Ao longo da história da humanidade, sempre houve movimentos migratórios, por várias razões, nomeadamente desequilíbrios económicos no desenvolvimento das regiões/países, catástrofes naturais, conflitos bélicos, etc. Foi também assim que se fez o (re) povoamento, pós época dos descobrimentos, de todo o continente americano, por exemplo, até como consequências do genocídio perpetrado sobre os indígenas que ali viviam, pelos descobridores e colonizadores.
Saltando para século XX, omitido aqui a imigração europeia para as “Américas”, foi assim que a Franca, a Alemanha e outros países, devastados, económica e demograficamente, pelos efeitos da segunda guerra mundial, recorreram aos excessos demográficos nos países seus vizinhos europeus, para engajarem mão-de-obra que suportasse a reconstrução dos seus países e, desse modo, contribuíram para o “boom económico” e do seu desenvolvimento.
Se bem se lembram os mais velhos, qualquer português que desejasse emigrar para a Alemanha, na década de sessenta, tinha que obedecer a vários requisitos, pois esta, apesar de necessitada de mão-de-obra, praticava uma imigração cuidada e selectiva; receber uma “carta de chamada”, que era emitida pela futura entidade empregadora, mas também era “avalisada” pela existência de um familiar já ali imigrante e que, desse modo, garantiria o apoio familiar ao candidato a imigrar; depois, tinha que submeter-se a exames médicos no consulado e apresentar diversos documentos, entre eles um certificado de registo criminal. Só com esta aprovação, poderia entrar e trabalhar naquele país. Para França, a imigração foi muito diferente e assentou, essencialmente, em movimentos clandestinos: “ir a salto” significava deslocar-se clandestinamente, muitas vezes por montes e vales, para fugir às autoridades fronteiriças. Alem de perigosa, a “aventura” implicava, muitas vezes, pagamentos elevados aos “passadores”. A integração nos países de destino foi pacífica, muito baseada em valores comuns, por exemplo, na mesma raça e na religião, mas também nesta nossa característica portuguesa de sermos “cidadãos do mundo” e em todo lado nos adaptamos e os portugueses estão espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Posteriormente aqueles países, para só citar a Europa, começaram a receber imigrantes de outras raças e origens e têm hoje milhões deles no seu território, incluindo os descendentes ali já nascidos, cujas afinidades, em muitos casos, nem através da língua. No nosso país também tal se verificou e hoje também temos imigrantes de muitas origens, mas com afinidades culturais e linguistas (brasileiros, cabo-verdianos, etc), mesmo que a raça seja diferente da nossa, o que facilita (ria) a sua integração. Como a natalidade nessas comunidades é bastante superior às dos nativos originais, elas não param de crescer e, desse modo, nasceu outro problema mais grave, pois a integração dos descendentes é muito mais problemática e difícil.
Nesta sensível questão da imigração, tem funcionado, essencialmente, e apenas a questão económica, isto é, muito pouco se fez e faz pela integração dos imigrantes na “nação de acolhimento”, tudo isto sob o pretexto das liberdades e dos valores culturais de cada um que aporta a um novo país. Terrível hipocrisia porque, desse modo, cada um alimenta valores e comportamentos que à luz dos nossos até são condenáveis e essa pluralidade, em vez de aproximar afasta as várias nacionalidade e raças existentes num país, criando “guetos” (por cá o erros políticos e urbanísticos já criaram muitos “guetos”nos arredores de Lisboa, Porto e Setúbal, embora estes não sejam apenas habitados por imigrantes e etnias ciganas) que são terríveis barris de pólvora sempre prontos a explodir, muitas vezes alimentado pelos “desenraizados” descendentes dos imigrantes, daqueles que não sentem nem a cultura e a nacionalidade dos países dos seus progenitores nem do país onde já nasceram.
Este “abandono à sua sorte”, por parte das autoridades que, muitas vezes, entendem que atribuindo subsídios estão cumpridas as suas funções (“dar-lhes o peixe ou ensiná-los a pescar?”, evitando que sejam ociosos e dependentes dos subsídios toda a vida - apoiando-os, educando-os, formando-os, etc ; segundo a imprensa, mais de noventa por cento dos portugueses de etnia cigana recebe, subsídios de inserção social e outros benefícios! ) – e esta tem sido a tese das políticas de esquerda aqui e na Europa), e o excesso de “liberdades” (significam estas a não obrigação do cumprimento de regras e valores do país onde vivem e cuja nacionalidades já têm obviamente permitindo-lhes cultivarem e praticarem valores culturais não lesivos aos do país de acolhimento e duma sociedade moderna – é um erro estratégico e cujas consequência se farão sentir num futuro não muito longínquo.
O desequilíbrio económico e social entre países ricos europeus, por um lado, e os enormes “exércitos” de pessoas inactivas e vivendo abaixo do limiar da sobrevivência humana de outros continentes, funciona como forte apelo e desafios á emigração desses países para a Europa (nos USA vs México o problema é ainda mais dramático). Assim, são constante e dramáticas as histórias que nos chegam sobre as misérias daqueles que tentam passar as fronteiras e entrarem no “paraíso”. Se uns vencem as barreiras e conseguem chegar a um mundo “rico” e carecido de mão-de-obra, por força já não do modelo industrial pós guerra, mas essencialmente por força do envelhecimento da população nativa, muito outros sofrem as agruras do desafio e/ou são recambiados á origem. Ambos alimentam as redes de traficantes, tal como citados “passadores” portugueses, mas muito mais desumanas.
Com a abertura da EU a leste, também desses lados das fronteiras começaram a entrar milhares de pessoas e, ao que tudo indica, muitas de etnia cigana. São povos cuja origem rácico e cultural se perde no tempo e no espaço e que vêm à procura das “migalhas dos ricos” e, vivendo nessas e dessas sociedades, nelas não se integram, mantendo, vincadamente, os seus valores culturais, práticas e comportamentos. Culpa deles e/ou das autoridades que governam os países? Veja-se, por exemplo, o que se passa no nosso país onde essa etnia coabita há centenas de anos, mas cujas autoridades a “abandonaram” e, desse modo, mantêm práticas e valores que colidem com os “nossos”, gerando, por isso, sentimentos racistas que explodem em momentos de conflito. Dizem os estudiosos que mais de 80% dos portugueses sofrem de “cigano fobia”. Mas por que será?
Se a maioria dos governantes dos países europeus se limitam a “deixar andar” e escudam-se na hipocrisia dos “direitos individuais” (que são muito bonitos para quem tem a barriga cheia) porque se houver problemas é sempre o cidadão que sofre, o presidente francês Nicolas Sarkozy e o seu governo decidiu atacar o problema da “imigração indigente” (por causa ou efeito da falta duma política de imigração) e está a tentar rever as leis da imigração e da atribuição da nacionalidade francesas, ao mesmo tempo que decidiu expulsar do país todos aqueles que estejam em situação ilegal. Neste momento, os ataques ao presidente francês “chovem” de todos os “defensores dos direitos individuais”, os tais que aboliriam as fronteiras para que todos os que desejassem viessem para a Europa, como se essa fosse a solução do problema da humanidade. Haja pois bom senso e coragem para atacar o problema, que é de todos e não apenas da França, mas que muitos apenas o dizem em surdina e que não fazem o mesmo por cobardia política, mas se tal não for feito, as gerações vindouras não perdoarão aos governantes actuais a falta da adopção de medidas e duma política de imigração correcta e que passa por muitas vertentes, nomeadamente definir quotas e apoiar os imigrantes na sua inserção no pais de destino/acolhimento. Assim se defenderá o futuro da Europa como espaço de coabitação de raças, religiões e culturas e não de grupos de ferozes inimigos dentro da mesma nação que poderá levar alguns países a terem que ser esquartejados em várias nações. Expulsá-los ou integrá-los? Muito mais do que isso é necessário fazer.
Talvez valha a pena conhecer o que faz a Austrália, um país carecido de gente, em termos de imigração e da atribuição da nacionalidade e, nesse caso, Sarkozy não está só. Será que este vai ficar na história, por ser corajoso na abordagem e resolução dum problema e cujos lideres políticos europeus deveriam imitar, implementando uma política da imigração concertada? Ou será que as “leis da EU” só se aplicam àquilo que interessa e as pessoas são consideradas como “objectos”? Haja coragem, porque este é um problema duma Europa “unida” e com reflexos no seu futuro. Está em causa não só o “valor económico e social” dos imigrantes, mas também a sua importância no “repovoamento” duma Europa com a população envelhecida e uma baixa natalidade, mas na qual os valores da coabitação multicultural e de diversas raças sejam pacíficos e tendentes à assunção de valores duma “nação europeia”. Ou não sentem os europeus, que poderão perder os seus valores e liberdades para uma qualquer cultura e religião totalitarista, porque essas não são tolerantes, como é do conhecimento de todos? Valeria a pena pensarmos no risco e perigos que isso representa para o equilíbrio a sobrevivência da Europa.
Serafim Marques
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