Fechar as portas do Mediterrâneo e impedir acesso
ao sistema de Segurança Social são as preocupações dos políticos europeus.
Desde quarta-feira, romenos e búlgaros podem trabalhar livremente em
todos os restantes países da União Europeia. Acabaram-se as restrições no
acesso ao espaço Schengen aos cidadãos dos dois países mais pobres da UE. E
desataram-se em pleno as tentativas para restringir os seus movimentos em
países onde há forças políticas que mais incomodadas se sentem pela imigração,
como a CSU bávara, o partido mais pequeno da coligação governamental alemã, ou
os conservadores britânicos.
Nos dias que correm, a imigração é algo que se quer manter à distância
do núcleo da Europa. Os países de fronteira, onde chegam os imigrantes – em
fuga de guerras, como os sírios, em fuga das várias formas de miséria, como em tantos
países – pedem ajuda. Mas a atitude geral nos Vinte e Oito é tentar olhar para
o lado ou encontrar formas de mandar para trás os que procuram um futuro na
Europa.
No Reino Unido, o Governo de David Cameron está em guerra contra os imigrantes que, considera, vêm para as ilhas britânicas abusar dos benefícios
sociais – o sistema de saúde, o subsídio de desemprego. Na Alemanha, passa-se o
mesmo: os democratas-cristãos da Baviera apresentaram uma proposta para restringir o acesso aos pagamentos
da Segurança Social germânica por
parte de cidadãos de outros países comunitários que acabem de se estabelecer no
país – uma ideia que está a acender as tensões entre a CSU e o seu
partido-gémeo, a CDU de Angela Merkel, e o seu parceiro de coligação, o
SPD.
O alvo destas propostas são búlgaros e romenos que, após 1 de
Janeiro, passaram a poder trabalhar em qualquer país da UE. Na última cimeira
europeia, a 19 e 20 de Dezembro, o primeiro-ministro britânico David Cameron
defendeu mesmo que se devem fazer mudanças num dos direitos fundamentais da União Europeia,
o direito da livre circulação dos cidadãos, para
controlar aquilo que chama “movimentos de massas”.
No Reino Unido há uma forte pressão do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), nacionalista e populista, para trazer este tema à baila, por causa
das eleições europeias de Maio de 2015, com sondagens a dizer que o UKIP baterá
os tories de Cameron. Mas noutros países há quem torça também
cada vez mais o nariz à imigração e ao que chamam “abusos” dos benefícios da
Segurança Social, como a Holanda, Áustria e Alemanha.
A Bulgária, país de origem desses supostos “abusadores”, reage com
indignação. “Os búlgaros não são os mendigos do Reino Unido”, atirou o chefe da
diplomacia búlgaro, Kristian Viguenin. “Não exploram o sistema social,
contribuem mais do que recebem”, afirmou, citado pela AFP. Os estudos corroboram:
uma investigação do University College
de Londres mostrou que os imigrantes que chegaram ao Reino Unido a partir de
1999 têm pago mais impostos do que recebido benefícios.
No entanto, Roménia e Bulgária têm sofrido com a emigração: dois milhões
de romenos e um milhão de búlgaros emigraram nos últimos 20 anos, por falta de
perspectivas em casa. Muita dessa imigração é altamente qualificada. “Desde
1990, mais de 21 mil médicos romenos foram trabalhar para o estrangeiro”, disse
à agência AFP Vasile Astarastoae, presidente da Ordem dos Médicos romena. Só
nos últimos dois anos, há menos 30% de médicos naquele país. “Em alguns
hospitais, não há um único anestesista a tempo inteiro.”
Os países da UE acordaram uma estratégia apenas em relação à
imigração vinda fora da Europa, que é tentar por todos os meios impedir as
perigosas travessias do Mediterrâneo, pelas quais os imigrantes pagam fortunas
a traficantes, e nas quais tantos perdem a vida. A estratégia é reforçar
fronteiras e vigilância. Nenhuma das medidas humanitárias propostas pela
Comissão Europeia, como entradas protegidas de imigrantes para iniciarem o
processo de pedido de asilo fora da UE, sobreviveram na cimeira de Dezembro,
onde foram discutidas medidas para lutar contra os dramas da imigração ilegal.
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