terça-feira, 8 de julho de 2014

Estudantes de fora não podem ser recebidos com velhos preconceitos

Um artigo publicado no último domingo (6) pelo espanhol El País classificou a atual forma do governo britânico lidar com os estudantes estrangeiros como estúpida, incoerente, contraproducente, entre outras coisas. O artigo assinado pelo professor Timothy Garton Ash, da Universidade de Oxford, diz ver possível ver diariamente nas universidades britânicas o que ele chama de ‘burocracia insolente que trata todos como suspeitos’.
O professor critica que, apesar de a relação com a Índia ser uma das principais prioridades da política externa, entre setembro de 2012 e setembro de 2013, vistos para estudantes indianos caíram 24% - para além da diminuição em 50% que já havia acontecido dos doze meses anteriores.
De acordo com o artigo do El País, essa situação teve início em janeiro de 2010 quando, como aponta o jornal, o então líder da oposição, David Cameron, fez uma proposta eleitoral que o jornal classifica como ‘irresponsável’. A proposta seria uma promessa de reduzir a imigração líquida de ‘centenas de milhares’ para ‘dezenas de milhares’. Para Timothy Ash, seria um sinal de prudência ter ao menos o trabalho de distinguir os diversos tipos de imigrantes e, em particular, separar os estudantes dos demais.
O professor aponta ter consciência de que o controle de imigração seria indispensável para preservar uma sociedade democrática. De acordo com Ash, a imigração se tornou uma das principais preocupações dos eleitores no Reino Unido, mas que os meios de comunicação e os políticos irresponsáveis transformaram essa preocupação em histeria.
O artigo diz que, se o primeiro-ministro Cameron pretende prosseguir com seu objetivo de reduzir os imigrantes a ‘dezenas de milhares’ antes das próximas eleições que ocorrem em maio de 2015, terá que organizar o que Ash chama de ‘massacre de estudantes estrangeiros’. A não ser que, como o artigo indica, Cameron ouça seu próprio secretário de Universidades e reconheça que os estudantes são um caso a parte.
O El País diz também que existe, de fato, um problema sério com  a entrada de falsos alunos, mas tratar isso como prioridade distrai o governo do objetivo principal. Ash avalia que, mesmo se toda a fraude nos vistos de estudantes fosse extinta, o governo precisaria decidir se está ou não disposto a acolher de 100 a 300 mil estudantes legítimos por ano. O professor avalia que a questão deve ser analisada dentro de suas próprias complexidades, sem ser colocada no que ele chama de ‘saco demagógico com a etiqueta de imigração’.
O artigo aponta que em 2008, o Reino Unido teve o segundo maior grupo de estudantes no grupo da OCDE, justificado pelo fato de ter as melhores universidades da Europa, além de boa escolas de línguas e ter o inglês como língua oficial.
Ash diz que os custos com estudantes estrangeiros são grandes, mas os benefícios seriam ainda maiores. O professor aponta que, se por um lado o governo gastou cerca de 12,4 milhões de euros com estudantes estrangeiros, por outro lado os benefícios em termos de relações humanas, formas de pensar, intercâmbio cultural e valorização internacional são incalculáveis.
Um estudo feito em 2013 pelo Departamento de Negócios, Inovação e Talento – responsável pela educação superior – teria constatado que 84% das pessoas que estudaram no Reino Unido mantiveram seus laços e 90% dos ex-estudantes afirmaram ter melhorado a imagem que tinham do país após a experiência. O professor questiona quais seriam as conseqüências se pessoas como Bill Clinton, Benazir Bhutto, Aung San Suu Kyi e Manmohan Singh, que estudaram em Oxford, tivessem recebido o péssimo tratamento que está sendo dispensado atualmente aos estudantes estrangeiros. 

 Jornal do Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário