O alerta vem do comissário Laszlo
Andor, responsável pela pasta do emprego na Comissão Europeia:
No seio da UE, e neste tempo de crise, tensões crescentes contra
trabalhadores de origem não europeia (e mesmo pura xenofobia – o que é pior
ainda) estão a envenenar as relações de trabalho.
Isto fez-me recordar o que “sei” da questão desde há pelo menos três
décadas quando, como cônsul, já sentia que a presença de imigrantes na Europa era
“problemática”.
Na sua versão mais recente, é uma questão pois com 30 a 40 anos.
De facto, o problema começou a surgir, no debate público,
fomentado pelos partidos de direita radical, desde o fim das “três
gloriosas décadas” de crescimento incessante, subsequentes ao segundo conflito
mundial.
E foi o choque petrolífero, do princípio dos anos 70, que lhe pôs fim.
Nos anos 80 e 90, principalmente em França e na Alemanha, cada vez mais
se debateram os modelos de inserção social… e seus fracassos.
Sobretudo, tomou-se consciência dos efeitos perversos da criação de
guetos nas periferias suburbanas dos grandes centros, com duas consequências
negativas:
- A primeira foi o acentuar da tendência das comunidades viverem
culturalmente em autarcia, respondendo à rejeição pelo reforço da sua
identidade de origem, sendo isto mais visível nas comunidades árabo-muçulmanas;
- A outra consequência foi a crescente delinquência juvenil, resultante
não só da guetização, mas de um seu efeito directo: o insucesso escolar.
Discutiram-se nesse contexto de pré-crise os benefícios sociais que
usufruíam os trabalhadores estrangeiros, o modelo de família alargada que
tinham importado dos países de origem e o próprio direito de continuarem
a residir, permanentemente, nos países onde trabalharam durante décadas e onde
nasceu já a geração seguinte.
Recordo-me que em França, por exemplo, as medidas de legalização dos
trabalhadores clandestinos, pelos governos socialistas, eram antecedidas e
seguidas de um debate muito agitado nos media, onde os adeptos da inserção se
confrontavam crescentemente com atitudes de pura rejeição, segundo uma linha
étnica e cultural cada vez menos subtil… sobre o que era “ser francês”.
A partir dos anos 90, a disponibilidade de mão-de-obra barata,
originária dos países de Leste criou, as empresas, uma alternativa mais
apetecível, com o recrutamento de trabalhadores nos antigos países do bloco
soviético, vistos como grupos com maiores afinidades culturais, relativamente
aos países de acolhimento.
Maior pressão foi assim exercida sobre uma inteira geração de imigrantes
mais antigos, de origem sobretudo magrebina (França) e turca (Alemanha).
Ora, a crise atual estará a acentuar tendências de rejeição que
praticamente sempre existiram.
As respostas a tal problema são naturalmente políticas e terão de ter
resposta dupla: dos governos e sindicatos.
Será do modo como ambos gerirem os focos de segregação, governos e
sindicatos que se verá se a Europa, ultrapassada a crise, confirma o seu modelo
de uma sociedade aberta ou não, persistindo no reflexo atual de auto-defesa.
* Ex-embaixador de Portugal nas
Coreias, ASEAN e Indonésia. Docente da Universidade de S. José.
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