Na Bahia, a fé no
impossível leva jovens a uma missão improvável. Qual é o estrangeiro que ao
chegar no estado não fica deslumbrado com a paisagem?
Agnieszka
Mazurek saiu da Polônia há um ano e meio, e já pegou até o sotaque. Ela foi
seduzida pela vida, no meio do abandono da periferia. Agnieszka e outros quatro
jovens estrangeiros preferem morar onde os turistas não costumam ir, e se
sentem em casa em Coroa da Lagoa, um bairro pobre de Simões Filho, município
vizinho de Salvador.
Eles
decidiram deixar o conforto para trás e morar em um dos lugares mais violentos
do Brasil. Na entrada da casa se vê um coração, mas também grades e cadeados.
Mas a porta está sempre aberta, as pessoas vão chegando. A missão é muito
simples: ajudar e ficar sempre a disposição.
Crianças
participam de atividades diariamente na casa dos estrangeiros. Os adultos
também se sentem à vontade. Fazer da casa um coração aberto é a meta desse
movimento que surgiu na França há mais de meio século e se espalhou por 20
países.
A
missão é viver a experiência da compaixão. “A vida na comunidade é uma escola
de amor, acho que isso é o mais importante”, diz a professora Agnieszka
Mazurek.
Os
jovens se comprometem a morar em comunidade, em um período que vai de um a dois
anos.
Daniela
saiu de Honduras, país da América Central. Eduardo e Floriano são franceses.
Mariana acabou de chegar da Argentina.
Viver
em comunidade às vezes é complicado por causa da distribuição de tarefas da
casa. Segundo a Daniela, dá até briga, por isso eles criaram um sistema de
disco, com o nome dos cinco integrantes da casa e as tarefas em volta. O disco
vai rodando e cada um fica com uma tarefa.
“Qual
é a tarefa mais complicada?”, pergunta o repórter Carlos de Lannoy.
“Bom
depende de cada pessoa, mas para mim é a cozinha, porque eu não sabia muito de
cozinha e tive que aprender mais aqui”, responde a bióloga Daniela Borjas.
Os
missionários acordam cedo, e antes da longa jornada de atividades ficam em
silêncio para a leitura da bíblia e a oração. Eles vivem sem televisão, sem
internet e sem rádio.
A
dona de casa Josimeire Pereira de Jesus explica como os estrangeiros ganharam a
confiança e o carinho da comunidade. “Eles ajudam. Tem pessoas na comunidade
que precisa levar para o médico, eles vão visitar as pessoas que estão
internadas, se precisa marcar alguma consulta, se eles estão disponíveis, eles
vão fazer isso”, conta.
Ainda
é de manhã e lá vão eles para o momento mais importante do dia: as visitas. E
saem com a missão de estender a mão.
Agnieszka
e Eduardo acompanharam de perto o caso da empregada doméstica Lindaura dos
Santos Reis, que fez tratamento de câncer de mama e agora sofre com outra
doença. “Hanseníase. Agora está atacando meus nervos”, conta.
Agnieszka
quer saber se Lindaura está seguindo as orientações do médico. Quem recebe
atenção, retribui com carinho. “Me acompanham esses anos para médico, para
tudo. São meus anjos da guarda. Sem eles nem sei o que fazia”, conta.
A
relação é de amizade, de afeto. E são vários amigos na vizinhança. Seu Ernesto
de 79 anos, mora sozinho. Há 16 teve complicações na medula, foi desenganado. E
desde então raramente sai da cama.
“Aqui
vem francês, vem americano, vem um menino da Rússia. A sensação é que eu
desabafo com eles, converso, conto minha vida para eles, eles contam também um
pouquinho do país deles para mim. É aquela alegria, não tenho outra. Vou fazer
o que?”, diz.
Alegria
para Seu Ernesto e para os missionários. Os jovens ficam tristes quando pensam
na hora da partida. “Pensando sobre isso, estou chorando já, quando eu penso
sobre esse momento. Acho que todos choram no aeroporto quando saem”, afirma
Agnieszka.
G1
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