quinta-feira, 15 de março de 2012

Integração é conceito diversificado na UE


A União Europeia fez acordos rígidos sobre imigração. Mas a integração de imigrantes é uma outra história. Cada país-membro tem uma abordagem diferente. E isso muitas vezes entra em conflito com a diretriz europeia de que a identidade própria do imigrante deve ser respeitada.

No papel, a Holanda tem uma imagem bastante precisa da integração dos novos imigrantes à sociedade holandesa, segundo descreve o Escritório de Planejamento Social e Cultural (Sociaal en Cultureel Planbureau - SCP) num relatório sobre integração na Europa. Mas os pesquisadores são críticos quanto à prática, principalmente por causa das rígidas exigências de integração impostas aos imigrantes. Rob Bijl, um dos autores do relatório: “Às vezes tenho a sensação de que são feitas exigências mais rígidas a pessoas de outros países do que aos holandeses.”

Ano passado, os Estados-membros da UE assinaram a Agenda Europeia para a Integração. Nela consta como um dos pontos centrais que a integração é um processo que inclui direitos e deveres, tanto do imigrante como da sociedade que o recebe, e que é preciso haver respeito mútuo para as diferentes culturas. “A atual prática em muitos países da UE está muito longe disso”, concluíram os pesquisadores do SCP.

Por muito tempo, Holanda e Alemanha não perceberam que haviam se tornado países de imigração, diz o pesquisador Rob Bijl:

“Depois dos Estados Unidos, a Alemanha foi durante anos o país com o maior número de novos imigrantes no mundo. E mesmo assim eles diziam até a virada do século: ‘não somos um país de imigrantes’. Mas eram milhões de pessoas, números muito maiores do que na Holanda. E no entanto ainda se tapava o sol com a peneira achando que os imigrantes todos retornariam a seus países de origem.”
E enquanto todos assumiam que a presença dos imigrantes era temporária, não era preciso fazer nada para a sua integração.

Indocumentados
Hoje, a maioria dos países europeus já compreendeu que muitos imigrantes ficarão, diz Bijl.

“Uma grande parte da economia italiana depende dos ‘indocumentados’, imigrantes ilegais. Muitos trabalhadores domésticos, e este é um setor grande na Itália, são imigrantes do leste europeu e da ex-Iugoslávia. Na verdade, todos os italianos sabem muito bem que estas pessoas vão ficar morando na Itália, mesmo que seja ilegalmente.”

Nos últimos anos, por sua localização, a Itália foi inundada de imigrantes da África e da Albânia, por exemplo. E é um país que não tinha experiência com fluxo de imigrantes de antigas colônias, como têm a Holanda e a Grã-Bretanha.

E há uma grande diferença cultural com o norte da Europa, diz o catedrático em migração e integração Han Entzinger:

“O governo, em geral, é menor nos países do sul da Europa, então tem menos possibilidades de desenvolver uma real política de integração. E num país como a Itália, a família faz muito do trabalho de cuidados e bem-estar social que na Holanda e em países escandinavos é feito pelo governo.”

Princípios básicos
Por todas as diferenças históricas e culturais, segundo Bijl e Entzinger, é difícil ou até impossível estabelecer uma política de integração europeia. Mas há alguns princípios básicos em vigor há alguns anos, como direito de acesso ao trabalho, educação, saúde e moradia.

Mesmo assim, as diretrizes dentro da UE são importantes, ainda que seja apenas para que os países possam aprender uns com os outros no caso de uma onda de imigração. A maioria dos países do leste europeu não tem uma política de integração, porque eles praticamente não têm imigrantes. Mas o movimento de populações pode acontecer muito rápido, como se viu na história recente da Espanha e da Irlanda, que em poucas décadas se tornaram países de imigrantes, mas com a recessão dos últimos anos estão agora perdendo muitos habitantes. Rob Bijl: “Da mesma forma, a Polônia pode se tornar um país de imigrantes daqui a alguns anos.”

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