A deportação de imigrantes indocumentados que não cometeram crimes acontece no país inteiro. Mas a probabilidade do fato acontecer em New Jersey é muito maior do que em qualquer outro estado. Nem a agência de imigração (ICE) consegue explicar o porquê.
Segundo reportagem do The Star-Ledger, dos 4 mil imigrantes que foram deportados este ano em New Jersey, 64% não tinha cometido crimes. Em se tratando de nível nacional, o número fica um pouco abaixo de 50%. A disparidade leva os defensores dos imigrantes à fúria. O porta-voz do escritório do ICE em Newark (NJ), Harold Ort, não soube dizer o que causa a desigualdade.
Apesar do presidente Barack Obama ter dito ao ICE para priorizar as deportações de imigrantes criminosos, há ainda quem diga que o simples fato de estar no país sem documentos é motivo para ser deportado.
Casos como o do mexicano Faustino Escamilla, 36, que atravessou a fronteira em 1991, ilustram bem a situação. Depois de morar em Norristown (PA) por sete anos, o imigrante mudou-se para Hillsborough (NJ). O imigrante, que no ano passado foi parado no trânsito com uma carteira de motorista suspensa, está em processo de deportação.
“No meu país não há vida, nem para sustentar uma criança”, desabafou ele, que prefere ir para a Costa Rica, onde a esposa nasceu. Faustino se preocupa ainda com os filhos da esposa, uma menina de 19 anos e um menino de 13 anos, os quais considera como seus filhos legítimos. “Estamos tentando dar a eles um futuro. Sou o tipo de pessoa que trabalha duro. Se preciso, trabalho das 6 da manhã às 8 da noite, como tenho feito. Sábados, domingos”.
Deportando trabalhadores
Nativo da Guatemala, Ramon Gonzalez, 34, também entrou no país pela fronteira com o México. Pego numa batida de imigração em 1998, ele foi ordenado a deixar o país dentro de um ano, mas desobedeceu. Quatro anos depois, compareceu à corte de Trenton pela ofensa de desordem. Em julho último, foi preso pelo ICE ao comparecer ao escritório de Marlton. Depois de seis semanas preso no Centro de Detenção de Elizabeth, Ramon foi solto na semana passada, e precisa deixar o país em três semanas.
Pai de dois meninos que teve com a namorada, o imigrante disse que teme voltar para a Guatemala onde, segundo ele, os criminosos focalizam as pessoas que moraram nos Estados Unidos, pois pensam que elas tem dinheiro. “Não sei o que vou fazer se me mandarem para a Guatemala. Não sei o que vai acontecer comigo”, disse ele. As ações do ICE foram defendidas por Harold Ort, mesmo estando consciente de que Ramon não representa perigo para o país.
“Ele tem uma família. Uma casa. Não é um perigo. É um contribuinte para a sociedade. Até pagou impostos”, disse o advogado de Ramon, Steve Traylor.
Em junho último, o secretário assistente do ICE, John Morton, implantou a política de deportação do ICE, a qual prioriza imigrantes que representam perigo para o país. Mas o memorando diz também que o ICE pode prender qualquer imigrante, independente de histórico criminal.
Segundo os advogados de imigração de New Jersey, as audiências de deportação de imigrantes indocumentados que cometeram ofensas menores (não consideradas crimes) está em alta. “Temos ouvido este tipo de preocupação pelo país inteiro, literalmente casos de dirigir sem carteira. Este é um criminoso violento? Não. …Minha expectativa era de que a administração Obama fosse mais inteligente e efetiva no sentido de cumprir a lei”, declarou Gregory Chen, diretor de apoio da Associação Americana dos Advogados de Imigração (AILA).
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