Um crescente
contingente de europeus, com boa formação e até certa estabilidade financeira,
tem aportado no Brasil de olho no potencial de crescimento do País. Aflitos com
a falta de perspectivas do velho continente, chegam a procurar cidadãos
brasileiros com quem se casar só para acelerar a emissão do visto permanente. O
golpe, se descoberto, pode render cinco anos de prisão, tanto para o imigrante
quanto para o brasileiro. É um risco e tanto, mas, dada a situação na Europa, a
opção pode parecer perigosamente atraente. Números da mais recente pesquisa da
Eurostat, agência oficial de estatísticas da região, dão a dimensão do
problema. Eles mostram, por exemplo, que a taxa de desemprego média da região é
de 11,1%, com picos de 24,6% em países como a Espanha e 21,9% na Grécia. Entre
os jovens a situação é ainda pior. Na Espanha, 52,1% dos cidadãos com até 25
anos de idade estão desempregados, enquanto a média continental nessa faixa
etária é de 22,1%.
O espanhol Claudi Carreras Guillén, natural de Barcelona,
desembarcou no Brasil na semana passada. Não era sua primeira vez no País. Como
produtor cultural e professor universitário, o catalão já havia estado por aqui
em diversas ocasiões para produzir workshops e exposições. Mas, desta vez,
Guillén veio para ficar. Há um mês ele começou um curso intensivo para afiar o
português, comprou uma passagem e desembarcou com a ideia de se instalar no
País. "Enquanto na Espanha perdemos apoio político e empresarial, no
Brasil a situação se parece, em muito, com a que se encontrava na Espanha há
uma década", afirma Guillén sobre a pujança dos anos 2000. Como poucos
espanhóis, ele ainda tem projetos em andamento lá e poderia permanecer no país,
mas para alguém que quer ver o próprio negócio crescer e não apenas sobreviver,
reconhece que o Brasil oferece perspectivas sensivelmente melhores.
O interesse, não só
dos espanhóis, mas de europeus em geral pelo Brasil, já aparece nas
estatísticas sobre a imigração no País. Segundo dados do Ministério da Justiça,
hoje há cerca de 1,5 milhão de imigrantes vivendo legalmente no Brasil, uma
alta de 60% em relação aos registros de dois anos atrás.
O que não quer dizer que o fluxo de imigrantes diminuiu.
Alguns dos que tentam o caminho legal para a regularização e não a conseguem
estão recorrendo ao mercado paralelo de legalização. E uma das formas mais
comuns de obtê-la é o casamento de fachada com brasileiros ou brasileiras. Os
casos são mais comuns do que se imagina. Em entrevista ao jornal espanhol
"El Pais", Luis, um publicitário espanhol de 36 anos, admitiu ter
pago para se casar com uma mulher que conhecia apenas por meio da rede social
Facebook para receber o visto de residente. Em um ano, se ele resistir às
constantes vistorias da Polícia Federal, que acompanha casamentos entre
brasileiros e estrangeiros para coibir fraudes como a que ele comete, o
publicitário terá o visto permanente e estará livre para viver como um
brasileiro. "Tenho um pouco de medo, mas sei de três alemães no Rio de
Janeiro e um americano em
São Paulo que fizeram o mesmo e deu tudo certo",
afirmou. Trata-se de uma inversão de papéis patrocinada pela crise europeia e
pelo boom dos países em
desenvolvimento. Ela ainda surpreende, mas com o tempo, se as
tendências econômicas se mantiverem, será cada vez mais comum ver os filhos de
nações desenvolvidas buscando os nativos dos poucos países que ainda têm
perspectivas de crescimento, como o Brasil.
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