O sonho dourado
de uma vida melhor entre os emigrantes sul-americanos já não está nos Estados
Unidos e na Europa, mas em países vizinhos como Brasil e Chile, o que, junto
com o retorno de muitos deles aos seus lares por conta da crise econômica nas
nações ricas, estão mudando o perfil migratório da região.
Argentina e Venezuela atraíram
trabalhadores estrangeiros durante a década de 1990, mas agora, Brasil e Chile
também se transformaram em destinos atrativos por causa de seu dinamismo
econômico, disse à Agência Efe em Quito Diego Beltrand, diretor do Escritório
Regional da Organização Internacional de Migração (OIM) para a América do Sul.
A região superou sem grandes problemas a
crise mundial de 2009 graças, principalmente, ao alto valor das matérias-primas
que exporta e à demanda da China, o que a transformou em um destino mais
atrativo para a imigração.
Também incentivou a migração
intrarregional, a facilitação dos vistos e permissões de trabalho, fruto do
processo de integração política na América do Sul, segundo Manuel Talavera,
diretor-geral de Comunidades Peruanas no Exterior.
"Há uma construção de uma cidadania
sul-americana", disse à Efe Talavera, que participa em Quito de uma conferência
sobre migração.
O outro lado da moeda é a situação de
países como Espanha e Itália, que sofrem crises profundas, cujos aeroportos já
não contam mais a história da chegada de imigrantes, mas sim sua saída.
Seu retorno "não é em massa, mas
constante e acumulativo", disse o uruguaio Beltrand.
O número de brasileiros que vivia no
exterior e decidiu retornar a seu país praticamente duplicou na última década,
até chegar a cerca de 174.600 em 2010, de acordo com os últimos dados do
governo.
Nos últimos cinco anos, 1,2 milhão de
imigrantes voltaram da Espanha para o seu país de origem, segundo Diego López
de Lera - professor da Universidade da Coruña - que, mesmo assim, considera que
esse número é inferior ao esperado pela gravidade da crise.
Ao Equador voltaram 60 mil emigrantes nos
últimos dez anos, segundo Beltrand. Já no Peru, chegaram 37 mil no ano passado,
frente aos 30 mil de 2009, de acordo com Talavera.
Ao mesmo tempo, a emigração desacelerou e
assim, no Peru, o pico de 247 mil saídas líquidas em 2009 caiu para 202 mil no
ano passado, explicou Talavera à Efe.
Embora não se trate de um retorno em
larga escala, a volta de emigrantes apresentou desafios de integração que seus
países de origem nunca tiveram que enfrentar.
Muitos deles montaram projetos de amparo,
com resultados diversos.
No Peru, que conta com 10% de sua
população no exterior, uma lei de 2004 deu facilidades para a criação de
negócios aos emigrantes que voltavam, mas só beneficiou 750 pessoas, segundo
Talavera.
Por isso, o governo peruano tramita
atualmente uma nova lei que amplia o apoio, ao incluir exonerações tributárias,
acesso a programas sociais, assessorias e bolsas de estudos, acrescentou.
Em outros países como o Equador, o acesso
ao crédito foi facilitado, além da capacitação e de ajuda financeira para a
criação de empresas.
López de Lera alertou que uma falta de
apoio aos migrantes que retornam pode fazer com que percam o "capital
social" acumulado no exterior, como a formação, maneiras alternativas de
ver os problemas e as relações com o estrangeiro que podem ser aproveitadas em
novos negócios.
Bimal Gosch, professor da Escola Superior
de Administração Pública da Colômbia, disse à Efe que esse respaldo deve vir
dos países dos quais voltam os emigrantes, dos países de nascimento e do Banco
Mundial.
A Espanha conta, por exemplo, com três
programas de apoio para o retorno de imigrantes as suas nações, mas apenas 17
mil pessoas foram contempladas, segundo López de Lera, que criticou os
requisitos exigidos para fazer parte dos programas.
O retorno de alguns latino-americanos aos
seus países de origem não teve em geral um grande impacto nas remessas de
dinheiro, cujo volume subiu para 6% em 2011, chegando aos US$ 61 bilhões, um
número similar ao do período anterior a 2009, segundo o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID).
O fluxo com origem nos Estados Unidos se
recuperou, mas o dinheiro enviado da Espanha reduziu notavelmente devido à
crise econômica, segundo essa entidade. EFE
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