Dom Moacyr Greccy. 28ª Semana do Migrante
(16-23/06) com o objetivo de sensibilizar a sociedade para a caminhada da
juventude migrante. A partir do tema “Juventude e Migração” e do lema “No passo
da estrada, o bem viver”, a Semana do Migrante está em sintonia com a Campanha
da Fraternidade deste ano e com o grande acontecimento de julho: Jornada
Mundial da Juventude no Rio de Janeiro (23-28/07).
O Dia Mundial do Migrante e do
Refugiado nos demais países que foi celebrado no dia 13 de janeiro, teve como tema “Migrações: peregrinação de fé e de
esperança” e como apelo maior atenção para o aumento dos migrantes e a
crescente mobilidade populacional entre regiões, países e continentes.
Em sua mensagem para este dia, Bento
XVI publicou uma mensagem inspirada na Gaudium et Spes, documento do Concílio
Vaticano II, destacando a dimensão de uma Igreja que caminha com seu povo e que
marca um momento decisivo para a pastoral dos migrantes e itinerantes: “Os
fluxos migratórios são um fenômeno impressionante pela quantidade de pessoas
envolvidas, pelas problemáticas sociais, econômicas, políticas, culturais e
religiosas que levanta, pelos desafios dramáticos que coloca à comunidade
nacional e internacional”.
A Igreja, pela própria missão que lhe
foi confiada por Cristo, é chamada a prestar particular atenção e solicitude,
de modo a acolher e acompanhar “a inserção integral dos migrantes, requerentes
de asilo e refugiados no novo contexto sociocultural, sem descuidar a dimensão
religiosa, essencial para a vida de cada pessoa”. (continua)
“Quem migra tem a esperança de
melhorar a própria vida” disse Mons. Paolo Schiavon, presidente da Fundação
Migrantes, na Itália, em entrevista à Rádio Vaticano. Para ele, os 215 milhões
de migrantes no mundo partem porque querem buscar uma condição de vida melhor
para si e suas famílias, mas ao mesmo tempo, nesta viagem, a sua situação muda
de acordo com as pessoas que encontram.
“Pensemos nos dois mil mortos no
Mediterrâneo, no ano passado. É necessário unir esse tema da esperança ao tema
de uma fé que se torna promoção dos direitos humanos, lutando contra aquelas
formas que muitas vezes nascem no mundo da migração, como violência e abuso”,
relembrou o monsenhor.
No Brasil, por determinação da 17ª
Assembleia Geral da CNBB, o dia Nacional do Migrante é celebrado no dia 25 de
junho, quando cair em domingo ou, caso contrário, no domingo imediatamente
anterior a essa data. Neste ano, a Semana vai do dia 16 a 23 de junho, que é o
Dia Nacional do Migrante.
Lendo o Texto-Base, conhecemos um
pouco mais a realidade dos jovens migrantes, suas conquistas, dificuldades e
expectativas. Juventude que é desafiada a dar passos decisivos em suas vidas.
Não raro, o caminho dos nossos jovens é determinado pela força de
circunstâncias adversas. Eles são cheios de potencialidades, porém não lhes são
dadas as oportunidades para desenvolvê-las. São atropelados em seu processo de
amadurecimento, obrigados a ingressar precocemente na luta pela sobrevivência,
forçados a migrar em busca de acesso à educação, trabalho e renda. Submetidos
às influências culturais, sociais e econômicas diversas, estampam no rosto, na
roupa, no comportamento e na linguagem o esforço para encontrar e garantir o
seu espaço, os seus direitos, a tentativa para adequar-se ao meio que lhes é
estranho e, ao mesmo tempo, conservar a própria identidade. Carentes de afeto,
lazer e assistência e com nível precário de escolaridade, os jovens se sentem
confusos, perdidos, sem um sentido ou motivação profunda para viver. Perambulam
sem rumo, sem sonhos, sem perspectivas ou correm, ora sendo atropelados, ora
atropelando para garantir a sobrevivência. Qualquer alternativa parece válida
para conseguir o privilégio de viver bem a qualquer preço! Tornam-se vítimas do
sistema que os exclui, marginaliza e empurra para a criminalidade.
Nesta Semana do Migrante, a Igreja,
através do Serviço Pastoral dos Migrantes, convida-nos a refletir na caminhada
da juventude, em seu compromisso com a construção da sociedade do Bem viver, em
sua participação e capacidade de ampliar os espaços de deliberação e controle
social das políticas públicas. Os jovens, com todo o potencial de renovação e
ousadia, poderão suscitar ações diferenciadas que rompam com as desigualdades
sociais que persistem em nossa história. É a busca da “Terra sem males” que
passa necessariamente pela elaboração de um novo Estado, conforme as indicações
5ª Semana Social Brasileira que, a partir do tema “A participação da sociedade
no processo de democratização do Estado - Estado para que e para quem?”, propõe
um jeito novo de pensar nossa presença no mundo.
A migração na Amazônia tem várias
faces e não é um fenômeno social recente. Para o antropólogo Louis Forline, a
migração na Amazônia brasileira tem atraído a atenção de vários estudiosos; a
questão da mobilidade social e a ocupação de espaço nesta vasta região têm tido
prioridade. Com o impulso da globalização, estamos diante de uma situação que
gera empregos e outros benefícios econômicos; simultaneamente, porém, cria
excedentes no mercado de trabalho, afetando locais e povos distantes. O
controle de populações e espaços periféricos se consolida através de uma rede
de interesses e capital alheio que ofuscam a dinâmica desta interligação. O
capital estrangeiro já se valeu de incentivos fiscais, a inexistência de normas
ambientais, além de uma série de leis contraditórias e relaxadas para
viabilizar seus investimentos no território amazônico. Entretanto, o Brasil
reage a tais questões tentando impor novas medidas para proteger seu patrimônio
natural e controlar o avanço desse capital. Embora sejam justas, estas medidas,
levadas ao extremo, podem fatalmente desestimular pesquisas e parcerias
necessárias à compreensão da Amazônia. Nestas circunstâncias, é evidente que
ficaríamos sem o devido conhecimento científico, essencial ao fornecimento de
subsídios para formular políticas públicas às questões de migração,
deslocamentos e mobilidade social.
São mais de 50 milhões de jovens no
país. Na Amazônia, nossos jovens migrantes são motivados por diferentes perspectivas
(segundo o IBGE, 64,6% da juventude na Amazônia é urbana). Em seu discurso aos
jovens, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, o Papa Bento XVI chamou a atenção
sobre a “devastação ambiental da Amazônia e as ameaças à dignidade humana de
seus povos” e pediu aos jovens “um maior compromisso nos mais diversos espaços
de ação” (DAp 85).
Percorrendo as Comunidades Eclesiais
de Base dos municípios de Rondônia, Acre e sul do Amazonas, durante as visitas
pastorais, pude constatar que os jovens são comprometidos com a mudança social
de suas comunidades, bairros e cidades. No processo de participação da vida da
Igreja, garantem qualidade e protagonismo, para que a Igreja continue sendo
“companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, sacramento de justiça
entre os povos” (DAp 396).
Dentre os “novos rostos excluídos que
a globalização faz emergir” (DAp 402) fixemos nosso olhar nos rostos dos
migrantes, nossos irmãos e irmãs que por diferentes motivos estão em constante
mobilidade. A Igreja, atenta ao fenômeno crescente da mobilidade humana em seus
diversos setores, incentiva, através das pastorais sociais, a acolhida e a
solidariedade com aqueles que chegam, como também com as famílias que deixam
nos lugares de saída, acreditando que “a realidade das migrações não deve nunca
ser vista só como um problema, mas também e, sobretudo, como um grande recurso
para o caminho da humanidade”.
Os migrantes devem ser acompanhados e
estimulados a se fazer discípulos e missionários nas terras e comunidades que
os acolhem, compartilhando com eles as riquezas de sua fé e de suas tradições
religiosas. Os migrantes que partem de nossas comunidades podem oferecer uma
valiosa contribuição missionária às comunidades que os acolhem (DAp 411-415).
Aos jovens que se mobilizam de todos
os cantos da terra, para a grande Jornada Mundial da Juventude, mantenham os
olhos fixos nos jovens que são forçados, sozinhos ou com suas famílias, a
migrar de um lado para o outro. Fortaleçam a rede de comunidades para que todos
eles se sintam acolhidos e participantes. Possa a Semana Missionária, que
antecede a Jornada, ser uma grande experiência de acolhimento e fraternidade e
que a missão os prepare para o grande encontro de fé, amizade e compromisso que
será a Jornada Mundial da Juventude.
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