Paloma Vidal e Teju Cole foram os
participantes da mesa Exílio e flanêrie
na Festa Literária Internacional de Paraty
(Flip), na tarde desta sexta-feira (6). Ambos imigrantes, os autores
descreveram a experiência de aprisionamento que o passado causa em suas obras.
Paloma ainda leu um trecho de seu inédito romance Mar Azul, que será lançado em setembro.
Apesar de radicada no Brasil
desde os dois anos, Paloma, que nasceu na Argentina, disse que não se considera
mais brasileira do que argentina. Embora soe estranho, faz sentido dentro de
sua literatura esse sentimento de deslocamento. Para ela, sua obra é uma
indagação literária sobre se sentir estrangeiro e “entre lugares”.
“As vivências e o contexto histórico, às
vezes, são muito semelhantes e isso se transforma em experiências diferentes:
de liberdade, de perda”, disse. “As pessoas me perguntam: 'você veio para cá
com dois anos então você já se considera mais brasileira que argentina, né?'.
Mas não é, porque para mim tem uma divisão entre ser brasileira e argentina”.
Teju Cole concordou com a
escritora, acrescentando que, ao se morar em um novo ambiente, surge a
descrição como forma de entender o novo local.
“O lugar novo precisa ser
descrito, porque não foi articulado por você anteriormente”, refletiu o
nigeriano radicado em Nova York.
A cidade onde vive atualmente foi
o motor do romance elogiado pela crítica norte-americana Cidade Aberta.
Cole contou que o flanêrie – o ato de caminhar pela cidade, muito comum na
literatura desde o século XIX – em Nova York ganha um novo sentido, por se
tratar de uma capital mundial, onde, segundo ele, existem “cidades dentro de
cidades”.
O nigeriano também analisou que,
assim como o ambiente, a noção de tempo e responsabilidade em relação ao lar é
tratada de forma diferente pelos migrantes,
“Se você não tem o consolo do
lar, você não tem a responsabilidade do lar. Assim, você pode chegar do
trabalho e perambular pela cidade, ou desperdiçar o seu tempo à vontade”,
defendeu.
Eles revelaram que amam as
cidades estrangeiras onde viveram e nas quais ambientaram suas obras. Paloma
escreveu o romance Algum Lugar, cuja trama se passa em Los Angeles, onde
ela viveu durante alguns anos. Cole experimentou a mesma sensação.
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