sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Depoimentos de imigrantes revelam discriminação durante busca por vida digna

A mesa de debates "O protagonismo dos e das migrantes nos processos de construção de políticas migratórias, reivindicações e bandeira de luta, realidade social e desafios" cumpriu nesta quarta-feira (15) uma das principais funções da Cúpula Social do Mercosul: dar voz e vez aos atores sociais.
Por meio da apresentação da realidade de migrantes nos países em que escolheram para viver, homens e mulheres falaram sobre suas batalhas diárias e as situações pelas quais passam unicamente por serem migrantes.
As realidades diversas mostradas por Claudio Schuh (imigrante brasileiro no Paraguai), Porfirio Leonor Ramirez (imigrante paraguaio no Brasil) e Jobana Moya (imigrante boliviana no Brasil) comprovaram que em cada lugar, em cada país, o preconceito se repete diariamente na busca por emprego, por educação e saúde.
Schuh relatou uma realidade desconhecida para muitos. Produtor rural residente no Paraguai há mais de 20 anos, o brasileiro assegura que a xenofobia também atinge alguns proprietários de terras locais, que são rechaçados e tratados como latifundiários. A batalha por documentos também é uma realidade. Mesmo pagando as taxas necessárias, muitos imigrantes são obrigados a voltar para o Brasil porque não conseguem receber a documentação necessária para permanecer no país.
"A situação dos migrantes melhorou com o governo do presidente Fernando Lugo, mas ainda é difícil. Tentamos resolver com o governo brasileiro, mas esse também não se interessa. Ninguém quer se responsabilizar", lamenta.
A luta por trabalho digno é um dos mais graves problemas enfrentados pelos imigrantes. No caso dos bolivianos residentes no Brasil, boa parte encontra trabalho apenas nas confecções, onde são obrigados, muitas vezes, a trabalhar por mais de 20 horas ao dia, ganhando apenas um prato de comida ou de 0,30 a 1,50 por peça. De acordo com a organização Tortura Nunca Mais (SP), fiscais do Ministério do trabalho estimam que existam hoje, apenas na Grande São Paulo, de oito a 10 mil oficinas que empregam cerca de 80 a 100 mil sul-americanos.
Na busca por educação e qualificação os imigrantes encontram outras barreiras motivadas pela discriminação. Notícia divulgada amplamente em setembro deste ano, revelou o que passam os estudantes estrangeiros de escolas públicas de São Paulo. Em geral, a perseguição é contra os bolivianos. Em escolas como a estadual Padre Anchieta, no Brás, os imigrantes precisam pagar para não apanhar fora da escola. Dinheiro ou lanche, não importa, é preciso dar uma garantia para não ser atacado.
"Existe discriminação nas escolas, nos postos de saúde, na busca por trabalho. É uma discriminação sutil. Há quase um consenso de que os imigrantes querem tudo de graça, sem se esforçar, sem trabalhar e que querem ainda tomar o espaço da população local", relata Jobana, boliviana residente em São Paulo.
Não só dos debatedores, mas também do público que assistia aos depoimentos surgiu um persistente pedido de que a luta dos migrantes seja levada à frente para que a realidade se transforme, para que se saia apenas do campo das propostas e dos debates e para que os migrantes proponham a agenda de demandas e sejam os protagonistas das transformações necessárias e urgentes.
Como estratégia para solucionar a xenofobia, Carlos Valderrama, da Associação Cultural e Casa dos Imigrantes "Cesar Vallejos" (ACCICEV), chama as nações do cone Sul a se unirem. "Se não há integração na luta, não haverá um enfrentamento concreto dos problemas que cercam os migrantes", chama atenção.

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