Uma das maiores
polêmicas recentes do governo Dilma Rousseff, a importação de médicos estrangeiros é prática comum em
diversos países, principalmente na Europa. Considerado detentor de rede modelo
de saúde pública, a Inglaterra, por exemplo,
possui 44 mil médicos provenientes do exterior, o que representa 37% de todo
seu contingente.
O
Brasil possui hoje um índice de 1,8 médicos para cada 1.000 habitantes, número
considerado baixo, principalmente em comparação com outros países como Reino
Unido (2,7), Uruguai (3,7) e Argentina (3,2). A baixa quantidade contribui para
que muitas cidades de regiões remotas do país possuam uma alta defasagem de
assistência médica, por falta de pessoal. O Ministério da Saúde abriu edital,
no início do ano, com 13.682 vagas para postos de trabalho nestes municípios,
sendo que só 3.601 pessoas se inscreveram.
Dezenas
de sindicatos e entidades se posicionaram contra o projeto do governo, alegando
que o maior problema não está na falta de mão de obra, mas sim nas precárias
condições de trabalho que são oferecidas e que é necessário um investimento
maior na modernização do sistema de saúde e na qualificação e valorização dos
profissionais. O edital para trabalho no interior prevê salários de 8.000
reais, bonificação de 10% nas provas de residência e exige que o município
atendido se inscreva no programa “Requalifica UBS”, em que a prefeitura recebe
verba para reformar seus postos de trabalho e assim o novo médico trabalharia
em uma infraestrutura mais adequada.
O
pedido de ajuda ao governo federal para suprir a assistência médica falha em
muitos locais do Brasil foi feito pela Frente Nacional dos Prefeitos, no início
do ano, quando sugeriram a vinda de médicos do exterior como solução. No
entanto, a prioridade do Ministério da Saúde continua sendo empregar os
próprios brasileiros, por isso um novo edital será aberto e a importação de mão
de obra internacional só ocorrerá se a totalidade de vagas não for preenchida,
o que já é esperado.
Modelos de fora
Programa
de mobilidade de funcionários dentro da Europa, a Eures, traduzido para
Serviços Europeus de Emprego, funciona como uma rede de cooperação, coordenada
pela Comissão Europeia, que visa a livre circulação de trabalhadores dentro do
Espaço Econômico Europeu, mais a Suiça. Dentro dos pedidos mais comuns à Eures
está a importação de médicos. Atualmente, por exemplo, a Dinamarca requereu
auxílio à rede, para contornar um problema de falta de profissionais de saúde.
Já
o Reino Unido conta com uma presença expressiva de médicos estrangeiros desde
os anos 60. Hoje em dia, 37% dos profissionais de saúde que atuam no país
vieram de fora. Em Portugal, a porcentagem desse índice é de 10%,
principalmente após a entrada de médicos cubanos em 2009 também para trabalhar
em regiões longínquas. No ano passado, sob pressão popular que aprovou a
medida, o governo renovou a parceria.
Em
números absolutos, o país que mais conta com médicos estrangeiros é os EUA, com
cerca de 190 mil profissionais em ativa, representando 25% do total. Lá também
existe um acordo de cooperação com o Canadá, com mútuo reconhecimento do
diploma e livre circulação dos funcionários de saúde. A Austrália também
investe em importação de médicos e conta com 22% de estrangeiros em seu sistema
de saúde.
Treinamento no Brasil
Inspirado
nestes modelos internacionais, o governo brasileiro também resolveu adotar a
importação de médicos, principalmente os de Portugal e Espanha. Para o
Ministério de Saúde alguns fatores explicam a fuga dos profissionais das vagas
em cidades do interior. Primeiramente a quantidade baixa de médicos que
existem no país e depois a alta desigualdade regional brasileira, onde regiões
remotas não são atrativas para as pessoas, principalmente com a oferta que
ainda existe nos grandes centros urbanos.
A
intenção do governo federal é realizar um mapeamento de centros de excelência
internacionais e uma avaliação criteriosa dos currículos. Ao serem
selecionados, os médicos estrangeiros serão submetidos a um treinamento de três
semanas em universidades brasileiras e, depois, terão supervisão periódica,
tanto do ministério quanto das universidades, enquanto estiverem atuando.
Uma
das medidas polêmicas dentro da regularização do profissional do exterior,
contudo, está na validação do diploma. O modelo normalmente utilizado é o do
Revalida, mas que não deve ser a escolha do governo. Com a aplicação da
revalidação parcial do diploma, o Ministério da Saúde só emite um visto
temporário de trabalho, de provavelmente dois ou três anos, conseguindo delimitar
a região de atuação do médico estrangeiro. Assim estes profissionais vão ser
obrigatoriamente mantidos nos municípios de interior, afastando a possibilidade
de uma migração para os grandes centros urbanos.
A
escolha de Portugal e Espanha como “fontes” dessa mão de obra é explicada pelo
fato desses países contarem com uma proporção muito grande de médicos,
praticamente o dobro que o Brasil, por terem foco em formação da saúde da
família, pela proximidade do idioma e pela crise econômica que enfrentam,
facilitando a atração dos trabalhadores. Cuba, que seria outro centro
exportador de médicos, ainda está sendo mais bem analisado pelo Ministério da
Saúde.
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