segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Imigração cresce em MT


Refugiados políticos e famílias que perderam tudo devido a desastres naturais fizeram o número aumentar 218%

O farmacêutico Annous Saint-Fleur tinha casa, carro e um pequeno negócio em seu ramo de atividade em Gonaizes, cidade próxima da capital Porto Príncipe, no Haiti. Até que, às 16h53 do dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto devastador destruiu a capital e levou junto a economia do país, lançando sua vida em uma dolorosa estaca zero. 

“A situação do país, que já não era boa, virou um desespero, sem emprego, sem saída. Tentamos, mas chegou a um ponto que não dava mais para nós. Conversei com a minha mulher e decidimos ir embora”, relembra. 

Casado com Wislene Darius, e com uma filha de quatro anos, Keyna, ele reuniu o que tinha e comprou passagens para a vizinha República Dominicana. De lá, seguiu um roteiro que passou pelo Equador e atravessou o território peruano até a fronteira com o Brasil. 

Em Epitaciolândia (AC), protocolou um pedido de refúgio humanitário na Polícia Federal e recebeu autorização e documentos para ingressar no país. As notícias positivas sobre a economia brasileira e as obras da Copa e das Olimpíadas, segundo ele, foram o chamariz. 

“No Haiti, nos disseram que o Brasil era o melhor para nós, porque tinha muito trabalho. Nossa primeira tentativa foi em Porto Velho (RO). Trabalhei por quatro meses na construção civil, mas a vida lá é muito cara. O aluguel de um quarto é R$ 400. Seguimos em frente", diz. 

Saint-Fleur desembarcou há 15 dias em Cuiabá. Trouxe consigo a mulher, grávida de cinco meses, a filha e quase nada além das roupas do corpo. Por indicação de amigos, procurou o centro de apoio mantido pela Pastoral do Migrante, no bairro do Carumbé, onde recebeu abrigo, alimentação e indicações para conseguir trabalho. 

Trajetórias como esta são cada vez mais frequentes. Em 2011, de acordo com os registros da pastoral, 16 estrangeiros de diversas nacionalidades procuraram a ajuda do centro em Cuiabá. Neste ano, até o mês de julho, foram 51 os atendidos, um salto de 218% no período. 

“Até 2010, o número de estrangeiros que recebíamos era inexpressivo. A maioria do fluxo era mesmo de migrantes internos, de outros Estados. Então essa realidade começou a mudar rapidamente”, relata a coordenadora do centro, Eliana Aparecida Vitaliano. 

Segundo ela, a maioria dos atendidos neste ano (30) é proveniente do Haiti. “A reconstrução do país é lenta e não há perspectiva de trabalho por lá. Eles chegam ao Brasil sem nenhuma estrutura, muitas vezes iludidos por promessas de salários altos. De qualquer maneira, em poucos dias conseguem trabalho.” 

Segundo ela, os haitianos se identificam com o clima da cidade e são considerados bons trabalhadores. “Eles vêm para trabalhar mesmo, até porque precisam mandar dinheiro para o restante da família que ficou no Haiti. Do que conseguem, o que fica para eles é muito pouco”. 

RODRIGO VARGAS

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