Uns governantes que se declaram esclarecidos sobre a via única, e
que por isso olham com desagrado o peso dos cabelos brancos nos orçamentos,
justamente numa época em que o avanço do saber torna as ciências sociais
cautelosas em enunciar certezas dogmáticas, evitam juízos de probabilidade, e
estão prontas a aceitar que os juízos de possibilidade podem ser desmentidos
pela realidade inesperada, são obrigados a somar às suas inquietações a questão
dos jovens de hoje, que não veem no horizonte próximo um futuro amparado na
segurança da organização social, e sobretudo política, confiável. E por isso a
juventude tende, segundo alguns preocupados analistas, a ser acolhida não pela
idade mas com base nas capacidades correspondentes à competição a que os
Estados mais capazes se dedicam para os captar.
Trata-se
naturalmente de necessidades da inovação, crescimento, e sustentação na
economia competitiva que se tornou mundial, mas também de uma contribuição, não
menos importante, para o rejuvenescimento e fortalecimento da sua população,
com efeito contrário ao que acontece entre nós, que perde com os competentes
emigrantes os povoadores que lhe escasseiam. Os Estados Unidos da América foram
cuidadosos nesse recrutamento, cuidado também verificado por exemplo no Canadá
e na Austrália, de tal modo que, como foi notado, são chamados "nações de
imigrantes", e cuja multiplicação povoadora talvez explique que Obama
tenha lembrado, num discurso recente, "somos todos americanos", tal
como Mandela, embora por diferentes e mais difíceis circunstâncias, tenha
repetido "somos todos sul-africanos".
Mas
a luta pelos talentos, que prejudica os países que os perdem pela emigração, é
bem diferente da imaginada afluência e consumismo que atrai os emigrantes dos
países da miséria, sem qualificação, e que conservam a antiga imagem da Europa
rica, hoje diferente pelos factos da crise, com movimentos cívicos contra a
liberdade de circulação, como está a acontecer nessa Europa empobrecida, em
dificuldades com os imigrantes do Sul e do Leste.
Nesta
data, segundo as notícias, os países tradicionalmente recetores desta colheita
de talentos, que eram o Canadá, a Austrália, e sobretudo os EUA, encontram-se
perante a concorrência da China e da Índia, mas também da Alemanha. Esta
última, segundo Emma Broughton, destacando-se também a sua hegemonia crescente
na direção política europeia, desde o ano 2000 desenvolve agressivamente uma
política de atração dos talentos jovens "pela penúria de mão-de-obra em
alguns setores, de que sofrem a maior parte dos países industrializados, mas
que se agrava na Alemanha pelo facto de uma demografia declinante". Na
restante Europa recetora das imigrações, aparece agora uma questão que é a de
conciliar a política imigratória, que está a provocar reações contrárias à
livre circulação, com a questão dos "direitos das crianças".
O
tema dos menores, segundo as leis variáveis de cada terra, deve observar o
artigo 3.º da Convenção Internacional dos Direitos das Crianças, a qual
estipula que "em todas as decisões que respeitem às crianças, quer sejam
originárias de instituições públicas ou privadas de proteção social, dos
tribunais, das autoridades administrativas ou de órgãos legislativos, o
interesse superior da criança deve ser uma condição primordial", mas
surgem queixas de que os menores indocumentados, ou mal documentados, não veem
os seus direitos respeitados mesmo em Estados da União. Entre a lei que os
manda proteger e a lei que regula o trânsito, esta tende a prevalecer, talvez
pelo estado atual da economia. Trata-se, como é insistentemente proclamado, de
um conflito entre a moral e a política que agrava o panorama social a que fomos
conduzidos. A tendência para ignorar o Estado social encontra aqui mais uma
dificuldade nascida da crescente política defensiva contra as migrações
ilegais, certamente também contra o valor da dignidade e da solidariedade, que
de regra perde quando em conflito com as exigências da política.
Adriano Moreira
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