Essa manchete antiga é uma das mais famosas de Crônica, canal sensacionalista de televisão da Argentina. Sempre causa riso e tensão quando é mencionada, porque traz em seu bojo temas delicados como racismo, discriminação, migração e pobreza.
Todos eles vieram à tona nos últimos dias na Argentina após o enfrentamento, entre moradores de classe média baixa do bairro de Villa Soldati, localizado na zona sul de Buenos Aires, e famílias de sem-teto (a maioria boliviana e paraguaia).
O grupo de imigrantes – cerca de mil pessoas - ocupou uma praça abandonada em protesto à falta de moradias. Os vizinhos resolveram desocupar o parque por conta própria e promoveram uma batalha com pedras, pedaços de ferro e armas de fogo. O saldo foi de quatro mortos.
As cenas de violência ocorreram na data em que se comemorava o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, representante da direita conservadora, pediu intervenção por parte do governo federal e fez um discurso racista e xenófobo contra os ”bolitas e paraguas”, relacionando a imigração à delinqüência e ao narcotráfico.
Macri (filho de um imigrante italiano, é bom que se lembre) destacou que o governo da cidade não pode resolver o problema do déficit habitacional de todos os países limítrofes, relacionando a falta de casas populares em Buenos Aires com o aumento da imigração.
O problema é que o número de estrangeiros diminuiu, de 13% da população em 1960, para 4,2% em 2001. Os dados do novo Censo ainda não estão disponíveis, mas a expectativa é que este índice seja ainda menor.
Segundo ele, o incidente ocorrido é conseqüência de uma política migratória descontrolada, permitida pelo governo da presidente Cristina Kirchner por meio do Plano Nacional de Normalização e Documentação Migratória.
Também denominado Pátria Grande, esse plano permitiu que mais de 400 mil pessoas, originárias de países do MERCOSUL e Associados, apresentassem documentação para conseguir a residência argentina, numa ação considerada de vanguarda na América Latina.
Macri, no entanto, prefere adotar o discurso que está em voga na Europa hoje, que vê a imigração como uma ameaça, e não como um direito. Pelo menos a imigração de gente latina e pobre. Para europeus com dinheiro a cidade está de braços abertos, claro.
Dados publicados no domingo pelo jornal Pagina 12 mostram o quanto o prefeito anda equivocado.
A matéria cita números das Nações Unidas que destacam que sem a imigração ocorrida desde 1950 até hoje, que inclui obreiros que trabalham em empresas de construção civil como a de Macri, o produto interno da Argentina seria pelo menos 36% menor. Seu produto bruto per capita 25% mais reduzido e sua população diminuída em 8,7%.
Infelizmente, esse sujeito que fala barbaridades dos imigrantes quer ser presidente em 2011. Além do pensamento retrógrado, ele é muito bizarro e basta colocar seu nome no Google para descobrir um monte de vídeos ridículos. Sinceramente, a Argentina não merece.
Gisele Teixeira é jornalista
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