segunda-feira, 7 de julho de 2014

Brasileiros foram os estrangeiros mais barrados na França em 2013

Mesmo sem necessidade de visto para turismo, os brasileiros foram os estrangeiros mais barrados na chegada à França em 2013, segundo informações exclusivas divulgadas à RFI pelo Consulado Geral do Brasil em Paris. No ano passado, de janeiro a novembro, 482 brasileiros ficaram retidos no aeroporto de Roissy Charles de Gaulle, sem contar os casos não contabilizados.
O Brasil vence da China, por exemplo, que chega em segundo lugar, com 331 detidos. Em terceiro lugar na lista das nacionalidades mais barradas da fronteira estão os argelinos (287), seguidos dos cidadãos de países colonizados pela França: Guiné (257) e Senegal (175), Mali (141), do Congo (159), Nigéria (80) e Camarões (56).
Os dados foram fornecidos pelas autoridades francesas. A maior parte dos brasileiros detidos no aeroporto vem das regiões sul e sudeste, de acordo com o cônsul geral do Brasil em Paris, Julio Cezar Zelner Gonçalves. Cerca de 60% dos casos acabam sendo resolvidos, mas muitos nem chegam ao conhecimento do consulado.
O fluxo de imigração para a França também inclui brasileiros clandestinos que viviam em Portugal ou na Espanha, mas decidiram mudar para outros países menos atingidos pela crise econômica.
RFI - Quantos brasileiros são barrados diariamente?
Por dia, temos uma taxa de retorno que varia de 6 a 12 viajantes. Pessoas que chegam ao aeroporto e a polícia não acredita que estejam vindo passear. Isso é fácil: no aeroporto, o funcionário pergunta o que a pessoa veio fazer na França e ela responde : "turismo." Eles então questionam o que o viajante pretende conhecer na França e muitas vezes o brasileiro não sabe responder.
RFI - Como as pessoas devem se comportar ao chegar na França?
Primeiro: providencie alguém que é responsável por você aqui, pela sua manutenção. Porque geralmente os barrados viajam sem dinheiro. Os países que assinaram o acordo de Schegen determinam uma quantia necessária por dia para autorizar a entrada de um turista. Se você não tem o valor correspondente a 20 dias de estadia, por exemplo, ou um cartão de crédito, a situação pode complicar. Frequentemente, as pessoas nem reservam um hotel.
RFI - A França tem dificultado a entrada de imigrantes?
Acho que, nos últimos dois anos, tem havido um recrudescimento dos cuidados na entrada. Brasileiro é muito visado porque brasileiro imigra muito, tem imigrado muito, embora tenha havido um fluxo de volta intenso. Nós recebemos em Paris muita gente de Portugal, da Espanha, países que foram mais atingidos pela crise econômica do que a França. Pessoas que não queriam deixar a União Europeia então vieram buscar emprego aqui. Muitos membros desse contingente não vêm de avião, vêm por terra, então o controle é mais difícil de ser feito.
RFI - Como esses casos são resolvidos?
Muitos são resolvidos rapidamente, porque a polícia faz muita pressão para que os brasileiros não entrem. Eles ficam atemorizados. A polícia aproveita então a própria passagem comprada pelo sujeito para expulsá-lo. Há relatos em que as autoridades mais do que pressionam. Não posso falar em coação, mas é quase isso. Elas criam uma tal atmosfera de medo e de terror, embora não sejam ameaças diretas, mas veladas, que as pessoas ficam aterrorizadas e acreditam que algo grave pode acontecer se elas não forem embora. Mas quando o viajante exige que o consulado fique a par do assunto, imediatamente fazemos contato telefônico e saímos em campo para ajudar a resolver a situação. Caso a família possa mandar dinheiro, ou o amigo aqui na França envie uma carta, através da mairie (prefeitura), dizendo que se responsabiliza pela estadia da pessoa, podemos resolver tudo rapidamente. Mas, caso o assunto já esteja na mão de um juiz, nossa ação é limitada. Mas em 60% dos casos a pessoas acaba entrando.
RFI: O problema é desinformação ?
O problema é que tem muito brasileiro que acha que tem um amigo que foi para a França e se deu bem, sem ter a menor ideia do que seja a vida na França, ou na Europa. Faz contas, pega um salário mínimo e transforma em real, o que parece um salário de "rei" em relação à realidade dele no Brasil. Pega o primeiro avião e se esquece que qualquer país tem direito de escolher quem pode entrar ou não no território, ou estabelecer uma cota, ou critérios. E os brasileiros vêm assim, desavisadamente. Geralmente são pessoas humildes, sem educação formal e de todas as regiões do Brasil. Surpreendemente, o sudeste e o sul estão na frente. Tem muita gente do Espírito Santo, do interior do Rio, de São Paulo, Minas, do Paraná. Claro que também tem Pará, Rio Grande do Norte, mas os números maiores não vêm no Norte e no Nordeste.
 

 RFI

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