quarta-feira, 7 de março de 2012

Crescimento econômico no Brasil não reduz imigrantes brasileiros


Por muitos anos, milhares de brasileiros chegaram à Europa em busca de uma vida melhor. Com as moedas europeias valendo muitos reais, fazer o pé-de-meia era um sonho ao alcance do pensamento e das mãos que trabalhavam duro, por vezes em múltiplos turnos.

Agora, quando o Brasil supera uma das maiores economias da Europa, a britânica, pode parecer a tantos brasileiros que voltar ao país natal é a melhor opção, digna das manchetes de jornais que alardeiam a emergência do gigante da América do Sul como potência mundial. Mas a realidade é mais complexa.

O crescimento econômico no Brasil ainda não foi capaz de estimular uma debandada dos imigrantes brasileiros que vivem na Grã-Bretanha, dizem especialistas do setor migratório. Muitos voltam, é verdade, mas os que chegam ainda somam números relevantes, sendo que é até possível apostar em crescimento da comunidade verde e amarela no país, já a maior na Europa.

A principal razão para este aumento é a própria crise europeia. Brasileiros que viviam legalmente em países como Portugal, Espanha, Itália e Irlanda, onde os níveis de desemprego atingiram recordes históricos recentemente, se deslocam dentro do continente em busca de melhores condições.

"Nosso trabalhadores estão basicamente nos setores de construção, limpeza, alimentação e transporte. E há vagas. O brasileiro chega aqui em um dia e no outro, se quiser, está trabalhando", afirma Carlos Mellinger, presidente da Casa do Brasil em Londres, entidade que ajuda imigrantes na capital. Segundo ele, o número de brasileiros no país só aumenta.

Mellinger afirma que, apesar do crescimento econômico brasileiro, as condições de trabalho para estes segmentos na Grã Bretanha são melhores. "Não dá para comparar. Quando, no Brasil, uma faxineira teria casa, transporte, alimentação e ainda dinheiro para compras pessoais e para juntar? Ou como comparar o salário e os riscos de um courrier (motoboy) aqui com o de um em São Paulo?", questiona, listando razões para que o fluxo de chegada continue.

A pesquisadora Cathy McIlwane, da Queen Mary University, concorda com Mellinger. Ela publicou no ano passado o estudo "No Longer Invisible: The Latin American Community in London", sobre comunidades latino-americanas na capital britânica. Segundo a pesquisa, a maior parte dos brasileiros entrevistados quer voltar para o país de origem (58%), mas as razões que os trouxeram à Grã Bretanha adiam a decisão. "Boa parte veio por razões econômicas (31%) ou porque tinha família aqui (33,5%), o que os fixa e os faz pensar duas vezes", ela diz.

Cathy lembra que nem mesmo a crise na Europa - que também atinge em menores proporções a Grã Bretanha, com os mais altos índices de desemprego e mais de uma década - é capaz de acelerar a saída de imigrantes. "Londres tende a ser quase imune à recessão, porque o setor financeiro é muito forte. Sem falar que os britânicos não fazem trabalhos que os brasileiros fazem", complementa, também referindo-se às ocupações clássicas de brasileiros no país, como faxina e construção.

Para Cathy, os imigrantes de classe média ou alta são mais propensos a voltar. Muitos vêm para fazer cursos de língua e acabam ficando, enquanto puderem esticar a estada, ainda que ilegalmente. Os mais pobres, porém, vêm com um objetivo de ganhar dinheiro. "Se formarem famílias e tiverem filhos, adiciona-se a este propósito o de dar boa educação às crianças. Então eles ficam por mais tempo ainda. O efeito acaba sendo cumulativo e a comunidade cresce", explica.

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