A crise obrigou mais de 100 mil europeus a
deixarem o Velho Continente entre 2008 e 2009, no auge da recessão, para buscar
empregos na América Latina. Apenas a partir do Brasil, esses novos estrangeiros
estão agora enviando a suas famílias cerca de US$ 1 bilhão por ano, para ajudar
na renda e a pagar dívidas que deixaram para trás.
Os dados fazem parte do mais amplo estudo já
realizado sobre o fluxo migratório europeu na América Latina desde a eclosão da
crise. Segundo a Organização Internacional de Migrações (OIM), o principal
destino foi o Brasil, que, pela primeira vez desde 1960, viu o número de
imigrantes europeus aumentar.
Na avaliação da pesquisa, os europeus chegaram
com um propósito bastante claro: encontrar um trabalho. Em 2010, imigrantes
europeus trabalhando na América Latina enviaram quase US$ 4,5 bilhões a seus
países de origem, uma prática que até pouco tempo caracterizava a presença dos
latino-americanos na Europa: trabalhar, economizar e mandar dinheiro para a
família.
Brasil. A principal origem desse dinheiro foi
o Brasil. Em 2010, quase US$ 1 bilhão voltou para a Europa. Dois terços desse
dinheiro foram para Portugal e Espanha. No mesmo período, os brasileiros que
vivem na Europa destinaram US$ 1,3 bilhão ao Brasil. Para a OIM, esse dado revela
que hoje a relação está bastante equilibrada em termos de migração.
No total, latino-americanos que vivem na
Europa enviaram a seus países de origem cerca de US$ 7,2 bilhões. Ou seja, de
cada US$ 1,5 enviado por um latino-americano na Europa, o imigrante europeu
mandou US$ 1 de volta ao Velho Continente. Com a crise, a chegada de recursos
na América Latina sofreu um tombo de 12%, a maior queda em remessas do mundo.
Mas a principal constatação foi a chegada dos
europeus à América Latina. Vivendo a pior crise desde a 2.ª Guerra Mundial, a
Europa pena para criar postos de trabalho e vê salários despencarem. Os
espanhóis lideraram o êxodo no auge da crise, com 47,7 mil oficialmente
deixando o país em busca de oportunidades na América Latina.
O perfil desses novos imigrantes é também
bastante diferente do que se conhecia tradicionalmente no fluxo de
trabalhadores. Grande parte dos 100 mil europeus eram portugueses e espanhóis,
solteiros e com nível universitário completo.
A entidade fez o levantamento até o fim de
2009, ano da maior queda no PIB mundial em mais de 60 anos. Mas os próprios
autores admitem que o volume de imigrantes europeus continuou a aumentar entre
2010 e 2012, principalmente ante a taxa recorde de desemprego em Portugal,
Grécia, Espanha e Itália.
Aumento. No Brasil, os dados mostram pela
primeira vez em 50 anos um aumento no número de estrangeiros. Em 1960 viviam
oficialmente 949 mil europeus no País. Essa taxa caiu para apenas 338 mil no
ano 2000. Em 2010, eram 374 mil, 80% deles de Portugal, Espanha e Itália.
Para a OIM, muitos vieram para
"aproveitar o crescimento econômico" do Brasil. "Destaca-se em
especial o caso da imigração ao Brasil de especialistas em engenharia civil e
arquitetura, setores onde existe forte demanda devido aos preparativos para a
Copa do Mundo e Jogos Olímpicos", indicou o estudo. Além de portugueses, a
agência de recrutamento Monster estima que 56 mil franceses, 33 mil italianos e
32 mil espanhóis estejam buscando trabalho no Brasil.
Equilíbrio. Com a chegada dos estrangeiros, o
número de europeus no Brasil se aproxima ao número de brasileiros na Europa,
443 mil. Isso porque outra marca do novo momento é a queda brutal da chegada de
brasileiros e latino-americanos na Europa. Em 2006, antes da crise, 400 mil
latino-americanos desembarcaram nos países europeus. Em 2009, esse número caiu
pela metade. Na prática, a entrada de latino-americanos em 2010 foi similar à
de dez anos antes.
Entre 2003 e 2007, cerca de 93 mil brasileiros
migraram anualmente para a Europa. A partir de 2008, esse número caiu em 30%. O
número de brasileiros vivendo irregularmente e detidos na Europa também desabou
em 130%, passando de 32 mil em 2008 para 14 mil em 2010.
De fato, depois de ver a imigração crescer 9%
ao ano por uma década, a Europa apresentou uma queda de 5% em 2008 e outros 34%
em 2009.
O resultado é que, hoje, 13 países europeus já
têm uma saída maior de seus nacionais que a entrada de estrangeiros. Entre eles
estão Portugal e Irlanda, países que foram alguns dos destinos preferidos dos
brasileiros. Entre 2008 e 2010,
a Europa deu 100 mil vistos de residência a menos para
latino-americanos.
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