Mortos estavam em um barco pesqueiro superlotado que tentava alcançar a
Europa ilegalmente. Tragédia motivou crise entre governo e oposição
Trinta corpos de imigrantes ilegais foram encontrados na noite deste
domingo em um barco lotado de refugiados no canal da Sicília, informou nesta
segunda a Marinha italiana. Os italianos também informaram que conseguiram
resgatar 5.000 pessoas durante o fim de semana, todo em embarcações
clandestinas superlotadas que tentam entrar na Europa ilegalmente. "Uma
equipe médica declarou que as causas dessas mortes provavelmente são asfixia e
afogamento, e desaconselhou a retirada dos corpos em razão do pouco espaço",
informa o comunicado da Marinha sobre os mortos. A Marinha confirmou a
possibilidade de ter entrado água na embarcação, o que explicaria a morte de
alguns refugiados por afogamento e a de outros por asfixia por falta de espaço.
A descoberta macabra aconteceu no momento em que militares subiram a
bordo de um pesqueiro que transportava 590 refugiados e imigrantes. O objetivo
era deixar em terra firme às pessoas mais necessitadas, incluindo duas
grávidas. A embarcação começou a ser rebocada pelo navio Grecale da Marinha
italiana e deve chegar a Pozzallo, na região de Ragusa, no sudeste da Sicília,
ainda nesta segunda-feira, enquanto o desembarque dos corpos das vítimas esta
previsto para terça-feira de manhã.
"É uma situação de emergência que não podemos enfrentar
sozinhos", advertiu Luigi Ammatuna, prefeito de Pozzallo, afirmando que o
cemitério local não poderia receber, por falta de espaço adequado, os 30
cadáveres. "Também é impossível acolher os cerca de 900 imigrantes que
estão prestes a desembarcar porque os centros de acolhida de nossa região estão
lotados", acrescentou.
Repercussão – A nova tragédia provocou a ira do partido anti-imigração da Liga do
Norte, que denunciou "as camisas ensanguentadas" do chefe de governo Matteo Renzi e de seu ministro
do Interior Angelino Alfano. "Trinta novos mortos em uma embarcação.
Trinta novos mortos para pesar na consciência daqueles que defendem a operação
Mare Nostrum”, escreveu em seu Facebook Matteo Salvini, o chefe da Liga do
Norte. A operação, batizada com o nome que os romanos davam ao Mar
Mediterrâneo, foi iniciada pela Itália e União Europeia (UE) em 2013 após dois
terríveis naufrágios, um na região de Lampedusa e outro perto de Malta, que
deixaram quase 400 mortos. "É preciso parar as partidas imediatamente. As
camisas de Renzi e Alfano estão ensanguentadas", ressaltou Matteo Salvini.
A Liga do Norte, assim como outros partidos membros da direita italiana,
consideram que a operação Mare Nostrum encoraja os imigrantes, enquanto o
governo de centro-esquerda de Matteo Renzi, apoiado por seu aliado de
centro-direita, o partido Nuovo Centrodestra (NCD), assegura que esta operação
é indispensável para salvar vidas humanas.
Desde o início do ano, segundo as autoridades, mais de 65.000 imigrantes
e refugiados, incluindo os 5.000 deste fim de semana, fugindo das guerras e da
miséria, desembarcaram na Itália. O recorde de 2011, quando o número de
imigrantes atingiu as 63.000 pessoas em razão da Primavera Árabe, já foi
ultrapassado. Como o verão no hemisfério norte apenas, as boas condições climáticas
devem incitar dezenas de milhares de outros refugiados a tentar a travessia. A
Itália obeteve um reforço da Frontex, a agência de monitoramento das fronteiras
da Europa, e um apoio adicional para gerenciar o fluxo de imigrantes. Mas o
país deseja da UE, e em particular dos países do norte da Europa, uma maior
solidariedade na recepção desses imigrantes.
(Com agência France-Presse)
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