terça-feira, 26 de abril de 2011
Traumas e política de asilo desesperam refugiados na Holanda
Esse mês, duas pessoas que tiveram o pedido de asilo negado na Holanda não suportaram mais. Um iraniano de 36 anos ateou fogo no próprio corpo e um homem do Benin, de 25 anos, assassinou sua namorada e um policial. Eles teriam sofrido um colapso mental devido a um longo processo de requerimento de asilo. Eles não são os únicos que chegam traumatizados na Holanda e precisam esperar até que se decida se podem ou não ficar no país.
Os solicitantes de asilo, algumas vezes, sofrem da síndrome do stress pós-traumático em consequência de torturas, estupros, assassinatos de familiares ou outros acontecimentos que os fizeram sofrer no país de origem.
A insegurança sobre a situação na Holanda agrava as confusões mentais dos refugiados. Um processo de requerimento de asilo demorado intensifica os problemas psíquicos, diz uma pesquisa do centro Pharos, especializado na problemática dos refugiados. Algumas vezes os exilados estão tão confusos que veem no suicídio a última alternativa.
“Stay in touch”
Alice Beldman afirma que chegam cada vez mais pessoas com distúrbios psiquiátricos entre aqueles que ela atende no ponto de apoio para refugiados em Amsterdã.
Ela dá um exemplo de um homem de Serra Leoa: “Ele estava muito mal e carregava uma caixinha com medicamentos, corretamente ordenados por data. Era muito remédio. O homem havia sido liberado de um centro de detenção com a informação de que deveria ficar sempre em contato com outras pessoas. Esse foi o conselho dado a ele pelo psiquiatra. E ele repetia isso como se fosse um mantra: I have to stay in touch with people, I have to stay in touch with people. Foi a única coisa que ele me contou.”
Esse ano, o ponto de apoio para refugiados iniciou o Projeto de Acolhida Médica para Indocumentados (MOO, em holandês), financiado por fundos privados. “Os exilados que têm o pedido de asilo negado são, com frequência, postos em liberdade sem nenhuma provisão. Mesmo se estão doentes, são simplesmente botados para fora”, conta Beldman.
Angústia
Juntamente com Alice Beldman visito uma das moradoras do projeto. Jeska é uma jovem ugandesa. Ela nos recebe em seu quarto, onde há apenas uma cama e uma cadeira. Em cima da cama estão várias caixas de remédios. Ela tem dúvidas se deve dar a entrevista. Me olha muito angustiada. Ela teme que seus compatriotas ou a polícia a encontrem e que falar sobre o que aconteceu com ela possa ser prejudicial.
Em voz baixa, ela finalmente conta sua história:“Eu fugi depois que meu marido foi assassinado. Os assassinos também estavam atrás de mim. Fui torturada e estuprada e acharam que eu estava morta. Consegui fugir. Um homem me ajudou a fugir por via aérea. Me deixou num aeroporto, Schiphol, sem dinheiro ou documentos. A polícia me levou ao centro de acolhida de Ter Apel, no norte da Holanda, e depois para outro centro. Lá eles me liberaram. Com a ajuda de um e de outro, cheguei ao MOO.”
O passado persegue Jeska
Jeska tem dor de cabeça constantemente e se sente fraca. O passado não a deixa em paz: “Não sei como parar de pensar nas coisas que eu vivi. Elas continuam voltando. É difícil tirar esses pensamentos da minha cabeça. Não sei o que tenho que fazer. Eu me consulto com um psiquiatra e um médico. Eles me dão remédios, mas isso não ajuda. Não sinto nenhuma diferença”.
De acordo com Alice Beldman, a maioria dos refugiados preveem um futuro sombrio. As leis de asilo, que se tornam cada vez mais rígidas, fazem com que a situação fique mais difícil, afirma ela.
“Eles não veem saída quando o pedido de asilo é negado e ouvem que precisam voltar para o país de onde vieram. Quase todas as doze pessoas que vivem aqui possuem tendências suicidas.”
Com frequência, Jeska também não suporta a situação: “Eles disseram que eu preciso deixar o país, mas não posso voltar para o meu próprio país porque lá eles querem me matar. E se não fizerem isso aqui, então eu mesma posso fazer, porque não tenho mais esperança. Não posso ir pra lugar nenhum.”
Não se sabe quantos refugiados com problemas mentais há na Holanda. De qualquer forma, há muito mais do que os doze acolhidos pelo projeto de Amsterdã. Alice Beldman espera que também sejam criados outros centros de acolhida para refugiados na mesma situação. “Se não nos preocuparmos com essas pessoas, os custos para a sociedade serão bem maiores”, prevê.
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