terça-feira, 13 de setembro de 2011
Os desafiantes mil milhões
O mundo encontra-se no meio da maior reviravolta demográfica da história do homem.
O mundo encontra-se no meio da maior reviravolta demográfica da história do homem. A raça humana demorou perto de um milhão de anos para atingir mil milhões de pessoas (por volta do ano de 1800). Contudo, desde 1960, temos vindo a adicionar a esse número sucessivos milhões de pessoas a cada 10, 20 anos. A população mundial está agora em 7 mil milhões e prevê-se que alcance os 9,3 mil milhões em 2050.
Por outras palavras, entre a actualidade e 2050, podem ser acrescentadas tantas pessoas à população mundial como aquelas que habitavam todo o planeta em 1950. Ou, se pensarem através de outra imagem, é como se uma nova China e Índia fossem acrescentadas ao mundo.
Alimentar, vestir e abrigar, entre outros, toda esta nova enorme população mundial é um dos principais desafios que a humanidade enfrenta.
Se usarmos como modo de orientação o progresso material médio ao longo dos séculos, pode parecer que a necessidade vai, novamente, ser a mãe da invenção, e que vamos enfrentar o desafio populacional tal como enfrentámos os desafios anteriores: através da inovação tecnológica e institucional.
Mas as médias a longo prazo escondem uma volatilidade significativa ao longo do tempo e diferenças entre países. É certo que há um grande risco pela frente no que diz respeito ao crescimento populacional, e quase todo ele irá ocorrer nos países mais frágeis em termos económicos, políticos, sociais e ambientais.
A impossibilidade de o mercado laboral absorver um número considerável de pessoas poderá conduzir ao sofrimento em massa e a um conjunto de catástrofes. A continuação de uma extrema desigualdade de rendimentos entre países pode dissuadir a cooperação internacional, travar ou até reverter a globalização. Isto apesar do potencial da globalização de melhorar os padrões de vida de toda a gente. Um rápido crescimento da população também tende a acelerar o processo de esgotamento dos recursos ambientais, tanto a nível local como global. E pode também minar permanentemente as perspectivas para a sua recuperação.
Alguns países em desenvolvimento têm respondido positivamente aos desafios populacionais. Por exemplo, os "Tigres" do este asiático cortaram as taxas de natalidade de forma precipitada nos anos 70 e 80. Usaram o intervalo demográfico resultante para obterem uma vantagem impressionante através de políticas da educação e da saúde criteriosas, de uma gestão macroeconómica sólida e ainda de um compromisso económico cauteloso a nível regional e global.
No outro pólo do espectro, os países na África Subsariana têm-se saído muito pior no que ao desenvolvimento diz respeito. Em grande medida, o desempenho deve-se à incapacidade de escapar ao fardo esmagador do acelerado crescimento populacional e da dependência dos jovens.
Embora as nações em desenvolvimento sejam o palco principal dos problemas populacionais mais ameaçadores do mundo, os países ricos industrializados enfrentam problemas internos um pouco incómodos. De uma perspectiva puramente demográfica, a capacidade produtiva das economias avançadas atingiu um patamar de pouco mais de dois membros da população activa por indivíduo dependente. Contudo, estima-se que esse indicador desça para 1,36 em 2050. O que ameaça o considerável dividendo demográfico que estes países têm registado nas últimas décadas.
Além disso, os países ricos podem esperar uma enorme subida da proporção da população idosa, devido à maior esperança média de vida, à contínua reduzida taxa de fertilidade e ao avanço nas pirâmides etárias dos grupos de pessoas que nasceram em épocas de explosão da natalidade ("baby-booms"). Embora o comportamento económico num contexto de envelhecimento populacional seja praticamente um território desconhecido, não é difícil perceber os receios sobre a integridade orçamental dos sistemas de reformas e de cuidados de saúde. Nem é difícil perceber os medos perante o abrandamento do crescimento devido a forças de trabalho mais diminutas.
Há já sugestões políticas sob consideração para responder à sustentabilidade orçamental e à falta de mão-de-obra, onde se incluem o prolongamento da idade da reforma e as contribuições obrigatórias, juntamente com subsídios mais baixos. A liberalização da migração internacional poderia ser outra resposta. É pouco provável que essa opção seja um alívio bem recebido, já que há alguma oposição social e política a um aumento da imigração nos países mais desenvolvidos.
No entanto, podemos esperar maiores taxas de participação feminina no mundo do trabalho (impulsionada por uma contínua baixa taxa de fertilidade), uma mão-de-obra mais eficiente, devido a um melhor nível de escolaridade, e ainda taxas de poupança mais elevadas, em antecipação a uma maior longevidade e a uma idade da reforma mais avançada.
No fim, é improvável que os maiores medos relacionados com as nossas populações mais grisalhas se tornem realidade. Mas, antes de termos essa certeza, é necessária uma grande quantidade de análise, debate, adaptação comportamental e reforma política - tanto na esfera pública como privada.
Os problemas com que os países em desenvolvimento se estão a confrontar neste momento são diferentes daqueles com que se confrontam os países ricos. Contudo, num mundo globalizado, os desafios demográficos em determinado lugar são desafios demográficos de todos os lugares. E, apesar de os desafios colocados pelas alterações populacionais serem enormes, eles são, muito provavelmente, domináveis. Seria irresponsável negligenciar tais desafios e submeter a humanidade, desnecessariamente, a grandes perigos que já podemos prever com confiança.
Professor de Economia e Demografia na Harvard School of Public Health
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