quarta-feira, 9 de julho de 2014

Tailândia acelera regularização de imigrantes após denúncias de abusos

A Tailândia acelerou a regularização de imigrantes depois do êxodo em massa de estrangeiros sem documentos no mês passado e as denúncias de escravidão e abuso de trabalho cometidas contra mão-de-obra de fora do país nos navios de pesca.
Filas intermináveis formadas por centenas de rostos cansados são vistas na saída de um dos centros temporários para imigrantes abertos pela junta militar tailandesa em Samut Sakhon, uma zona portuária próxima a Bangcoc.
Birmaneses na grande maioria, mas também cambojanos e laosianos, eles esperam sua vez pacientemente em algum dos sete centros abertos durante o mês de julho e que permitirão regularizar a situação dos trabalhadores estrangeiros na Tailândia.
Enquanto a voz de um dos soldados chama os imigrantes, centenas de pessoas, algumas junto aos seus filhos, esperam sentadas no chão ou em cadeiras dispostas sob tendas que protegem do sol.
"O salário aqui é muito maior que em Mianmar", afirmou à Agência Efe um dos imigrantes, que trabalha em uma fábrica de tratamento de água.
"Lá ganhava 100 baht (2,5 euros ou US$ 3) por dia, mas aqui posso ganhar 300 baht (sete euros ou US$ 9)", acrescentou.
Entre a multidão, destaca-se por sua roupa nova um dos tailandeses que emprega trabalhadores oriundos do Laos em plantações de orquídeas porque, segundo ele, "os tailandeses não querem realizar este tipo de trabalho".
Sunee Suksudej, responsável pelo setor de informação do centro, explicou que desde a semana passada a média de afluência foi de mil imigrantes por dia, alcançando um pico de dois mil estrangeiros em sua abertura.
"Alguns imigrantes não são aprovados por terem doenças como sífilis ou HIV", afirmou Suksudej, enquanto ao seu redor eram realizadas dezenas de testes de sangue e registros digitais.
Em um setor do centro de imigração, trabalhadores escutam as recomendações de uma mulher que assessora os trabalhadores sobre seus direitos, próxima a um cartaz que defende a luta contra o tráfico humano.
"Recebemos queixas de que os chefes não pagam seus trabalhadores e cancelam os contratos, mas há casos de outros tipos de abusos", disse uma das funcionárias públicas que assessoram os imigrantes, para depois confessar que se preocupa com o que seu superior pode pensar sobre suas declarações.
Além dos escritórios de regularização de imigrantes em diversas partes do país, outros 22 centros de supervisão de embarcações pesqueiras serão abertos nas províncias litorâneas no mês de julho para supervisionar o setor.
Esta iniciativa da junta militar tailandesa ocorre depois que em junho mais de 200 mil imigrantes, em sua maioria cambojanos, fugiram do país perante os rumores de que estavam ocorrendo detenções maciças de imigrantes irregulares.
Embora muitos já começaram a voltar, as patronais tailandesas alertaram que enfrentam uma escassez de mão-de-obra, principalmente no setor da construção, da indústria e da pesca.
Por outro lado, as autoridades estão preocupadas por uma decisão do governo dos Estados Unidos, que em 20 de junho rebaixou a qualificação da Tailândia ao último degrau na luta contra o tráfico de pessoas em seu relatório anual sobre este delito.
Segundo o relatório americano, as estimativas mais conservadoras cifram em dezenas de milhares as vítimas no país de tráfico de pessoas, que além da prostituição, acabam em setores como trabalho doméstico, têxtil, pesca ou sendo obrigadas a mendigar nas ruas.
Muitos destes imigrantes explorados ou em situação de escravidão trabalham no setor pesqueiro tailandês, que exporta seus produtos como camarões e atum para Europa e Estados Unidos.
Perto do centro de imigrantes em Samut Sakhon, em uma das fábricas do porto, vários trabalhadores birmaneses se esforçam carregando pescado para serem levados para pontos distribuição maiores enquanto seu chefe os observa.
"No passado houve casos nos quais os empregadores abusaram dos trabalhadores", assegurou um supervisor da fábrica, que preferiu não revelar seu nome, "mas hoje em dia as leis que protegem os trabalhadores são obedecidas".
No entanto, as ONG's e a imprensa local continuam revelando casos de abusos.
Em 7 de junho, um pescador birmanês do porto de Samut Sakho passou 23 meses em um navio pesqueiro, onde trabalhou sem descanso e recebeu surras do capitão, segundo publicou o jornal local "Bangcoc Post".
Este caso é um dos mais recentes publicados pela ONG, organizações e meios de comunicação que denunciam as práticas abusivas do setor pesqueiro, em alguns casos próximas de escravidão, com denúncias até de assassinatos e violência extrema.
Na Tailândia, segundo algumas estimativas, existem ao redor de três milhões de imigrantes, dos quais cerca de 2,3 milhões são legais de acordo com o Ministério do Emprego.
 EFE


Nenhum comentário:

Postar um comentário