Buenos Aires - Ministros de 18 países encerraram, na capital argentina, a 13ª Conferência Ibero-Americana de Cultura ao assinar um documento em que se comprometem a criar um plano estratégico para reunir empresas governamentais e instituições públicas dedicadas ao financiamento de projetos culturais em seus respectivos países. Além disso, os ministros da região devem impulsionar a criação de um fundo solidário de cooperação cultural que complemente os esforços regionais direcionados ao desenvolvimento do setor. A elaboração desses trabalhos ficou a cargo da Secretaria-Geral Ibero-americana (Segib) e da Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI).
Segundo o ministro brasileiro da Cultura, Juca Ferreira, a conferência de Buenos Aires representou um avanço das relações culturais Ibero-americanas. "Não tivemos aqui nenhuma grande decisão mas, na verdade, o avanço se faz por meio do enfrentamento de nossas diferenças regionais", disse ele à Agência Brasil. "Muitos países latino-americanos estão comemorando o bicentenário de suas independências, o que mostra a relação que ainda têm com a Espanha e seu processo colonizador. O fato principal, no entanto, é que esses países se reconhecem, na sua diversidade e singularidade, como parte de um grande território cultural que é o território ibero-americano".
Ferreira disse que cada país latino-americano recebe a influência de outras identidades culturais. "No caso brasileiro, por exemplo, nós temos forte identidade com a África, a partir dos africanos que foram levados para o nosso país como escravos e, depois, acabaram marcando decisivamente a identidade cultural brasileira. Tudo que fazemos, sentimos e pensamos, todas as nossas criações e valores são muito marcados por nossa origem histórica."
Segundo o ministro, reuniões como a de Buenos Aires muitas vezes não têm a produtividade que seus participantes gostariam, mas elas constroem uma linguagem comum e o reconhecimento de que existe um território ibero-americano. Algumas contradições políticas e ideológicas se manifestam, mas isso é normal, disse ele. "Não há comunidade homogênea nem mesmo em um só país. Quando vários países estão reunidos, é preciso ter paciência, escutar o outro.”
Ferreira disse que a criação do fundo para ajudar o desenvolvimento cultural dos países com menos recursos financeiros está evoluindo lentamente porque a Espanha e Portugal, por exemplo, estão passando por um momento de crise econômica. O Brasil e a Argentina, segundo o ministro da Cultura, estão passando por um bom momento de crescimento econômico, "mas um fundo não pode ser baseado apenas na sua contribuição financeira. É preciso que todos os países ibero-americanos possam contribuir, de acordo com suas possibilidades."
Um problema apontado por Juca Ferreira e que tem relação direta com a cultura dos povos é a imigração que impulsiona as pessoas na direção dos países com maiores oportunidades econômicas. De acordo com o ministro, o Brasil não deve abdicar de sua posição generosa de sempre receber os imigrantes de países vizinhos. "O presidente Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] tem dito que interessa ao Brasil o desenvolvimento e o crescimento dos países vizinhos porque só um continente desenvolvido pode pensar, de fato, numa situação ideal, inclusive a da cultura em si mesma."
De acordo com Ferreira, é preciso ter políticas públicas para a inclusão desses imigrantes na vida nacional, evitando que se desenvolva no Brasil a rejeição que existe em outras partes do mundo como a Europa.
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