imigração Federal anunciou que planeja facilitar o processo de imigração, aumentar o número de residentes legais e abrir o caminho para cidadania àqueles que quiserem ter a Rússia como lar.

O diretor da agência de imigração, Konstantin Romodanovski, também afirmou que quer acabar com a corrupção, já que os imigrantes são geralmente forçados a pagar subornos para conseguir driblar o burocrático processo de legalização no país. “Hoje, é difícil dar continuidade ao processo sem pagar propina”, ressaltou Lidia Grafova.

Outra medida que vem sendo considerada é a abertura do serviço de concessão de vistos na estação Kazanski de Moscou, por onde chegam os trens vindo da Ásia Central. Ali, os imigrantes poderiam imediatamente obter a permissão de que necessitam, num ambiente específico para isso e longe de problemas.

Os incentivos, porém, dividem a população. Apesar da crise demográfica, existe uma ambivalência generalizada sobre a imigração no país. Uma pesquisa da agência Politex revelou que 86% dos entrevistados acham que o Estado deve instituir controles severos de imigração, enquanto 57% da mostra afirmam que Moscou precisa de trabalhadores estrangeiros.

Lidia Grafova ressalta ainda que a atual pressão do governo por uma política de imigração mais liberal aparece num contexto de graves conflitos étnicos e diante de um desejo de conter a crescente onda de xenofobia no país.

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