Alunos imigrantes da escola estadual Padre Anchieta no Brás(região central de
São Paulo), pagam "pedágio" aos brasileiros para não apanhar fora da unidade.
A compra da "segurança" foi revelada à Folha por alunos e docentes. A própria direção
da unidade confirma. Para se sentirem seguros, os estrangeiros, principalmentebolivianos, pagam lanches na cantina ou dão aos brasileiros o que têm nos bolsos, mesmo que seja R$1
"Caso contrário, apanham do lado de fora da escola", diz Mário Roberto Queiroz, 49, professor de história e mediador -função criada pela Secretaria da Educação para trabalhar junto à comunidade escolar questões como atos de vandalismo, discriminação e violência.
Um aluno e um ex-aluno da escola, ambos de 16 anos afirmam que os casos ocorrem pelo menos desde 2008 "Eles pedem R$1 ou R$2.Entreguei três vezes. Na quarta , apanhei", conta um deles, que está há 14 anos no Brasil A situação preocupa os pais. O boliviano José Alanaco,
costureiro, prefere levar a filha de 15 anos à escola todos os dias a deixá-Ia ir sozinha. "Tenho medo do que pode acontecer."
DIVERSIDADE
Na Padre Anchieta há 2.421 alunos nos ensinos fundamental e médio. Metade é de imigrantes ou filhos de estrangeiros, diz a direção. Além de bolivianos (a maior parte), há paraguaios ,peruanos, chineses, coreanos, angolanos e nigerianos. Segundo a diretora Maria Luiza Villamar, os bolivianos são os mais discriminados. "Chineses e coreanos têm uma condição financeira melhor, e os africanos fazem a própria segurança andando em grupos", explica.
Maria Luiza diz que todos os casos de violência envolvendo alunos são combatidos e também tratados da mesma forma. "Não separamos as ocorrências para não discriminar os imigrantes:"
Para Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, os casos de discriminação mostram falha no processo pedagógico da escola. ''A instituição deve discutir
mais a diversidade e a tolerância, principalmente devido ao grande contingente de alunos imigrantes", diz.
COMISSÃO
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação informou que uma comissão de supervisores será enviada à escola para analisar os casos de discriminação. A pasta afirmou que, se for constatada omissão da direção, haverá punições. A Embaixada da Bolívia estima que haja aproximadamente 120 mil bolivianos no Brasil, entre regulares e clandestinos. Segundo o MEC
(Ministérioda Educação), em 2009 havia 38.046 imigrantes nas escolas brasileiras de educação básica.
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