A Tailândia acelerou a
regularização de imigrantes depois do êxodo em massa de estrangeiros sem
documentos no mês passado e as denúncias de escravidão e abuso de trabalho
cometidas contra mão-de-obra de fora do país nos navios de pesca.
Filas intermináveis
formadas por centenas de rostos cansados são vistas na saída de um dos centros
temporários para imigrantes abertos pela junta militar tailandesa em Samut
Sakhon, uma zona portuária próxima a Bangcoc.
Birmaneses na grande
maioria, mas também cambojanos e laosianos, eles esperam sua vez pacientemente
em algum dos sete centros abertos durante o mês de julho e que permitirão
regularizar a situação dos trabalhadores estrangeiros na Tailândia.
Enquanto a voz de um dos
soldados chama os imigrantes, centenas de pessoas, algumas junto aos seus
filhos, esperam sentadas no chão ou em cadeiras dispostas sob tendas que
protegem do sol.
"O salário aqui é
muito maior que em Mianmar", afirmou à Agência Efe um dos imigrantes, que
trabalha em uma fábrica de tratamento de água.
"Lá ganhava 100 baht
(2,5 euros ou US$ 3) por dia, mas aqui posso ganhar 300 baht (sete euros ou US$
9)", acrescentou.
Entre a multidão,
destaca-se por sua roupa nova um dos tailandeses que emprega trabalhadores
oriundos do Laos em plantações de orquídeas porque, segundo ele, "os
tailandeses não querem realizar este tipo de trabalho".
Sunee Suksudej,
responsável pelo setor de informação do centro, explicou que desde a semana
passada a média de afluência foi de mil imigrantes por dia, alcançando um pico
de dois mil estrangeiros em sua abertura.
"Alguns imigrantes
não são aprovados por terem doenças como sífilis ou HIV", afirmou
Suksudej, enquanto ao seu redor eram realizadas dezenas de testes de sangue e
registros digitais.
Em um setor do centro de
imigração, trabalhadores escutam as recomendações de uma mulher que assessora
os trabalhadores sobre seus direitos, próxima a um cartaz que defende a luta
contra o tráfico humano.
"Recebemos queixas de
que os chefes não pagam seus trabalhadores e cancelam os contratos, mas há
casos de outros tipos de abusos", disse uma das funcionárias públicas que
assessoram os imigrantes, para depois confessar que se preocupa com o que seu
superior pode pensar sobre suas declarações.
Além dos escritórios de
regularização de imigrantes em diversas partes do país, outros 22 centros de
supervisão de embarcações pesqueiras serão abertos nas províncias litorâneas no
mês de julho para supervisionar o setor.
Esta iniciativa da junta
militar tailandesa ocorre depois que em junho mais de 200 mil imigrantes, em
sua maioria cambojanos, fugiram do país perante os rumores de que estavam
ocorrendo detenções maciças de imigrantes irregulares.
Embora muitos já começaram
a voltar, as patronais tailandesas alertaram que enfrentam uma escassez de
mão-de-obra, principalmente no setor da construção, da indústria e da pesca.
Por outro lado, as
autoridades estão preocupadas por uma decisão do governo dos Estados Unidos,
que em 20 de junho rebaixou a qualificação da Tailândia ao último degrau na
luta contra o tráfico de pessoas em seu relatório anual sobre este delito.
Segundo o relatório
americano, as estimativas mais conservadoras cifram em dezenas de milhares as
vítimas no país de tráfico de pessoas, que além da prostituição, acabam em
setores como trabalho doméstico, têxtil, pesca ou sendo obrigadas a mendigar
nas ruas.
Muitos destes imigrantes
explorados ou em situação de escravidão trabalham no setor pesqueiro tailandês,
que exporta seus produtos como camarões e atum para Europa e Estados Unidos.
Perto do centro de
imigrantes em Samut Sakhon, em uma das fábricas do porto, vários trabalhadores
birmaneses se esforçam carregando pescado para serem levados para pontos
distribuição maiores enquanto seu chefe os observa.
"No passado houve
casos nos quais os empregadores abusaram dos trabalhadores", assegurou um
supervisor da fábrica, que preferiu não revelar seu nome, "mas hoje em dia
as leis que protegem os trabalhadores são obedecidas".
No entanto, as ONG's e a
imprensa local continuam revelando casos de abusos.
Em 7 de junho, um pescador
birmanês do porto de Samut Sakho passou 23 meses em um navio pesqueiro, onde
trabalhou sem descanso e recebeu surras do capitão, segundo publicou o jornal
local "Bangcoc Post".
Este caso é um dos mais
recentes publicados pela ONG, organizações e meios de comunicação que denunciam
as práticas abusivas do setor pesqueiro, em alguns casos próximas de
escravidão, com denúncias até de assassinatos e violência extrema.
Na Tailândia, segundo
algumas estimativas, existem ao redor de três milhões de imigrantes, dos quais
cerca de 2,3 milhões são legais de acordo com o Ministério do Emprego.
EFE
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