quinta-feira, 22 de março de 2012

Duas verdades contraditórias



O que está em jogo nas eleições na França? A pergunta é mais urgente após a guinada do presidente Nicolas Sarkozy para a extrema-direita xenófoba para ganhar votos da Marine Le Pen, filha do ex-candidato Jean-Marie Le Pen, que representa o mais perto do fascismo que a França pós-Vichy pode chegar, com o agravante de pregar uma "França para os Franceses".

Não é novidade este chamego de Sarkozy com a extrema-direita. Ele vem num longo flerte com esta velha senhora, mas de uns tempos para cá, com a aproximação das eleições, o flerte virou noivado que não quer esperar a decisão da moça de casar, quer consumar o casamento antes, o mais rápido possível.

Este filho de imigrantes húngaros, depois de encapar a lei que proíbe o véu islâmico na França e deperseguir os ciganos, quer rever o acordo de Schengen, que permite livre trânsito dos cidadãos europeus, considerado um dos pontos basilares da União Europeia.

Lidas conjuntamente, não há dúvida que Sarkozy arranja um bode, um culpado: o imigrante. O filho de húngaros culpa os outros países europeus por não controlarem suas fronteiras, culpa os muçulmanos da África árabe, aquela que foi colonizada pelos... franceses!

Esta política do medo é instrumento típico do fascismo. Entretanto o proto-fascismo de Sarkozy ganha, exatamente por isso, um inimigo idêntico, que também culpa o outro pelos seus problemas, que também não tolera o diferente, o ruído. Sim, estou falando do radicalismo islâmico.

Nestas duas última semanas, a França sofreu uma série de atentados perpetrados pelo mesmo homem. O último deles foi contra uma escola judaica e deixou quatro mortos. Segundo as mais recentes informações, o assassino é francês de origem argelina que queria "vingar a morte de crianças palestinas".

O ódio é recíproco. São dois universos autocentrados, que se pretendem herméticos. São duas verdades contraditórias, e que por isso mesmo só sobrevivem uma em relação à outra, mesmo querendo sobrepujá-la. Os fascismos caminham juntos, necessitam um do outro. Precisam, para se manterem como relevante, para justificar seus medos, do demônio externo, papel muito bem cumprido por outro fascismo, por outra verdade absoluta.

É isso que está em jogo na Europa, na crise européia. Por enquanto a extrema-direita vai vencendo. Há a urgente necessidade de desmascarar esta paranóia e de mostrar que são, o radicalismo muçulmano e o ódio ao imigrante, irmãos siameses que só sobrevivem em simbiose.

Walter Hupsel

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