Imigrantes
de pelo menos oito países da América, Ásia e África tentam recomeçar
Oferta de emprego, de estudo e a
qualidade de vida são fatores preponderantes para o aumento da população de
estrangeiros na cidade. Desde o fim do primeiro semestre, estima-se ter passado
de 600 para mais de mil o total de imigrantes vindos de oito países da América,
Ásia e África (veja infográfico).
A circulação é constante. A cada mês,
dezenas partem de outros estados do país com destino a Lajeado. Os estrangeiros
buscam uma região onde possam se adaptar e, para isso, se valem de noticiários
e conversas com amigos pela internet. Grande parcela chega para trabalhar em
abatedouros de aves e suínos.
Haitianos são a maioria, representando
quase 60% de todo o grupo. Entre eles, está Renel Simon, empregado desde o
começo do ano pelo Centro de Referência em Assistência Social (Cras) para
prestar auxílio aos demais estrangeiros. Parte dele as principais informações e
estatísticas, pois de forma diária recebe e visita dezenas de imigrantes.
Simon trabalhava como tradutor e
intérprete no Haiti. Fala fluentemente, além do dialeto crioulo (língua
nativa), quatro idiomas: inglês, francês, português e espanhol. Tal posição lhe
permite estar entre poucos a inspirar confiança nos imigrantes. A maioria evita
conversar com estranhos, muito em função de traumas decorrentes da jornada de
ingresso no país, quando sofreram abusos de direito, preconceitos e golpes de
atravessadores.
Aos poucos, a Secretaria de Trabalho,
Habitação e Assistência Social (Sthas) chega até as famílias para ampará-las.
As principais dúvidas dos estrangeiros estão ligadas aos direitos e deveres
dentro do país, das ofertas de trabalho e sobre a confecção de documentos.
De forma mensal, a Sthas leva um grupo
para Santa Cruz do Sul, na Polícia Federal, onde é feita a renovação de vistos
e passaportes. Dentro do possível, eles também são incluídos no Cadastro Único
para programas sociais do governo federal, medida que condiciona o acesso a uma
série de benefícios e garantias.
Poucos desempregados
Apesar dos obstáculos, do preconceito e
da discriminação, a maioria dos estrangeiros está empregada. Pelo menos é o que
garante a secretária da Sthas, Ana Reckziegel.
As mulheres têm mais dificuldade de
conseguir trabalho. Em busca de uma solução, o haitiano Simon visitou alguns
empresários para questionar por que seus conterrâneos não eram aceitos para o
serviço. “Disseram ser por causa do idioma, mas sabemos que há mais coisa por
trás. Nos julgam sem nos conhecer.”
Muitos operários foram demitidos nos
últimos meses depois de uma queda no mercado da construção civil. Parte desses
conseguiu serviço em outras empresas, em especial do setor alimentício.
O Sindicato dos Trabalhadores nas
Indústrias Avícolas e Alimentação Geral de Lajeado e Região (Stial) tem sido um
importante aliado dos imigrantes. Representantes da entidade promovem encontros
para analisar se os estrangeiros têm as mesmas condições de trabalho que os
demais profissionais; se seus direitos são respeitados e se estão adaptados à
região.
Senegaleses sugerem camelódromo
Um dos imbróglios enfrentados pelo
governo de Lajeado tem sido a venda ambulante no centro, feita, na maioria das
vezes, por senegaleses. A lei restringe e até proíbe o comércio em determinadas
áreas. Segundo Simon, trata-se de uma questão cultural, mas que precisa estar
em acordo com as normas. “Eles sempre trabalharam com isso em outros países.
Estamos orientando e buscando uma alternativa de resolver a questão. Não
podemos ir contra a lei, mas eles precisam de ajuda.”
No mês passado, um grupo de ambulantes
esteve reunido com representantes da administração municipal para debater sobre
o assunto. Sugeriram a criação de um camelódromo no centro. A secretária Ana
pede cautela sobre a proposta. “Seria uma opção viável, não só aos senegaleses,
mas para todos aqueles que querem vender seus produtos na rua. O governo ainda
está estudando.”
Abdoul Gueye está entre os proponentes
a abrir um negócio. Há dois anos na cidade, teve de abandonar o emprego em um
frigorífico devido a dores nas costas e agora avalia a abertura de uma
microempresa por meio do Sebrai. A documentação foi providenciada há semanas,
mas ainda não obteve retorno. “Quero trabalhar, mas ainda não tenho dinheiro o
suficiente para começar um empreendimento.”
Mais pela região
Não há informações precisas sobre o
número de estrangeiros ou sua localização no país. Além de o acompanhamento ser
pífio, muitos ingressam de forma irregular. Estima-se que a população gire em
torno de 40 mil.
A imigração se intensificou a partir de
2010, quando um terremoto devastou o Haiti. Desde então, o escritório do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na região confeccionou 394 carteiras de
trabalho.
Uma das precursoras a contratar
estrangeiros no Vale do Taquari foi a cooperativa Dália, de Encantado. O
primeiro grupo, com 50 pessoas, chegou ao município em outubro de 2012. As
notícias do bom desempenho e satisfação dos trabalhadores motivaram novas
contratações. Hoje são 320 (280 haitianos e 34 dominicanos).
Na Languiru, com sede em Teutônia, a
experiência de importar funcionários começou no fim do ano passado, contratados
para o frigorífico de suínos em Poço das Antas. Uma comitiva da cooperativa
viajou ao Acre, de onde trouxe 44 haitianos. O teste surtiu o efeito esperado e
hoje são 71 imigrantes do Haiti.
Jornal da Hora
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