Apenas no último final de semana, 55 pessoas do país chegaram à cidade.
Estrangeiros aguardam atendimento da PF e contam com solidariedade.
A situação dos ganeses em Caxias do Sul, na Serra
do Rio Grande do Sul, está chegando a um ponto crítico. Durante o fim de
semana, dias 12 e 13, mais 55 cidadãos de Gana chegaram a cidade do Rio Grande
do Sul para encaminhar pedidos de refúgio e legalizar a permanência no Brasil.
Os ganeses entraram no país com vistos de turistas, concedidos pela embaixada
brasileira em Acra, capital do país. De acordo com o Centro de Atendimento ao
Migrante (CAM), entidade que recebe e atende os estrangeiros recém-chegados, em
13 dias, 327 ganeses já passaram pela cidade.
Embora a maioria dos estrangeiros não planeje
continuar na cidade, muitos seguem ali esperando pelo atendimento na Polícia
Federal. Segundo a Irmã Maria do Carmo Gonçalves, coordenadora do CAM, são
atendidos apenas 15 estrangeiros por dia no escritório da Polícia Federal de
Caxias, o que os coloca em uma espécie de fila de espera sem previsão de
atendimento. Enquanto aguardam para encaminhar seus papéis, os ganeses têm se
"hospedado" em uma quadra de esportes do Seminário Nossa Senhora
Aparecida. A religiosa diz que nesta segunda-feira (14), mais de 100 pessoas
devem dormir no local.
A vereadora Denise Pessoa
(PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de
Caxias do Sul, encaminhou um ofício ao gabinete da Secretária Estadual de
Direitos Humanos, Jussara Dutra, e ao Comitê para Refugiados, Migrantes, Apátridas e Vítimas do Tráfico de Pessoas (Comirat), também parte da secretaria.
"O motivo do envio deste ofício foi
especialmente pela questão de acolhimento. Não pode seguir sempre uma situação
provisória, por tempo indeterminado, de pessoas dormindo em quadras de esporte
sem assistência do poder público. A gestão pública precisa intervir",
declarou em entrevista ao G1.
A vereadora, que acompanha casos de migração desde
2012 na cidade, com a chegada de haitianos e senegaleses, também encaminhou
solicitação de ajuda à Assistência Social do Ministério de Desenvolvimento
Social e ao Conselho Nacional de Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça.
"Estamos pedindo que a PF e o Ministério da
Justiça passem a aceitar formulários em inglês, para economizar tempo com as
traduções e agilizar o processo", explica Pessoa.
Nos últimos dias a Comissão formou uma espécie de
força-tarefa dentro da Câmara para ajudar os ganeses a preencher requerimentos
de refúgio a serem entregues à Polícia Federal (PF). Depois de preenchidos em
inglês, língua utilizada pelos estrangeiros para se comunicar, os documentos
ainda tem de ser traduzidos por voluntários.
A Irmã Maria do Carmo, que tem acompanhado de perto
a saga dos ganeses em Caxias, confirma que eles alegam perseguição religiosa e
étnica em seu país de origem como fundamentação do pedido de refúgio. Segundo
ela, a fala do
vice-ministro de Informação de Gana, Felix Kwakye Ofosu, que
declarou em entrevista à uma rádio do país que os pedidos de refúgio no Brasil
têm "base completamente falsa", repercutiu mal entre os ganeses que
estão em Caxias do Sul.
"Ficaram muito bravos com a postura do
ministro. Eles dizem que o governo não faz nada por eles e que a única
alternativa dos jovens do país é sair de lá para buscar uma condição melhor de
vida. Não existe uma situação de guerra civil, mas existem problemas, questões
específicas em cada região do país, segundo eles nos contam", relata a
coordenadora do grupo.
A maioria dos ganeses que chegou ao Rio Grande do
Sul nas últimas semanas são muçulmanos. Minoria no país, representando 11% da
população ganesa, eles alegam ser perseguidos por grupos tribais dentro da
própria religião.
O assessor de Cooperação e Relação Internacional do
Gabinete do Governador do Estado Fábio Balestro explica que a situação dos
haitianos e senegaleses foram excepcionais. Imigrantes de ambas as
nacionalidades entraram no Brasil ilegalmente, depois deram entrada em pedidos
de refúgio para permancer no país. Enquanto os imigrantes do Haiti conseguiram
visto humanitário por reconhecimento da situação do país atingido por um
furacão em 2010, os senegaleses tiveram sua situação regularizada como
coletivo, em dezembro de 2012. Em trabalho conjunto de governos estadual e
federal, foi publicada uma resolução do Conselho Nacional de Imigração (CNIg)
que regularizou a situação de 95% dos senegaleses que já estavam no Brasil,
trabalhando ou estudando.
"No caso dos ganeses, cabe ao Comitê Nacional
de Refugiados analisar se julga que esses individuos têm razão no temor por
perseguição", avalia Balestro. "Se fossem refugiados da Síria, um
país que tem uma situação reconhecida de conflito, eles teriam o refúgio
reconhecido quase imediatamente. Gana é um país mais estável, acredito que será
difícil conseguir esse reconhecimento para mais de 300 ganeses. Mas só o Conare
poderá dizer isso com propriedade", afirmou o assessor.
Ministério da Justiça não tem previsão de vir ao RS
Os ganeses não têm se estabelecido apenas no Rio Grande do Sul. Além de Caxias, Criciúma, em Santa Catarina, e cidades satélite de Brasília, no Distrito Federal, também têm recebido uma invasão ganesa nas últimas semanas. A Irmã Maria do Carmo conta que enquanto vivem a incerteza se terão ou não sua situação reconhecida pelo governo brasileiro, os estrangeiros já avisaram que não pensam em voltar para Gana.
Os ganeses não têm se estabelecido apenas no Rio Grande do Sul. Além de Caxias, Criciúma, em Santa Catarina, e cidades satélite de Brasília, no Distrito Federal, também têm recebido uma invasão ganesa nas últimas semanas. A Irmã Maria do Carmo conta que enquanto vivem a incerteza se terão ou não sua situação reconhecida pelo governo brasileiro, os estrangeiros já avisaram que não pensam em voltar para Gana.
Por meio de assessoria, o Ministério da Justiça,
responsável por presidir o Conare, afirmou que enviará uma missão a Caxias do
Sul para entrevistar os solicitantes e encaminhar relatórios. O ministério
esclarece que a missão só acontece depois que o órgão receber os processos por
parte da Polícia Federal (PF), ainda sem data para ocorrer. Com o protocolo de
pedido encaminhado à PF, os estrangeiros podem permanecer no país e ter
carteira de trabalho assinada, até ter seu caso julgado pelo Conare.
O assessor de Cooperação e Relação Internacional do
gabinete do governador do estado, Fábio Balestro, disse que enquanto a situação
aguarda um desfecho, o estado só pode prestar auxílio. "O máximo que
podemos fazer neste momento é assistir para que essas pessoas não fiquem
desamparadas", afirmou.
Mais informações sobre como colaborar com o Centro
de Atenção ao Migrante de Caxias do Sul, podem ser obtidas em contato com o
Padre Edmundo, pelo telefone: (54) 9948-7448.
G1 Rio Grande do Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário