A União Europeia que é agraciada com o Nobel da Paz é a mesma que
persegue imigrantes e se militariza cada vez mais, apoia os regimes
reacionários no Oriente Médio e dá mão forte aos sionistas israelenses em sua
política de massacres ao povo palestino
União Europeia (UE)
ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2012. O júri destacou em sua justificativa as
"conquistas" para "o avanço da paz e a reconciliação" na
Europa, assim como para o estabelecimento "da democracia e dos direitos humanos"
no continente.
A UE e as instituições que a precederam em sua
formação "contribuíram durante mais de seis décadas para a paz e a
reconciliação, a democracia e os direitos humanos", disse o presidente do
Comitê Nobel, Thorbjoern Jagland.
"O Nobel da Paz é uma grande honra para
toda a EU, para seus 500 milhões de cidadãos", afirmou o presidente da
Comissão Europeia, o direitista português José Manuel Durão Barroso, em cuja
gestão como primeiro-ministro de Portugal, reuniu-se em 2003 a "Cúpula dos
Açores", que ultimou os preparativos do imperialismo estadunidense e seus
aliados para desencadear a guerra contra o Iraque.
Em 2009, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido ao
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que tinha acabado de se eleger com
promessas de paz. No final de seu mandato, Obama fez uma política externa que
em essência não se diferenciou da do seu antecessor.
O Nobel da Paz premia uma Europa que está
promovendo uma brutal ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, fazendo
cortes em direitos básicos como a educação e a saúde. As políticas
governamentais dos países-membros, todas elas formuladas e impostas desde
Bruxelas, sede da UE, geram o crescimento da pobreza e da desigualdade social,
assim como o estrangulamento e a perda de soberania dos países mais débeis, em
nome dos interesses dos bancos credores e das potências europeias hegemônicas -
a Alemanha e a França.
A União Europeia é cúmplice da chamada
"guerra ao terror", por isso apoiou as agressões à antiga Iugoslávia,
ao Iraque, ao Afeganistão e à Líbia, silencia sobre os ataques feitos com
aviões não tripulados na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão e defende
a intervenção militar na Síria, além de atuar em conjunto com os Estados Unidos
na política de sanções contra o Irã e a Coreia Popular. Igualmente, a União
Europeia é cúmplice do bloqueio a Cuba e está implicada nas intermitentes
provocações à Venezuela bolivariana.
No mesmo dia em que a premiação foi anunciada, o
Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), entidade que integra o
Conselho Mundial da Paz, como membro do Comitê Executivo e coordenador regional
europeu, emitiu nota posicionando-se sobre a decisão, considerando-a "no
mínimo, questionável".
A nota dos pacifistas portugueses assinala que é
necessário recordar "que ao longo das últimas décadas a União Europeia tem
protagonizado um processo de militarização, acelerado desde 1999, após ter tido
um papel crucial no violento desmembramento da Iugoslávia e, posteriormente, na
brutal agressão militar a este país, culminando com o processo de secessão da
Província Sérvia do Kosovo à revelia do direito internacional".
O documento do Conselho Português para a Paz e
Cooperação lembra ainda que desde a Cúpula da Otan realizada em Washington, em 1999, a União Europeia
recebeu a atribuição de constituir-se como pilar europeu deste bloco
político-militar liderado pelos EUA. Segundo o CPPC, "deste então este papel
tem vindo a afirmar-se e a reforçar-se, nomeadamente a partir de 2002 e com a
aprovação do Tratado de Lisboa".
Num claro desmentido do caráter
"pacifista" da UE, o CPPC assinala que este bloco ao longo das
últimas décadas, "tem protagonizado e apoiado todas as agressões militares
da Otan e ou dos seus membros contra a soberania e a independência nacional de
diferentes Estados, como na Iugoslávia, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia ou
agora na Síria, bem como violentos regimes de sanções que atingem duramente os
povos de diversos países".
A entidade portuguesa considera que as posições
e ações protagonizadas pela UE contrariam "os princípios consagrados na
Carta das Nações Unidas - de respeito da soberania dos Estados e da não
ingerência nos seus assuntos internos, antes pelo contrário, promovem uma
crescente e incessante militarização das relações internacionais, sendo
complacente com a violação de direitos humanos, como se verificou, por exemplo,
com os denominados 'voos da CIA' - os seus criminosos sequestros e práticas de
tortura".
A nota do CPPC afirma ainda que "a União
Europeia está longe de cumprir a dita 'missão de propagar paz, a democracia, os
direitos humanos no resto do mundo' que alguns lhe pretendem atribuir, bem pelo
contrário".
A entidade coordenadora do Conselho Mundial da
Paz na Europa destaca que a paz no continente "foi uma conquista dos povos
após a Segunda Guerra Mundial, para a qual foi decisiva a aspiração de paz de
milhões de cidadãos, muitos dos quais ativistas do forte e amplo movimento da
paz que se afirmou e desenvolveu após 1945".
E finaliza demonstrando o paradoxo da atribuição
do Prêmio Nobel da Paz à União Europeia: "A realidade da ação e dos
propósitos enunciados pela União Europeia muito se distanciam dos valores e
princípios proclamados e estabelecidos pela histórica Conferência de Helsinque,
realizada em 1975, como: o respeito da soberania; o não recurso à ameaça ou uso
da força; o respeito pela integridade territorial dos Estados; a resolução
pacífica dos conflitos; a não ingerência nos assuntos internos dos Estados; o
respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais; o direito à
autodeterminação dos povos; e a cooperação entre os Estados - valores e
princípios inscritos na Carta das Nações Unidas".
Por José Reinaldo Carvalho, no blog Resistência:
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