O governo brasileiro deve enviar
até o fim deste ano ao Congresso Nacional um projeto de lei para modernizar as
regras relativas às migrações no País. Atualmente, temas como visita, estada e
permanência de estrangeiros no Brasil são disciplinadas pelo Estatuto do
Estrangeiro (Lei 6.815/80), considerado ultrapassado pelas autoridades.
De acordo com o secretário
nacional de Justiça e presidente do Comitê Nacional para os Refugiados
(Conare), Paulo Abrão, as linhas gerais da nova legislação estão sendo discutidas
por um grupo de trabalho composto por integrantes do próprio Ministério da
Justiça, além de representantes dos ministérios do Trabalho e das Relações
Exteriores.
Paulo Abrão enfatizou que o
objetivo é suprir lacunas identificadas na legislação atual, considerada
defasada e "não mais compatível com o ambiente democrático vivido pelo
Brasil". Entre elas, a definição clara dos direitos dos imigrantes no
País.
"O estatuto atual não tem um
capítulo sobre esse tema. Isso é um déficit sério e é preciso deixar bem clara
(na lei) a condição isonômica do imigrante que recepcionamos no território
nacional, conforme estabelece a Constituição Federal, no exercício de todas as
liberdades, dos direitos civis, políticos e sociais que a nossa nação reconhece
para os brasileiros", disse, ao participar nesta quarta-feira da
abertura do 1º Curso de Elegibilidade e Reassentamento, promovido pelo Conare
em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Ele acrescentou que a legislação
também deve desburocratizar as formalidades para emissão de vistos e
estabelecer mecanismos mais ágeis e simples na abordagem do imigrante no País.
"É importante que as
diferentes esferas estejam articuladas entre si, como o Ministério do Trabalho,
responsável pela emissão de visto de trabalho; o Itamaraty, que garante o apoio
ao brasileiro no exterior, já que estamos falando de migração no sentido amplo,
tanto dos que imigram quanto dos que emigram; e o Departamento dos Estrangeiros
(órgão do Ministério da Justiça), que regulariza a condição jurídica do
imigrante em território nacional", explicou.
Em seu discurso na abertura do
evento, Paulo Abrão enfatizou que a legislação em vigor foi criada com base na
doutrina da segurança nacional e, "defasada em décadas", precisa
incorporar uma visão mais voltada à proteção àqueles que buscam no País a
possibilidade de realizar um novo projeto de vida, segundo os preceitos
internacionais de direitos humanos.
"Não podemos nos perder
desse horizonte ao tratar aquelas pessoas que buscam no Brasil a proteção de
suas vidas, assim como, no passado, fomos nós que buscamos, na época do regime
ditatorial, outros países. É um exercício de solidariedade com a
humanidade", ressaltou.
CPI
também propõe mudanças
No início deste mês, a necessidade de modernizar a legislação relativa à imigração também foi destacada pelo presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas da Câmara dos Deputados, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA). O grupo pretende apresentar nos próximos meses um relatório parcial com sugestões de mudanças legislativas que contribuam para o combate ao tráfico de pessoas.
No início deste mês, a necessidade de modernizar a legislação relativa à imigração também foi destacada pelo presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas da Câmara dos Deputados, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA). O grupo pretende apresentar nos próximos meses um relatório parcial com sugestões de mudanças legislativas que contribuam para o combate ao tráfico de pessoas.
Ainda durante o evento desta
quarta-feira, Paulo Abrão acrescentou que o governo estuda a criação de um
mecanismo para garantir tratamento específico aos casos de apatridia, quando
não há qualquer nacionalidade reconhecida. Ele explicou que, atualmente,
pessoas nessa situação são tratadas como refugiadas, "por interpretação
extensiva (da lei), já que não há dispositivos específicos".
"Nossa proposta é incluir
nas competências do Conare a apreciação de situações de apatridia, mas isso
ainda está em tramitação no Ministério da Justiça", disse, lembrando que
há aproximadamente 4,7 mil refugiados de mais de 70 nacionalidades diferentes
no Brasil.
Uma proposta para reformular o
chamado Estatuto do Estrangeiro e ampliar os direitos dos imigrantes tramita há
três anos na Câmara dos Deputados. Entre as alterações previstas do Projeto de
Lei 5655/09, de autoria do Poder Executivo, estão a criação do visto
eletrônico, feito por meio da internet, e a ampliação do prazo de permanência
do turista no País, que passa de 90 para 180 dias a cada 12 meses, prorrogável
por 30 dias em caso de viagens de negócios.
Agência Brasil
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