No norte da França, na cidade de Calais, cerca de 3 mil migrantes
vivem em condições precárias na esperança de atravessar o canal da Mancha e
chegar ao Reino Unido, enquanto o governo do primeiro-ministro britânico David
Cameron tem um projeto em parceria com o governo francês, estimado em €15
milhões, para a construção de uma barreira de contenção do fluxo imigratório no
local.
Na Alemanha, um forte movimento anti-imigração vem crescendo nas
últimas semanas e preocupando até mesmo o governo da premiê Angela Merkel.
Enquanto isso, pesquisas mostram que as populações dos países da Europa
Ocidental se mostram cada vez mais a favor da limitação dos direitos dos
imigrantes. É o caso dos franceses: 60% se opõem ao projeto que pode dar aos
estrangeiros o direito de voto nas eleições municipais – uma promessa de
campanha do presidente François Hollande.
Segundo o especialista em fluxos migratórios da Universidade de
Liège e de Versalhes Saint Quentin en Yvelines, François Gemenne, o crescimento
da xenofobia na Europa é inegável. “Essa hostilidade se manifesta através das
políticas imigratórias cada vez mais repressivas, como o fechamento das
fronteiras. Nós vemos isso acontecer em todos os países europeus, impulsionados
por uma forte pressão dos partidos e movimentos de extrema-direita. A situação
é muito preocupante”, avalia.
Manifestações pelos migrantes
Várias ongs organizam manifestações nesta quinta-feira (18) para
alertar sobre a precariedade dos migrantes na Europa. Em Calais, uma grande
manifestação denuncia o projeto da construção da barreira de contenção dos
imigrantes, que chamam de "muro da vergonha".
Para o presidente do movimento Emmaüs Internacional e da
Organização por uma Cidadania Universal (OCU), Jean Rousseau, conter os
estrangeiros através de barreiras é uma decisão “extremamente perigosa e
desumana”. “As pessoas que estão nessa situação catastrófica em Calais, por
exemplo, são pessoas que fogem de guerras e conflitos em seus países de
origem”, explica.
Um dos objetivos da mobilização é de chamar a atenção das
autoridades para a evolução da questão da imigração. “A única solução que
enxergamos para isso é que os governos comecem a considerar a possibilidade da
livre circulação das pessoas”, diz.
35 mil brasileiros na França
De acordo com dados de 2011, os imigrantes representam 8,7% da
população francesa. Cerca de 300 mil estrangeiros se instalam por ano na
França. Entre eles, estão cerca de 35 mil brasileiros, legais ou em situação
irregular, segundo o Instituto francês da Estatística e dos Estudos Econômicos
(Insee, sigla em francês).
A empresária brasileira radicada na França, Renata Santos, chegou
ao país há quatro anos para estudar, casou, constituiu família e montou seu
negócio – uma história que se orgulha em contar. Mas nem todos têm direito a um
final feliz como o dela.
“Eu conheço muitos brasileiros que estão ilegais na França. Eles
chegam com o visto de turista, e acabam ficando, com a ilusão de que a França é
um eldorado. Muita gente que eu conheço acaba indo trabalhar na limpeza, como
babá, como pedreiro... Eles têm vergonha de voltar para o Brasil sem dinheiro”,
lamenta.
Europa depende dos estrangeiros
No entanto, para Pedro Vianna, editor-chefe da revista francesa
especializada em movimentos migratórios, Migrations-Société, apesar
de todo o crescente movimento contra os estrangeiros na Europa, a economia do
continente é dependente da mão-de-obra dos imigrantes.
“O bloqueio da imigração legal resulta na vinda e na permanência
de estrangeiros em situação irregular que podem ser explorados e que aceitam
condições de trabalhos às quais os europeus, protegidos pela legislação
trabalhista, não se submetem. Ou seja, a economia europeia atual precisa desta
mão-de-obra”, afirma.
RFI
Nenhum comentário:
Postar um comentário