Reportagens sobre os problemas decorrentes da imigração, especialmente
em países desenvolvidos, são muito comuns. No entanto, durante os últimos 20
anos, políticas e leis também foram criadas para facilitar a entrada de alguns
cidadãos estrangeiros que os países consideram "desejáveis". Quem são
os imigrantes que o mundo quer? Essa foi a primeira pergunta deu origem a este
.
Já que diversos países mantêm registros de seus fluxos migratórios,
pareceu inicialmente que seria fácil mapear os movimentos dos profissionais
qualificados - que parecem ter menos dificuldades com as restrições de
fronteiras - de um país a outro.
No entanto, encontramos mais de um obstáculo. O primeiro é que a maioria
dos países não separa os imigrantes altamente qualificados dos demais em seus
registros. A maior parte dos países também não encontraram em seus dados uma
resposta direta a nossa segunda pergunta mais importante: quem está indo para
onde trabalhar em quê?
Os relatórios da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico) se provaram uma fonte consistente de informações gerais sobre o
fluxo de imigrantes e as mudanças nas políticas dos países do grupo - que reúne
34 países - para administrarem suas forças de trabalho estrangeiras.
Os relatórios International Migration Outlook e Connecting with
emigrants: A global profile of diasporas ("Conectando-se com Emigrantes:
Um Perfil Global das Diásporas", em tradução livre) ambos de 2012, foram
as principais fontes sobre o destino de emigrantes. Relatórios de outros anos
também foram consultados para podermos entender as mudanças em algumas
tendências de migração e o fortalecimento de outras.
No entanto, conseguir dados completos sobre os profissionais
qualificados que migram para trabalhar ainda é impossível, mesmo consultando a
base de dados da OCDE. De acordo com o diretor da Divisão de Migração
Internacional da OCDE, Jean-Christophe Dumont, muitas organizações estão
tentando desenvolver bases de dados abrangentes sobre a migração de
profissionais, ainda sem sucesso. O principal obstáculo está nas diferenças
entre os sistemas de cada país para recrutar e administrar seus imigrantes.
Encontrando os dados
Por causa dessa dificuldade, decidimos utilizar as ferramentas
disponíveis para descobrir, então, que tipos de profissionais altamente
qualificados os países dizem querer, seja em listas oficiais de profissões em
demanda ou em dados compilados por órgãos governamentais.
Os governos usam métodos diferentes para organizar estas informações.
Alguns deles estabelecem cotas para imigrantes altamente qualificados com base
no número de profissionais estrangeiros admitidos no país nos anos anteriores,
outros usam listas oficiais de profissões em demanda - revisadas periodicamente
- e outros mecanismos.
Consultando relatórios da OCDE e governos, conseguimos informações sobre
25 dos 34 países da OCDE - as exceções são Japão, Coreia do Sul, México, Chile,
Israel, Estônia, Turquia, Holanda, Itália e Islândia. A maioria dos países do
grupo já usa listas de profissões em demanda ou "positivas", que
estão disponíveis em suas páginas de internet sobre imigração. Outros, como a
Polônia, nos enviaram pesquisas de mercado feitas por empresas independentes no
país, que foram tratadas como fontes oficiais.
Mas há países que não compilam nem disponibilizam essas informações. Foi
o caso, por exemplo, do Chile, que tem um programa e um visto especial para
empreendedores estrangeiros que queiram desenvolver projetos no país, mas não
especifica profissões. Foi também o caso da Estônia, cujo Ministério de
Economia e Comunicações nos enviou uma lista de demanda por profissionais em
diferentes áreas até 2019, mas disse ser impossível listar os profissionais
procurados em cada área.
Os 25 países da OCDE que tínhamos já forneciam uma representação do
interesse por profissionais qualificados no mundo, já que o grupo contém os
países que são os maiores "receptores" de imigrantes. Mas para uma
pesquisa mais completa dentro dos limites de tempo e recursos disponíveis, era
preciso incluir os maiores exportadores de profissionais, como a Índia e a
China. Então decidimos buscar informações também sobre os BRICS (sigla Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul).
No caso desses países, a coleta de dados foi diferente. Somente a África
do Sul, a Rússia e as Regiões Administrativas Especiais da China (Hong Kong e
Macau) têm políticas específicas para imigrantes altamente qualificados. A
África do Sul é o único dos países a manter uma lista de profissões em demanda,
e a Rússia esclarece em sua página oficial sobre vistos de trabalho que tem
interesse especial em profissionais de tecnologia da informação (TI), cujas
condições de entrada no país podem ser facilitadas.
Índia, China e Brasil, até agora, não têm políticas para atrair
imigrantes altamente qualificados. Os processos de obtenção de vistos de
trabalho nestes casos geralmente são condicionados por uma oferta de emprego no
país. No caso da Índia e da China, o foco dos governos ainda é recrutar de
volta profissionais nativos que deixaram os países. Já o Brasil, que enfrenta
uma crescente demanda por profissionais qualificados, estuda facilitar a
entrada desses imigrantes.
As informações sobre o Brasil foram reunidas usando estatísticas
oficiais sobre a entrada de profissionais no país em 2012 e uma entrevista com
o presidente do Conselho Nacional de Imigração, Paulo Sérgio de Almeida. As
informações sobre a Índia foram tiradas de diversos relatórios do governo, mas
especialmente do 12º Plano de Cinco Anos 2012-17, produzido pela Comissão
Nacional de Planejamento indiana.
Um relatório sobre a oferta e a demanda de força de trabalho em Hong
Kong até 2018 forneceu algumas pistas sobre os profissionais que a região mais
precisa. Neste caso, pesquisas de mercado feitas por consultorias
internacionais também ajudaram a confirmar as previsões do relatório.
Cingapura foi escolhido por ser um país cada vez mais atrativos para
profissionais de alta qualificação, de acordo com levantamentos da OCDE. Já que
dados oficiais sobre as profissões em demanda no Japão e na Coreia do Sul eram
inexistentes, segundo os departamentos de imigração dos países, Cingapura foi
incorporado à nossa lista para dar uma perspectiva sobre os países asiáticos.
Comparando profissões
Com a lista de cada país em mãos, o próximo passo era comparar as
classificações de ocupações de cada país com o Padrão Internacional de
Classificação de Ocupações (ISCO-08), que foi criado pela Organização
Internacional do Trabalho para facilitar a comparação entre profissões em todo
o mundo. A maior parte dos países usa padrões similares, mas em áreas como TI,
mais trabalho foi necessário para garantir que as profissões estavam agrupadas
corretamente.
Alguns países fazem suas listas com base em ofertas de emprego muito
particulares que estão disponíveis em suas regiões. Por isso, eles são mais
específicos sobre o tipo de profissionais que querem (enquanto alguns dizem
somente "contadores" outros dirão "auditores de contas").
Por essa razão, era preciso achar algo em comum para agrupar as profissões além
da área - por exemplo, a formação acadêmica que permite que alguém se torne um
auditor de contas (graduação, mestrado ou doutorado em contabilidade).
O padrão internacional agrupa os profissionais altamente qualificados em
três grupos principais que incluem altos executivos, profissionais,
profissionais assistentes e técnicos. Os dois primeiros grupos, em particular,
são associados com uma formação acadêmica que inclui cursos de pós-graduação.
Há diferentes caminhos para se tornar um profissional e nem todos eles
envolvem formações específicas em uma área de atuação. Mas a maioria dos países
com listas de profissões em demanda especifica o tipo de diploma exigido dos
candidatos. Aqueles que não o fazem, geralmente condicionam o visto de trabalho
a ofertas de emprego. Nesses casos, as próprias empresas se encarregam da
seleção dos profissionais.
BBC BRASIL
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