O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR)
anunciou a entrada em vigor cláusula de cessação para refugiados de Angola e da
Libéria. A cláusula está em vigor desde o último dia 30 de junho, e foi adotada
pelo ACNUR com base na paz e na estabilidade alcançada naqueles dois países
após sangrentas guerras civis.
Em
Angola, a guerra civil encerrada em 2002 gerou cerca de 4 milhões de deslocados
internos e levou outras 600 mil pessoas a buscar refúgio em países vizinhos e
até mesmo em outros continentes, como no caso dos refugiados angolanos no
Brasil. Na Libéria, duas guerras civis – entre 1989 e 2003 – causaram muita
destruição e a morte de mais de 250 mil pessoas, forçando outras 750 mil a
buscar abrigo dentro do próprio país ou mesmo no exterior.
"A
entrada em vigor desta cláusula de cessação significa que os nacionais de
Angola e da Libéria que permanecerem no exterior não devem mais ser
considerados refugiados pelo ACNUR e pelos governos que os acolheram",
explicou o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, em Genebra. "Estamos
trabalhando com os governos em busca de soluções para refugiados que desejam
voltar para casa ou permanecer nos países de refúgio devido aos laços criados.
O processo de repatriação voluntária continuará a ser assistido, mas também
serão discutidas possibilidades de integração local e alternativas
legais", acrescentou Edwards.
A
medida anunciada se aplica aos angolanos que deixaram o país durante a guerra
da independência com Portugal (1965/1975) e a subsequente guerra civil que
terminou em 2002. No caso da Libéria, a medida é válida para todos que deixaram
o país durante as duas guerras civis de 1989 e 2003.
Impacto no Brasil – A medida, que
encerra duas das mais prolongadas situação de refúgio na África, deverá
impactar o perfil do refúgio no Brasil, onde cerca de 40% da população
refugiada é originária desses dois países. Segundo estatísticas atualizadas
pelo Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) em março deste ano, vivem no país
atualmente cerca de 4.500 refugiados de mais de 70 nacionalidades diferentes.
Deste
total, aproximadamente 37,5% são de origem angolana, enquanto outros 5,7%
vieram da Libéria. Os refugiados angolanos representam o maior grupo, seguidos
pelos que vieram da Colômbia (14,6% do total) e da República Democrática do
Congo (10,5%). A Libéria está em quarto lugar, à frente do Iraque (com 4,6% do
total de refugiados reconhecidos pelo governo brasileiro).
No
Brasil, a questão já foi apresentada pelo ACNUR ao CONARE, órgão
interministerial que funciona sob a coordenação do Ministério da Justiça e que
está analisando a situação destes refugiados. Entre as opções consideradas
estão a repatriação voluntária, a concessão de residência permanente a estas
pessoas ou mesmo a naturalização – caso seja solicitada, conforme a legislação em vigor. Estima-se
que a grande maioria dos refugiados angolanos que vivem no Brasil está no país
há mais de 15 anos, tendo portanto direito a solicitar a naturalização –
conforme o artigo 12 da Constituição Brasileira.
Em
2007, o ACNUR lançou uma campanha de repatriação voluntária para os refugiados
angolanos, com resultados pouco significativos. À época, considerou-se que os
laços sociais destes refugiados com a população brasileira foram mais fortes
que o desejo de retornar a seus países de origem.
Mesmo
assim, qualquer refugiado destas duas nacionalidades que quiser ser repatriado
voluntariamente deve procurar o ACNUR para obter informações sobre este
procedimento. Os que temem voltar à Libéria ou a Angola por questões de
segurança podem pedir isenção da cláusula. Se aprovada pelas autoridades do
país de acolhimento, o estatuto de refugiado será mantido.
Repatriação e integração local – O porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, informou que os
programas de repatriação voluntária têm beneficiado milhares de cidadãos
angolanos e liberianos que estavam refugiados e decidiram retornar para casa.
No
ano passado, o ACNUR e o governo de Angola lançaram um novo programa de
repatriação para angolanos refugiados em países vizinhos. "Cerca de 23 mil
refugiados regressaram desde o início do programa, incluindo mais de 17 mil
vindos do oeste e sudeste da República Democrática do Congo (RDC)", disse
Edwards. Um último comboio vindo deste país deixou Kinshasa, capital congolesa,
com mais de mil pessoas e chegou em Angola na sexta-feira passada.
A
repatriação de Angolanos também acontece em países como Namíbia, Zâmbia e
Botswana. Outros 26 mil refugiados angolanos já confirmaram sua intenção de
deixar a RDC, e o ACNUR continuará a prestar assistência a essas pessoas.
No
caso da Libéria, o programa de repatriação foi lançado em 2004. Desde então, o
ACNUR apoiou o retorno de 135 mil pessoas, incluindo mais de 8,5 mil só neste
ano. Este total foi o maior registrado em comparação aos anos anteriores de
2010 (1.278) e 2011 (1.762).
Outros
16.641 refugiados liberianos estão registrados para a repatriação, que será
feita pelo ACNUR nas próximas semanas. Os refugiados regressam por via aérea ou
terrestre e estão saindo, principalmente, da Costa do Marfim, Gana, Guiné e
Nigéria. Grupos menores voltam também da Gâmbia, Guiné-Bissau, Mali, Senegal e
Serra Leoa.
Os
refugiados retornados à Libéria e a Angola contam com o apoio do ACNUR em
projetos destinados a facilitar sua reintegração em seus países de origem. O
apoio envolve doações em dinheiro e programas de formação profissional.
Nos
países onde os refugiados se encontram atualmente, o ACNUR também apoia a
integração dos refugiados por meio de projetos de subsistência e formação, além
de garantir o acesso a deles a serviços públicos de educação e saúde. No caso
do Brasil, a grande maioria destes refugiados já não se encontra sob
assistência do ACNUR ou dos seus parceiros, pois estão avançados no seu
processo de integração local.
Por:
ACNUR
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