segunda-feira, 22 de julho de 2013

Estrangeiros se mudam para um dos lugares mais perigosos do Brasil com o objetivo de ajudar

Na Bahia, a fé no impossível leva jovens a uma missão improvável. Qual é o estrangeiro que ao chegar no estado não fica deslumbrado com a paisagem?
Agnieszka Mazurek saiu da Polônia há um ano e meio, e já pegou até o sotaque. Ela foi seduzida pela vida, no meio do abandono da periferia. Agnieszka e outros quatro jovens estrangeiros preferem morar onde os turistas não costumam ir, e se sentem em casa em Coroa da Lagoa, um bairro pobre de Simões Filho, município vizinho de Salvador.
Eles decidiram deixar o conforto para trás e morar em um dos lugares mais violentos do Brasil. Na entrada da casa se vê um coração, mas também grades e cadeados. Mas a porta está sempre aberta, as pessoas vão chegando. A missão é muito simples: ajudar e ficar sempre a disposição.
Crianças participam de atividades diariamente na casa dos estrangeiros. Os adultos também se sentem à vontade. Fazer da casa um coração aberto é a meta desse movimento que surgiu na França há mais de meio século e se espalhou por 20 países.
A missão é viver a experiência da compaixão. “A vida na comunidade é uma escola de amor, acho que isso é o mais importante”, diz a professora Agnieszka Mazurek.
Os jovens se comprometem a morar em comunidade, em um período que vai de um a dois anos.
Daniela saiu de Honduras, país da América Central. Eduardo e Floriano são franceses. Mariana acabou de chegar da Argentina.
Viver em comunidade às vezes é complicado por causa da distribuição de tarefas da casa. Segundo a Daniela, dá até briga, por isso eles criaram um sistema de disco, com o nome dos cinco integrantes da casa e as tarefas em volta. O disco vai rodando e cada um fica com uma tarefa.
“Qual é a tarefa mais complicada?”, pergunta o repórter Carlos de Lannoy.
“Bom depende de cada pessoa, mas para mim é a cozinha, porque eu não sabia muito de cozinha e tive que aprender mais aqui”, responde a bióloga Daniela Borjas.
Os missionários acordam cedo, e antes da longa jornada de atividades ficam em silêncio para a leitura da bíblia e a oração. Eles vivem sem televisão, sem internet e sem rádio.
A dona de casa Josimeire Pereira de Jesus explica como os estrangeiros ganharam a confiança e o carinho da comunidade. “Eles ajudam. Tem pessoas na comunidade que precisa levar para o médico, eles vão visitar as pessoas que estão internadas, se precisa marcar alguma consulta, se eles estão disponíveis, eles vão fazer isso”, conta.
Ainda é de manhã e lá vão eles para o momento mais importante do dia: as visitas. E saem com a missão de estender a mão.
Agnieszka e Eduardo acompanharam de perto o caso da empregada doméstica Lindaura dos Santos Reis, que fez tratamento de câncer de mama e agora sofre com outra doença. “Hanseníase. Agora está atacando meus nervos”, conta.
Agnieszka quer saber se Lindaura está seguindo as orientações do médico. Quem recebe atenção, retribui com carinho. “Me acompanham esses anos para médico, para tudo. São meus anjos da guarda. Sem eles nem sei o que fazia”, conta.
A relação é de amizade, de afeto. E são vários amigos na vizinhança. Seu Ernesto de 79 anos, mora sozinho. Há 16 teve complicações na medula, foi desenganado. E desde então raramente sai da cama.
“Aqui vem francês, vem americano, vem um menino da Rússia. A sensação é que eu desabafo com eles, converso, conto minha vida para eles, eles contam também um pouquinho do país deles para mim. É aquela alegria, não tenho outra. Vou fazer o que?”, diz.
Alegria para Seu Ernesto e para os missionários. Os jovens ficam tristes quando pensam na hora da partida. “Pensando sobre isso, estou chorando já, quando eu penso sobre esse momento. Acho que todos choram no aeroporto quando saem”, afirma Agnieszka.


G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário