sexta-feira, 15 de julho de 2011
Crise econômica, terremoto, tsunami e crise nuclear apressam volta de decasséguis ao Brasil
A crise econômica de 2008 e 2009, que praticamente parou o Japão, fez com que muitos brasileiros decidissem pela volta ao país natal por causa da escassez de empregos, principalmente na indústria, maior empregadora de mão-de-obra estrangeira no país.
Neste período, a comunidade decasségui no Japão teve uma queda histórica de 14,4%. O número de brasileiros despencou de 312.582, em 2008, para 267.456, em 2009.
Nos últimos meses, uma nova crise provocada pelo terremoto de março e pela ameaça de acidente nuclear no país contribuíram ainda mais para o retorno dos decasséguis ao Brasil.
Segundo dados mais recentes da Agência de Imigração do Ministério da Justiça japonês, a comunidade brasileira diminuiu outros 13,8% passado um ano da crise de 2009.
Até dezembro de 2010, eram 230.552 brasileiros vivendo no Japão – ainda o terceiro maior grupo de estrangeiros, atrás de chineses e coreanos.
A família de João Carlos de Lima, 30, foi uma das que resistiu à crise, mas não aos temores provocados pelo terremoto. Ele, a esposa Nathalya e a filha Geovana deixaram Goiânia (GO) em novembro de 2008 e chegaram pela primeira vez ao país bem no início da recessão.
"Viemos com garantia de emprego, mas chegamos justamente quando as pessoas estavam sendo demitidas em massa das fábricas", lembra Lima, que mesmo desempregado resolveu ficar para tentar a todo custo alcançar o objetivo da casa e do carro próprios no Brasil.
Nathalya ainda conseguiu trabalhar por quatro meses. Neste período, Lima investiu o pouco que tinha em uma bicicleta e conseguiu pagar as contas da casa vendendo salgadinhos brasileiros na rua.
"A maioria da clientela era japonesa, pois os brasileiros estavam numa situação ruim financeiramente", lembra o decasségui, que ficou oito meses desempregado.
Terremoto e tsunami
Passado o pior momento da recessão, Lima conseguiu emprego em uma fábrica e as coisas começaram a melhorar para a família, que ganhou mais um herdeiro, obrigando a esposa a ficar em casa para cuidar das crianças.
Mas em março deste ano, o pior terremoto da história do Japão, o tsunami e a crise nuclear geraram uma estagnação na economia japonesa, que assustou os estrangeiros e contribuiu para o retorno deles ao país natal.
"Como minha esposa está grávida novamente, agora de gêmeos, resolvemos que era a hora de voltar ao Brasil", conta. Nathalya e os dois filhos voltaram no último mês de março para a capital goiana.
Lima, que ficou no Japão para resolver as pendências e juntar um pouco mais de dinheiro, embarca em setembro e chega em tempo de ver o nascimento dos gêmeos.
Mas a família de Lima não foi a única. Somente em março deste ano, segundo dados da Agência de Imigração, 6.872 brasileiros deixaram o país. Em abril, outras 6.552 pessoas embarcaram de volta ao Brasil.
Estabilização
No entanto, para alguns estudiosos das comunidades estrangeiras no Japão, o "efeito terremoto" e o perigo nuclear não farão o número de decasséguis cair de forma tão drástica quanto a crise econômica de 2008 e 2009.
"O número deve se ‘estabilizar’ acima dos 200 mil brasileiros no Japão", afirma Angelo Ishi, sociólogo e professor da Universidade Musashi.
"Além disto, os que retornaram ao Brasil não estão necessariamente conseguindo arrumar emprego. Diante disso, com certeza há muitos que continuam de olho em uma oportunidade para retornar ao Japão."
É o caso da família Lima. João Carlos de Lima retorna com muita esperança de conseguir se reinserir no mercado de trabalho, mas diz que se os planos não derem certo, o Japão continuará a ser uma opção.
"Vamos lutar e tentar a vida lá. Mas, por precaução, tiramos o visto que permite a reentrada no Japão", conta.
Angelo Ishi lembra que há outros fatores que podem influenciar o número final de brasileiros no país, como trâmites legais de imigração.
"Será que o governo japonês vai permitir mesmo que os brasileiros que receberam a ajuda de retorno (de cerca de US$ 3 mil) consigam novamente o visto para reentrar no Japão?", questiona o acadêmico, que também faz parte do Conselho de Representantes de Brasileiros do Exterior (CBRE).
Ele destaca que o número pode mudar também porque muitos brasileiros estão se naturalizando no Japão.
"Cada naturalizado a mais significa um brasileiro a menos na conta do Ministério da Justiça japonês", diz.
Ewerthon Tobace
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