Mais de 60 mil imigrantes africanos vivem na Suíça.
Eles decidiram unir suas forças para se fazer entender e reuniram-se, pela primeira vez, em um congresso com o intuito de discutir integração e desenvolvimento.
Alguns deles fugiram de países
Em sua maioria eles eram eritreus, marroquinos, tunisianos, congoleses ou camaronenses. Com exceção do Sudão do Sul, independente somente desde julho de 2011, todos os 54 países do segundo continente mais populoso do mundo estão representados na Suíça. O número corresponde a 3,5% da população estrangeira total.
Imagem negativa
"A imigração africana é um fenômeno bastante recente na Suíça e que surgiu nos últimos vinte a trinta anos", explica a socióloga Denise Efionayi, autora de um estudo sobre a diáspora subsaariano publicado pelo Fórum Suíço para Estudo de Migrações e Populações (SFM). "Essa comunidade é muito heterogênea, com diferentes origens culturais, linguísticas e religiosas. Para esses imigrantes, a 'africanidade', que muitas vezes cobre uma experiência comum (por exemplo, experiências de discriminação e marginalidade), constituiu uma espécie de resposta à conotação negativa em relação ao que é 'africano'."
Na verdade, aos olhos de muitos suíços o imigrante é por definição africano, seja ele sendo cristão ou muçulmano, francófono, anglófilo ou de língua árabe. São preconceitos, mas que a diáspora africana tentou, de certa forma, explorar ao esquecer barreiras nacionais para falar com uma só voz.
No início de março centenas de pessoas reuniram-se em Berna para se conhecer, dialogar e compartilhar esperanças e frustrações. O congresso foi organizado pelo Conselho da Diáspora Africana na Suíça (CDAS), que pretende ser uma plataforma para centenas de associações, pequenas empresas ou locais de culto atuantes no país. O objetivo era melhorar a imagem dessa comunidade de imigrantes associados frequentemente aos problemas da clandestinidade, tráfico de drogas e da violência.
União faz a força
"A ideia surgiu em 2010 após a morte de um solicitante de asilo originário da Nigéria durante uma operação de repatriamento organizada pela polícia suíça. A comunidade africana estava sob choque, mas apesar disso pouco participou dos protestos que seguiram ao drama. Então pensamos que se Maomé não vai à montanha, então nós é que tínhamos que nos movimentar. E também o fizemos para descobrir as diversas organizações e lhes servir de ponte", explica Céleste Ugochukwu, coordenador do CDAS.
A criação do grupo interessou imediatamente o Departamento Federal de Migração (ODM). "Para nós é fundamental ter um parceiro mais institucional, apto a dar espaço de opinião a um número maior de imigrantes", afirma Eric Kaser, da divisão de integração do órgão público.
Por enquanto, cerca de trinta associações aderiram à iniciativa e, afora algumas egípcias, todas são da África subsaariana. Algumas trabalham para a integração de africanos na Suíça. Já outras se ocupam com o desenvolvimento do seu país de origem em termo de intercâmbio de competências ou envio de dinheiro. Por vez existem organizações políticas e centros de pesquisa para a promoção da paz.
Para favorizar a integração, não apenas as organizações religiosas, mas também as revistas, os salões de beleza ou os restaurantes são locais importantes de socialização, além dos serviços oferecidos neles. "Contrariamente aos espanhóis e portugueses, os africanos não contaram com o apoio dos sindicatos para criar uma comunidade de defesa dos seus direitos", explica Denise Efionayi. Além do contexto econômico diferente em relação ao período do pós-guerra, uma razão é a heterogeneidade da comunidade.
Lutar contra os preconceitos
Segundo o estudo do SFM, mais de 50% dos imigrantes originários da África subsaariana têm menos de 40 anos. Não é, portanto, surpreendente ver que a iniciativa de criar o conselho da diáspora partiu dos jovens. "Além das diferenças culturais, somos muitas vezes confrontados aos mesmos problemas: acesso à educação ou ao trabalho, assimilação ou solidão", comenta o secretário do CDAS, Joel Hakizimana, 31 anos, originário do Burundi. Os preconceitos estão muito presentes e, "mesmo se pode ser cansativo escutar sempre falar de integração, a troca de experiências e estratégias permite enfrentar o futuro de forma positiva."
A discriminação profissional seja talvez a área em que esses jovens sejam mais penalizados. Entre 2003 e 2007, dois terços dos imigrantes africanos exerciam um trabalho pouco ou não qualificado (artesãos ou trabalhadores) ou atuavam em setores de venda, serviços ou gastronomia. "Alguns deles têm um diploma universitário, mas ele não é reconhecido ou simplesmente perdeu todo valor após os meses de inatividade devido aos procedimentos legais do asilo ou do desemprego que, dentre os jovens africanos, ultrapassa a marca de 20%", revela Denise Efionayi.
Ora, a participação no tecido econômico e social é a chave de uma integração bem-sucedida. Essa nova plataforma é, portanto, um meio de mostrar a importância do papel exercido pelas diferentes associações regionais, mas também de reforçar a identidade africana ela mesma, formando ao mesmo tempo um lobby político para lutar contra os inúmeros preconceitos que estigmatizam as pessoas de pele escura. "A integração é como o tango: não podemos dançar sós. Nós estamos dispostos a dançar. E você?", perguntavam-se os participantes do congresso.
Stefania Summermatter
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