Savio Warnakulasuriya,
nascido neste mês em Roma, terá de esperar até os 18 anos para ter certeza de
que poderá permanecer no país onde veio ao mundo.
Até lá, seu direito de permanecer na Itália
está vinculado aos vistos que permitem que seus pais, do Sri Lanka, trabalhem
como empregados domésticos. Os documentos precisam ser renovados a cada dois
anos.
Mas Savio poderia ser beneficiado por uma
proposta da ministra da Integração, Cecile Kyenge, para que o direito à
cidadania seja concedido já no nascimento -- algo que chocou muitos italianos e
motivou uma enxurrada de insultos racistas contra a ministra, que é negra.
A Itália é o país que mais recebe imigrantes
clandestinos por mar no sul da Europa. São milhares desembarcando todos os anos
em embarcações precárias e superlotadas que vêm do norte da África. Partidos
como o oposicionista Liga Norte fazem campanha contra o aumento dos direitos
dos imigrantes, apontando diferenças culturais e índices de criminalidade.
Kyenge, que nasceu no Congo e se tornou a
primeira pessoa negra a ocupar um cargo ministerial na Itália, acha que é hora
de mudar a política de concessão de cidadania, de modo a estimular a integração
de filhos de imigrantes.
Para o pai de Savio, Fernando, uma nova
política seria positiva. "Quanto antes derem cidadania ao nosso filho,
melhor. Estou um pouco preocupado, queremos que ele continue vivendo e
trabalhando aqui sem problemas", afirmou ele à Reuters.
A secretária Erika Arribasplata, de 34
anos, romana filha de argentinos, se lembra das dificuldades que enfrentou na
infância para se integrar na escola por não ser cidadã italiana.
"Eu me lembro, quando fui numa viagem
da escola à Inglaterra, que eu não podia passar pelos controles de fronteira
com o meu grupo, precisava pegar uma rota completamente diferente, onde tive de
esperar mais e passar por mais verificações -- foi realmente chato", disse
ele.
"Mas o mais chato era estar vinculada
à autorização (para a permanência) dos meus pais, e a insegurança que decorria
disso, porque nasci aqui e não me sentia parte da cultura deles, mas estava
presa no meio", disse Arribasplata.
Aos 18 anos, ela solicitou a cidadania
italiana e conseguiu -- mas outros não têm a mesma sorte.
O baixo índice de fertilidade na Itália,
1,4 filho por mulher, faz com que o país precise de sangue jovem para manter
sua população, cada vez mais envelhecida.
Mas, por causa dos processos burocráticos
que Kyenge deseja reduzir, alguns filhos de imigrantes nascidos na Itália podem
ter sua cidadania rejeitada aos 18 anos, por terem, por exemplo, passado algum
tempo longe da Itália durante a infância.
"Estamos falando de jovens que
poderiam se tornar os futuros líderes deste país, ou que poderiam se perder na
rua se repentinamente aos 18 anos descobrirem ser diferentes por causa de algum
erro burocrático", disse Kyenge a jornalistas nesta semana.
No sábado, ela revelou um plano para
facilitar a solicitação de cidadania por filhos de imigrantes que chegam à
idade adulta. A proposta é parte de uma série de medidas que o governo do
primeiro-ministro Enrico Letta está adotando para reduzir a burocracia e tirar
a economia da recessão.
Kyenge disse que em breve irá ao Parlamento
Europeu para propor uma abordagem comum de toda a União Europeia para as regras
de concessão de cidadania.
Terra
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