terça-feira, 9 de outubro de 2012

Perfil migratório da América do Sul muda de acordo com crise mundial


O sonho dourado de uma vida melhor entre os emigrantes sul-americanos já não está nos Estados Unidos e na Europa, mas em países vizinhos como Brasil e Chile, o que, junto com o retorno de muitos deles aos seus lares por conta da crise econômica nas nações ricas, estão mudando o perfil migratório da região.
Argentina e Venezuela atraíram trabalhadores estrangeiros durante a década de 1990, mas agora, Brasil e Chile também se transformaram em destinos atrativos por causa de seu dinamismo econômico, disse à Agência Efe em Quito Diego Beltrand, diretor do Escritório Regional da Organização Internacional de Migração (OIM) para a América do Sul.
A região superou sem grandes problemas a crise mundial de 2009 graças, principalmente, ao alto valor das matérias-primas que exporta e à demanda da China, o que a transformou em um destino mais atrativo para a imigração.
Também incentivou a migração intrarregional, a facilitação dos vistos e permissões de trabalho, fruto do processo de integração política na América do Sul, segundo Manuel Talavera, diretor-geral de Comunidades Peruanas no Exterior.
"Há uma construção de uma cidadania sul-americana", disse à Efe Talavera, que participa em Quito de uma conferência sobre migração.
O outro lado da moeda é a situação de países como Espanha e Itália, que sofrem crises profundas, cujos aeroportos já não contam mais a história da chegada de imigrantes, mas sim sua saída.
Seu retorno "não é em massa, mas constante e acumulativo", disse o uruguaio Beltrand.
O número de brasileiros que vivia no exterior e decidiu retornar a seu país praticamente duplicou na última década, até chegar a cerca de 174.600 em 2010, de acordo com os últimos dados do governo.
Nos últimos cinco anos, 1,2 milhão de imigrantes voltaram da Espanha para o seu país de origem, segundo Diego López de Lera - professor da Universidade da Coruña - que, mesmo assim, considera que esse número é inferior ao esperado pela gravidade da crise.
Ao Equador voltaram 60 mil emigrantes nos últimos dez anos, segundo Beltrand. Já no Peru, chegaram 37 mil no ano passado, frente aos 30 mil de 2009, de acordo com Talavera.
Ao mesmo tempo, a emigração desacelerou e assim, no Peru, o pico de 247 mil saídas líquidas em 2009 caiu para 202 mil no ano passado, explicou Talavera à Efe.
Embora não se trate de um retorno em larga escala, a volta de emigrantes apresentou desafios de integração que seus países de origem nunca tiveram que enfrentar.
Muitos deles montaram projetos de amparo, com resultados diversos.
No Peru, que conta com 10% de sua população no exterior, uma lei de 2004 deu facilidades para a criação de negócios aos emigrantes que voltavam, mas só beneficiou 750 pessoas, segundo Talavera.
Por isso, o governo peruano tramita atualmente uma nova lei que amplia o apoio, ao incluir exonerações tributárias, acesso a programas sociais, assessorias e bolsas de estudos, acrescentou.
Em outros países como o Equador, o acesso ao crédito foi facilitado, além da capacitação e de ajuda financeira para a criação de empresas.
López de Lera alertou que uma falta de apoio aos migrantes que retornam pode fazer com que percam o "capital social" acumulado no exterior, como a formação, maneiras alternativas de ver os problemas e as relações com o estrangeiro que podem ser aproveitadas em novos negócios.
Bimal Gosch, professor da Escola Superior de Administração Pública da Colômbia, disse à Efe que esse respaldo deve vir dos países dos quais voltam os emigrantes, dos países de nascimento e do Banco Mundial.
A Espanha conta, por exemplo, com três programas de apoio para o retorno de imigrantes as suas nações, mas apenas 17 mil pessoas foram contempladas, segundo López de Lera, que criticou os requisitos exigidos para fazer parte dos programas.
O retorno de alguns latino-americanos aos seus países de origem não teve em geral um grande impacto nas remessas de dinheiro, cujo volume subiu para 6% em 2011, chegando aos US$ 61 bilhões, um número similar ao do período anterior a 2009, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O fluxo com origem nos Estados Unidos se recuperou, mas o dinheiro enviado da Espanha reduziu notavelmente devido à crise econômica, segundo essa entidade. EFE

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