Mesmo sem necessidade de
visto para turismo, os brasileiros foram os estrangeiros mais barrados na
chegada à França em 2013, segundo informações exclusivas divulgadas à RFI pelo
Consulado Geral do Brasil em Paris. No ano passado, de janeiro a novembro, 482
brasileiros ficaram retidos no aeroporto de Roissy Charles de Gaulle, sem
contar os casos não contabilizados.
O Brasil vence da China,
por exemplo, que chega em segundo lugar, com 331 detidos. Em terceiro lugar na
lista das nacionalidades mais barradas da fronteira estão os argelinos (287),
seguidos dos cidadãos de países colonizados pela França: Guiné (257) e Senegal
(175), Mali (141), do Congo (159), Nigéria (80) e Camarões (56).
Os dados foram fornecidos
pelas autoridades francesas. A maior parte dos brasileiros detidos no aeroporto
vem das regiões sul e sudeste, de acordo com o cônsul geral do Brasil em Paris,
Julio Cezar Zelner Gonçalves. Cerca de 60% dos casos acabam sendo resolvidos,
mas muitos nem chegam ao conhecimento do consulado.
O fluxo de imigração para
a França também inclui brasileiros clandestinos que viviam em Portugal ou na
Espanha, mas decidiram mudar para outros países menos atingidos pela crise
econômica.
RFI - Quantos brasileiros
são barrados diariamente?
Por dia, temos uma taxa de
retorno que varia de 6 a 12 viajantes. Pessoas que chegam ao aeroporto e a
polícia não acredita que estejam vindo passear. Isso é fácil: no aeroporto, o
funcionário pergunta o que a pessoa veio fazer na França e ela responde :
"turismo." Eles então questionam o que o viajante pretende conhecer
na França e muitas vezes o brasileiro não sabe responder.
RFI - Como as pessoas
devem se comportar ao chegar na França?
Primeiro: providencie
alguém que é responsável por você aqui, pela sua manutenção. Porque geralmente
os barrados viajam sem dinheiro. Os países que assinaram o acordo de Schegen
determinam uma quantia necessária por dia para autorizar a entrada de um
turista. Se você não tem o valor correspondente a 20 dias de estadia, por
exemplo, ou um cartão de crédito, a situação pode complicar. Frequentemente, as
pessoas nem reservam um hotel.
RFI - A França tem
dificultado a entrada de imigrantes?
Acho que, nos últimos dois
anos, tem havido um recrudescimento dos cuidados na entrada. Brasileiro é muito
visado porque brasileiro imigra muito, tem imigrado muito, embora tenha havido
um fluxo de volta intenso. Nós recebemos em Paris muita gente de Portugal, da
Espanha, países que foram mais atingidos pela crise econômica do que a França.
Pessoas que não queriam deixar a União Europeia então vieram buscar emprego
aqui. Muitos membros desse contingente não vêm de avião, vêm por terra, então o
controle é mais difícil de ser feito.
RFI - Como esses casos são
resolvidos?
Muitos são resolvidos
rapidamente, porque a polícia faz muita pressão para que os brasileiros não
entrem. Eles ficam atemorizados. A polícia aproveita então a própria passagem
comprada pelo sujeito para expulsá-lo. Há relatos em que as autoridades mais do
que pressionam. Não posso falar em coação, mas é quase isso. Elas criam uma tal
atmosfera de medo e de terror, embora não sejam ameaças diretas, mas veladas,
que as pessoas ficam aterrorizadas e acreditam que algo grave pode acontecer se
elas não forem embora. Mas quando o viajante exige que o consulado fique a par
do assunto, imediatamente fazemos contato telefônico e saímos em campo para
ajudar a resolver a situação. Caso a família possa mandar dinheiro, ou o amigo
aqui na França envie uma carta, através da mairie (prefeitura), dizendo que se
responsabiliza pela estadia da pessoa, podemos resolver tudo rapidamente. Mas,
caso o assunto já esteja na mão de um juiz, nossa ação é limitada. Mas em 60%
dos casos a pessoas acaba entrando.
RFI: O problema é
desinformação ?
O problema é que tem muito
brasileiro que acha que tem um amigo que foi para a França e se deu bem, sem
ter a menor ideia do que seja a vida na França, ou na Europa. Faz contas, pega
um salário mínimo e transforma em real, o que parece um salário de
"rei" em relação à realidade dele no Brasil. Pega o primeiro avião e
se esquece que qualquer país tem direito de escolher quem pode entrar ou não no
território, ou estabelecer uma cota, ou critérios. E os brasileiros vêm assim,
desavisadamente. Geralmente são pessoas humildes, sem educação formal e de
todas as regiões do Brasil. Surpreendemente, o sudeste e o sul estão na frente.
Tem muita gente do Espírito Santo, do interior do Rio, de São Paulo, Minas, do
Paraná. Claro que também tem Pará, Rio Grande do Norte, mas os números maiores
não vêm no Norte e no Nordeste.
RFI
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