Pesquisas de opinião revelam que há mais preocupação pública com pedidos
de asilo e imigração ilegal do que com alunos estrangeiros, mas barrar
estudantes não oriundos da União Europeia é um atalho para o governo reduzir a
imigração.
O Reino Unido tem sido por muitos anos um forte atrativo para estudantes
estrangeiros. Seu setor de ensino superior, com suas faculdades locais e com as
veneráveis universidade globais, tornaram-se tão dependentes do corpo discente
internacional quanto as instituições australianas.
Em 2011–2012, a Universidade de Manchester matriculou 8.875 estudantes
não oriundos da União Europeia: são os alunos estrangeiros, em sua maioria
provenientes da Ásia, que pagam elevadas tarifas escolares, gerando uma receita
adicional para as instituições. (Estudantes da UE pagam tarifas
escolares dos países de origem). A University College Londonmatriculou
7.565 estudantes não provenientes da UE, Edimburgo 6.045, e até mesmo Oxford
4.685. No Reino Unido, 81 instituições tiram mais de 10% de receitas dessa
fonte. O setor de exportação gera aproximadamente £ 20 bilhões por ano em taxas
e outros gastos.
O governo de David Cameron prometeu realizar um referendo sobre a adesão
à UE e o corte de imigrantes de 213 mil em 2013 para menos de 100 mil. Os
estudantes internacionais representam 40% dos números de imigração.Uma tendência
minguante
Contudo, após um longo período de crescimento, o número total de
estudantes em período integral da UE e de países terceiros caiu em 1,4% em 2012–2013.
Em programas de pós graduação – tais como mestrado em administração, de um ano,
que tem conteúdo reduzido e proporciona grande lucratividade — o número de
participantes da UE caiu 8%, e o de países terceiros caiu 1%.
A diminuição no número de estudantes da UE se deu por conta do regime de
taxa de £ 9 mil. Assim, é a tendência de taxas elevadas cobradas dos de
estudantes não oriundos da UE que está gerando a maior parte das oscilações. O
número de estudantes da Índia, Paquistão e Bangladesh caiu abruptamente, embora
parcialmente compensado por aumentos da China e de Hong Kong. O declínio que
ocorreu no número de estudantes que entram no Reino Unido provenientes do
subcontinente contrasta com a movimentação de alunos indianos: recuperação parcial
na Austrália e aumentos importantes de ingressantes nos Estados Unidos.
As autoridades no Reino Unido têm endurecido com relação a faculdades
duvidosas e a fraudes de imigração no subcontinente, mas esta não é a única
causa da recessão nos números.
Vistos e custos
Os custos de vistos para o Reino Unido (US$ 520) são elevados quando
comparados a 360 nos Estados Unidos e apenas 124 no Canadá. Estudantes não
oriundos da UE estão sujeitos a entrevistas individuais com a finalidade de
estabelecer a “integridade do estudante”. Os professores devem apresentar
relatórios sobre os não provenientes da UE mensalmente.
Muitas universidades descrevem o atual regime de visto como indesejável,
discriminatório, moroso e invasivo. As universidades no Reino Unido calculam o
custo total da conformidade institucional em £ 70 milhões por ano.
Pior ainda, em 2012 os vistos de trabalho de pós estudos – que permitiam
aos graduados trabalharem por dois anos para cobrir suas despesas com educação
após o término dos cursos – foram cancelados. Se quiser permanecer e trabalhar
no Reino Unido, o graduado agora deve encontrar, no máximo em quatro meses, um
emprego que pague no mínimo £ 20.600 por ano. Quando isso é comparado a vistos
de pós-estudos de dois a quatro anos na Austrália, e três anos no Canadá,
surgem então fortes concorrentes para o Reino Unido.
Em resumo, o ensino internacional no Reino Unido está sendo minado por
um conjunto consistente de medidas políticas que tem como objetivo diminuir a
mobilidade interna dos estudantes e retardar o processo que transforma o aluno
em imigrante. O único objetivo é reduzir a imigração. O governo está assustado
face a resistência à imigração no eleitorado.
Política e Imigração
O debate cru e caótico do Reino Unido sobre imigração não mostra
sinais de chegar ao fim. É como a reação anti-imigração de 2010 na
Austrália, que também desencadeou o estrangulamento nos vistos de alunos
internacionais. Porém o sentimento anti-imigrante no Reino Unido é mais
prolongado.
O agente da mudança é o Partido da Independência do Reino
Unido de Nigel Farage, agora com entre 10% e 20% de apoio nas pesquisas. Farage
é um comunicador popular que reclama do som de línguas estrangeiras nas ruas e
se lança para a “classe trabalhadora branca do sexo masculino”, que se diz
excluída do mercado de trabalho pelos imigrantes do leste europeu e
negligenciada por Westminster.
A posição do Partido da Independência do Reino Unido está se
firmando na caminhada rumo as eleições nacionais de 2015. Os principais partidos
estão na defensiva tanto com relação a adesão à UE como com a imigração.
O governo de David Cameron prometeu realizar um referendo sobre a adesão
à UE e o corte de imigrantes de 213 mil em 2013 para menos de 100 mil. Os
estudantes internacionais representam 40% dos números de imigração.
As pesquisas revelam que há mais preocupação pública com
requerentes de pedido de asilo e imigrantes ilegais que com os
estudantes internacionais, mas barrar estudantes não oriundos da UE é o caminho
mais rápido para reduzir a imigração.
Há uma grande preocupação com relação aos efeitos sobre as receitas de
exportação, a viabilidade financeira das universidades e o fluxo interno de
talentos globais—por exemplo nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e
matemática. Em relatório sombrio no inicio do mês sobre as tendências dos
números de estudantes internacionais, o Higher Education Funding Council
(HEFCE) da Inglaterra concluiu: “A revente desaceleração aponta para os
crescentes desafios de recrutamento, após longo período de crescimento. Com a
educação cada vez mais globalizada, a concorrência de um leque ainda mais amplo
de países só tende a aumentar .”
O HEFCE afirma que a possibilidade do surgimento de “um ambiente
favorável para colaboração com diversos países nas áreas de pesquisa, ensino e
troca de conhecimento determinará se o ensino superior na Inglaterra continuará
como um parceiro global”.
Em outras palavras, abram-se as portas novamente, ou haverá danos
permanentes. Contudo, o Partido Independência do Reino Unido é a onda política
da vez. No cenário atual, a melhor opção é remover os estudantes internacionais
do alvo da peneira da imigração. Nada menos que sete seletos comitês da Câmara
dos Comuns e da Câmara dos Lordes foram agora solicitados a
decidir sobre essa questão.
Unicamp
Simon Marginson
Marginson é professor de Ensino Superior no Instituto de Educação, Universidade de Londres, Reino Unido. E-mail: S.Marginson@ioe.ac.uk
Marginson é professor de Ensino Superior no Instituto de Educação, Universidade de Londres, Reino Unido. E-mail: S.Marginson@ioe.ac.uk
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