segunda-feira, 8 de abril de 2013

Entenda como foi feito o guia interativo


Reportagens sobre os problemas decorrentes da imigração, especialmente em países desenvolvidos, são muito comuns. No entanto, durante os últimos 20 anos, políticas e leis também foram criadas para facilitar a entrada de alguns cidadãos estrangeiros que os países consideram "desejáveis". Quem são os imigrantes que o mundo quer? Essa foi a primeira pergunta deu origem a este .
Já que diversos países mantêm registros de seus fluxos migratórios, pareceu inicialmente que seria fácil mapear os movimentos dos profissionais qualificados - que parecem ter menos dificuldades com as restrições de fronteiras - de um país a outro.
No entanto, encontramos mais de um obstáculo. O primeiro é que a maioria dos países não separa os imigrantes altamente qualificados dos demais em seus registros. A maior parte dos países também não encontraram em seus dados uma resposta direta a nossa segunda pergunta mais importante: quem está indo para onde trabalhar em quê?
Os relatórios da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) se provaram uma fonte consistente de informações gerais sobre o fluxo de imigrantes e as mudanças nas políticas dos países do grupo - que reúne 34 países - para administrarem suas forças de trabalho estrangeiras.
Os relatórios International Migration Outlook e Connecting with emigrants: A global profile of diasporas ("Conectando-se com Emigrantes: Um Perfil Global das Diásporas", em tradução livre) ambos de 2012, foram as principais fontes sobre o destino de emigrantes. Relatórios de outros anos também foram consultados para podermos entender as mudanças em algumas tendências de migração e o fortalecimento de outras.
No entanto, conseguir dados completos sobre os profissionais qualificados que migram para trabalhar ainda é impossível, mesmo consultando a base de dados da OCDE. De acordo com o diretor da Divisão de Migração Internacional da OCDE, Jean-Christophe Dumont, muitas organizações estão tentando desenvolver bases de dados abrangentes sobre a migração de profissionais, ainda sem sucesso. O principal obstáculo está nas diferenças entre os sistemas de cada país para recrutar e administrar seus imigrantes.
Encontrando os dados
Por causa dessa dificuldade, decidimos utilizar as ferramentas disponíveis para descobrir, então, que tipos de profissionais altamente qualificados os países dizem querer, seja em listas oficiais de profissões em demanda ou em dados compilados por órgãos governamentais.
Os governos usam métodos diferentes para organizar estas informações. Alguns deles estabelecem cotas para imigrantes altamente qualificados com base no número de profissionais estrangeiros admitidos no país nos anos anteriores, outros usam listas oficiais de profissões em demanda - revisadas periodicamente - e outros mecanismos.
Consultando relatórios da OCDE e governos, conseguimos informações sobre 25 dos 34 países da OCDE - as exceções são Japão, Coreia do Sul, México, Chile, Israel, Estônia, Turquia, Holanda, Itália e Islândia. A maioria dos países do grupo já usa listas de profissões em demanda ou "positivas", que estão disponíveis em suas páginas de internet sobre imigração. Outros, como a Polônia, nos enviaram pesquisas de mercado feitas por empresas independentes no país, que foram tratadas como fontes oficiais.
Mas há países que não compilam nem disponibilizam essas informações. Foi o caso, por exemplo, do Chile, que tem um programa e um visto especial para empreendedores estrangeiros que queiram desenvolver projetos no país, mas não especifica profissões. Foi também o caso da Estônia, cujo Ministério de Economia e Comunicações nos enviou uma lista de demanda por profissionais em diferentes áreas até 2019, mas disse ser impossível listar os profissionais procurados em cada área.
Os 25 países da OCDE que tínhamos já forneciam uma representação do interesse por profissionais qualificados no mundo, já que o grupo contém os países que são os maiores "receptores" de imigrantes. Mas para uma pesquisa mais completa dentro dos limites de tempo e recursos disponíveis, era preciso incluir os maiores exportadores de profissionais, como a Índia e a China. Então decidimos buscar informações também sobre os BRICS (sigla Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
No caso desses países, a coleta de dados foi diferente. Somente a África do Sul, a Rússia e as Regiões Administrativas Especiais da China (Hong Kong e Macau) têm políticas específicas para imigrantes altamente qualificados. A África do Sul é o único dos países a manter uma lista de profissões em demanda, e a Rússia esclarece em sua página oficial sobre vistos de trabalho que tem interesse especial em profissionais de tecnologia da informação (TI), cujas condições de entrada no país podem ser facilitadas.
Índia, China e Brasil, até agora, não têm políticas para atrair imigrantes altamente qualificados. Os processos de obtenção de vistos de trabalho nestes casos geralmente são condicionados por uma oferta de emprego no país. No caso da Índia e da China, o foco dos governos ainda é recrutar de volta profissionais nativos que deixaram os países. Já o Brasil, que enfrenta uma crescente demanda por profissionais qualificados, estuda facilitar a entrada desses imigrantes.
As informações sobre o Brasil foram reunidas usando estatísticas oficiais sobre a entrada de profissionais no país em 2012 e uma entrevista com o presidente do Conselho Nacional de Imigração, Paulo Sérgio de Almeida. As informações sobre a Índia foram tiradas de diversos relatórios do governo, mas especialmente do 12º Plano de Cinco Anos 2012-17, produzido pela Comissão Nacional de Planejamento indiana.
Um relatório sobre a oferta e a demanda de força de trabalho em Hong Kong até 2018 forneceu algumas pistas sobre os profissionais que a região mais precisa. Neste caso, pesquisas de mercado feitas por consultorias internacionais também ajudaram a confirmar as previsões do relatório.
Cingapura foi escolhido por ser um país cada vez mais atrativos para profissionais de alta qualificação, de acordo com levantamentos da OCDE. Já que dados oficiais sobre as profissões em demanda no Japão e na Coreia do Sul eram inexistentes, segundo os departamentos de imigração dos países, Cingapura foi incorporado à nossa lista para dar uma perspectiva sobre os países asiáticos.
Comparando profissões
Com a lista de cada país em mãos, o próximo passo era comparar as classificações de ocupações de cada país com o Padrão Internacional de Classificação de Ocupações (ISCO-08), que foi criado pela Organização Internacional do Trabalho para facilitar a comparação entre profissões em todo o mundo. A maior parte dos países usa padrões similares, mas em áreas como TI, mais trabalho foi necessário para garantir que as profissões estavam agrupadas corretamente.
Alguns países fazem suas listas com base em ofertas de emprego muito particulares que estão disponíveis em suas regiões. Por isso, eles são mais específicos sobre o tipo de profissionais que querem (enquanto alguns dizem somente "contadores" outros dirão "auditores de contas"). Por essa razão, era preciso achar algo em comum para agrupar as profissões além da área - por exemplo, a formação acadêmica que permite que alguém se torne um auditor de contas (graduação, mestrado ou doutorado em contabilidade).
O padrão internacional agrupa os profissionais altamente qualificados em três grupos principais que incluem altos executivos, profissionais, profissionais assistentes e técnicos. Os dois primeiros grupos, em particular, são associados com uma formação acadêmica que inclui cursos de pós-graduação.
Há diferentes caminhos para se tornar um profissional e nem todos eles envolvem formações específicas em uma área de atuação. Mas a maioria dos países com listas de profissões em demanda especifica o tipo de diploma exigido dos candidatos. Aqueles que não o fazem, geralmente condicionam o visto de trabalho a ofertas de emprego. Nesses casos, as próprias empresas se encarregam da seleção dos profissionais.
BBC BRASIL

Nenhum comentário:

Postar um comentário