Segundo Félix Neto, a aculturação tem sido muitas vezes utilizada com o sentido de assimilação, o que pressupõe que a pessoa em aculturação perde, inevitavelmente, a sua cultura de origem e é absorvida na sociedade receptora. Uma das consequências mais frequentemente referidas da aculturação é a desintegração social e a crise pessoal. As pessoas podem sentir-se perdidas na mudança, dado que, muitas vezes, desaparecem as normas culturais antigas.
Em África, a língua de comunicação é um dos mais fortes componentes culturais, que, de geração em geração, transmite valores, formas de pensar e de agir, toda uma filosofia de vida. Ao nível do grupo, os antigos padrões de autoridade podem deixar de funcionar e ao nível do indivíduo pode surgir a incerteza, a confusão de identidade, a depressão, a solidão. O stress de aculturação, constitui o lado negativo da assimilação, que, mesmo sendo frequente, não é inevitável.
Do latim adsimilatio, assimilatio: acção de tornar semelhante; do ponto de vista biológico, a assimilação é a operação pela qual os seres vivos transformam as matérias absorvidas na própria substância. Por analogia com este processo orgânico, fala-se de assimilação social para definir o processo segundo o qual indivíduos ou grupos, pertencendo a culturas ou a meios diferentes, se transformam num todo homogéneo.
A assimilação dá ideia de uma absorção por um conjunto sociocultural mais forte ou mais vasto de elementos heterogéneos (grupos estranhos ou marginais, imigrantes) que nele entram com a sua cultura, o seu modo de vida, os quais desaparecem ou se integram através desse processo.
Uma abordagem para o estudo da aculturação baseia-se num modelo que se focaliza no processo linear de assimilação. Segundo essa abordagem, os indivíduos num grupo em aculturação deixam os seus valores e hábitos culturais e adoptam atitudes e comportamentos característicos da sociedade dominante. O estágio último da adaptação é visto como sendo a absorção dos grupos em aculturação, para formar uma sociedade homogénea e unitária.
Diversidade linguística
A integração social foi, antes de mais, um conceito elaborado pelos americanos em função de um certo ideal de “way of life” e de “bem-estar social”. Para muitos é o grau de adaptação dos comportamentos individuais e de grupos parciais ao que a colectividade espera. A integração exprime-se por normas, hábitos e correntes de opinião dominantes (modelos socioculturais de conduta). Esta definição insiste sobre a noção de concordância e de discordância, de grau de adesão e de desvio, sem tentar interpretar a integração em função dos valores positivos e negativos da sociedade global.
Etimologicamente de raiz latina, tag, tocar, donde deriva interger, intactus. Integrare significa ou renovar ou tornar inteiro. Devido a uma tendência natural do espírito humano, que gosta de se apoiar nos esquemas da vida para falar das realidades sociológicas, a integração, no domínio das ciências sociais, será frequentemente tomada com a adaptação das partes ao todo, sendo as partes os membros ou os micro-grupos e o todo a sociedade global. Logo, sociologicamente, a integração é vista como a acção de trazer à unidade os factores diferenciados.
A afirmação de Robert C. Angel, definindo integração como os fins e valores comuns para os quais os membros de um determinado grupo são orientados sendo determinantes para a vida desse grupo, parece-nos ser a que mais se coaduna para a execução de uma política integracionista.
Mas, a integração implica na manutenção parcial da identidade cultural do grupo étnico juntamente com uma participação cada vez mais acentuada no seio da nova sociedade. Nesta situação a pessoa conserva a sua identidade e outras características culturais próprias (língua, hábitos alimentares, religião, festas, etc.), participando simultaneamente nas estruturas económicas, políticas e jurídicas com outros grupos na sociedade receptora.
No integracionismo, a manutenção cultural é procurada, enquanto no assimilacionismo há pouco ou porventura nenhum interesse em tal continuidade. A integração só é possível no caso da sociedade receptora ou dominante ser tolerante e valorizar a diversidade.
Pluralismo cultural
O respeito pela diversidade cultural, isenta de preocupações hegemónicas, é a corrente onde se situa o pluralismo cultural, que defende um modelo de relacionamento social no qual, cada grupo étnico preserva as respectivas origens partilhando, no entanto em simultâneo, um conjunto de características culturais e de instituições com os restantes grupos. Esta corrente, caracterizada pelo reconhecimento das diferenças existentes ao nível dos interesses e referências culturais dos diferentes grupos, não deve constituir motivo de conflito e de profunda divisão social. É fortalecida a identidade grupal e a viabilidade de cooperação entre os diferentes grupos. A sua aplicação prática implica na não hierarquização das culturas dos grupos e numa distribuição equilibrada do poder no seio da sociedade global.
Diz-nos Maria Beatriz Rocha-Trindade, que o pluralismo pode também ser observado no domínio cultural, quando os grupos têm estilos de vida crenças e valores específicos, muito embora possam possuir também outros, que são comuns aos restantes grupos sociais. Do ponto de vista estrutural, este pluralismo torna-se evidente, quando os grupos apresentam as suas próprias instituições e estruturas, tais como: igrejas, associações..., partilhando, todavia, outras com a sociedade geral (língua, sistema jurídico, moeda, etc).
Chamam-se, normalmente, mosaicos, às sociedades organizadas segundo este modelo, uma vez que representam entidades unas, mas compostas por diferentes elementos distintos e separados entre si. A manutenção de algum afastamento entre as várias comunidades étnicas afigura-se, de acordo com esta corrente, que é sem dúvida algo imprescindível à continuidade dos grupos e, obviamente, indispensável à preservação das suas tradições, mesmo que comunguem de determinados aspectos da macro-cultura da sociedade em que estão radicados. Esta teoria viria pois a influenciar as políticas sociais, culturais e educativas, dando lugar ao aparecimento da educação multicultural, cuja finalidade é valorizar e legitimar as diferentes culturas em presença, numa dada sociedade. Mas, se o multiculturalismo surge, no Canadá, em 1971 e nos EUA por volta dos anos 80, na Europa, há um a reacção à abordagem compartimentada e um tanto divisionista das culturas. E, em meados da década de 70, surge a teoria intercultural, que parte do princípio que a identidade sócio-cultural se encontra em estreita relação com o universo cultural em que o indivíduo foi socializado, e que reflecte também a classe social a que este pertence, o sexo, e a idade que tem.
O princípio da interculturalidade parte ainda do princípio de que cada ser humano está simultaneamente ligado a vários subgrupos culturais e inserido em várias micro-culturas. Logo, a educação intercultural tem com principal objectivo assegurar que o desenvolvimento educacional e a inserção social dos indivíduos não sejam condicionados pelo sexo, idade, classe, aptidões de ordem física ou mental, língua religião e outras características culturais que lhe são próprias.
Ainda segundo Maria Beatriz Rocha-Trindade, ao tentar que todas as culturas presentes no meio escolar possam usufruir de igual estatuto, a educação intercultural procura que todos os estudantes disponham de condições pedagógicas que permitam optimizar as suas potencialidades, e assim, desfrutar das oportunidades educativas e dos benefícios sociais que delas advêm. Defensora da criação de condições que permitam facilitar o diálogo entre elementos de diferentes culturas, esta corrente assenta na convicção, de que a interacção e interpenetração de vários universos culturais será factor de enriquecimento recíproco e da própria sociedade em geral.
* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais
quarta-feira, 28 de março de 2012
Educação multicultural e intercultural
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