terça-feira, 2 de outubro de 2012

Alto Comissário do ACNUR afirma que crises humanitárias atingiram o pior nível da história recente


O chefe da Agência da ONU para Refugiados, Antonio Guterres, alertou  que o ACNUR e diversos atores humanitários estão num momento de grande tensão devido ao surgimento de sérios conflitos ao mesmo tempo em que outros permanecem sem solução.
Em seu discurso de abertura no encontro anual do Comitê Executivo do ACNUR (ExCom, na sigla em ingles), em Genebra, Guterres disse que o ACNUR enfrenta hoje o período mais grave de crises de refugiados da história recente, com simultâneas novas emergências na Síria, Mali, Sudão, Sudão do Sul e República Democrática do Congo (RDC).
"Em 2011, mais de 800 mil pessoas foram obrigadas a cruzar fronteiras em busca de refúgio – uma média de 2 mil refugiados por dia. Foi mais do que em qualquer outro momento da última década”, disse Guterres. “E neste ano, mais de 700 mil pessoas já deixaram o Mali, RDC, Sudão e Síria”.
Segundo o Alto Comissário, a capacidade do ACNUR está sendo “radicalmente testada”. Ele agradeceu aos países que têm mantido suas fronteiras abertas aos refugiados e também aos doadores que, apesar da crise econômica global, continuam prestando generoso e fundamental apoio financeiro.
No entanto, o Alto Comissário disse que os custos de proteger cerca de 42 milhões de pessoas em todo o mundo estão aumentando rapidamente com a continuidade das situações que forçam o deslocamento – como no Afeganistão e na Somália.
"Cresce a demanda pelo trabalho do ACNUR, mas os meios mantém-se ao nível do ano passado. As operações na África, em particular, estão dramaticamente sem recursos", disse Guterres. "Neste momento, não temos como lidar com imprevistos, estamos sem reservas. O cenário mundial é imprevisível, o que é muito preocupante", afirmou ele.
Na tentativa de driblar a situação, o ACNUR promoveu cortes em diversas áreas, uma delas foi a reposição de itens não-essenciais. No que se refere a doações voluntárias, a agência está buscando recursos de fontes não-tradicionais, como o setor privado. Alto Comissário desde 2005, Guterres afirmou que é preciso manter o apoio aos países que abrigam refugiados – majoritariamente nações em desenvolvimento. Ele também frisou a importância das parcerias com outros atores humanitários, incluindo organizações não-governamentais (ONGs) em países e regiões com grandes populações deslocadas.

 Segundo o Alto Comissário, enquanto solucionar um conflito exije decisões políticas, as organizações humanitárias devem se focar na perspectiva da paz, por meio do ativismo e do incentivo ao desenvolvimento de condições de subsistência, educação e atividades que aumentam a autoconfiança das populações refugiadas.
"A maioria das pessoas que deixou a Costa do Marfim no ano passado já voltou para casa. Espero que os avanços em Myanmar pavimentem a resolução do conflito e possibilitem o retorno dos milhares de refugiados que estão na Tailândia e demais países da região", disse Guterres. “Espero realmente que o próximo ano seja uma oportunidade para os somalis e nos permita influenciar nas decisões como nunca antes."
Formado por 87 membros, o ExCom se encontra anualmente em Genebra para rever e aprovar o programa e o orçamento do ACNUR, assim como direcionar a proteção internacional e discutir uma extensa gama de temas que envolvem a Agência, parceiros intergovernamentais e não-governamentais.
O encontro deste ano vai até sexta-feira e é presidido por Jan Knutsson, representante permanente da Suécia para as Nações Unidas. O evento discutirá diversos temas, incluindo a proteção para refugiados e deslocados internos, além da situação dos milhões de apátridas no mundo.
Guterres reconheceu os progressos alcançados desde o ano passado em aumentar o número de países signatários das principais convenções sobre apatridia. Ele exortou os países a acabar com a apatridia na próxima década.
Sobre os deslocados em todo o mundo, Guterres pediu que os membros do ExCom façam ainda mais: "Vivemos tempos perigosos, num mundo imprevisível. Cada vez mais pessoas são obrigadas a buscar refúgio", disse. "Convoco os membros do ExCom a renovar seu comprometimento coletivo contribuindo com a assistência a todos aqueles que estão longe de casa e de suas comunidades enquanto persistirem as crises de hoje e amanhã.”
 Acnur

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