A discussão pública sobre a imigração está sendo distorcida por
preocupações sem fundamento com o ônus financeiro que os novos imigrantes
acarretam aos governos, segundo estudo da Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado na quinta-feira.
Em todo o mundo desenvolvido, "o impacto fiscal da imigração
é quase zero", diz a organização no relatório, que traça uma comparação
dos custos da imigração em diferentes países. "O impacto atual das ondas
cumulativas de migração dos últimos 50 anos não é tão grande, para o lado
positivo ou o lado negativo."
A OCDE, sediada em Paris, observou que entre 2001 e 2011 a
imigração foi responsável por 40% do crescimento populacional em seus países
membros. Mesmo assim, esse fluxo imigratório foi, na maioria dos casos, quase
irrelevante para a razão entre os gastos públicos totais e o PIB
--"geralmente não maior que 0,5% do PIB em termos positivos ou
negativos"--, na medida em que os custos maiores para os governos, como os
gastos militares, não são afetados pela imigração.
"Os imigrantes contribuem mais com impostos e contribuições
sociais do que recebem em benefícios individuais", disse Jean-Christophe
Dumont, o funcionário da OCDE que comandou o estudo. "Por isso seu impacto
fiscal líquido é principalmente positivo", embora seja pequeno.
"A percepção pública é que os imigrantes tiram muito mais do
que contribuem, mas não é isso o que acontece", ele disse.
Mas essa mensagem ainda não foi muito ouvida, constatou a OCDE, em
parte porque alguns filhos de imigrantes têm desempenho fraco na escola e no
mercado de trabalho e precisam de ajuda governamental. Em outros casos,
políticos têm facilidade em divulgar uma visão estereotipada de imigrantes,
para seu benefício político próprio.
Embora o estudo não tenha tratado da questão da imigração ilegal,
Dumont disse que "na maioria dos casos" os imigrantes ilegais
contribuem mais do que oneram os países em que se radicam, porque pagam muitos
impostos mas têm acesso limitado a serviços públicos como educação e saúde.
A OCDE compilou seu relatório usando dados estatísticos fornecidos
por seus países membros para 2011, o ano mais recente para o qual havia dados
completos disponíveis, além de alguns dados preliminares relativos a 2012. A
organização observou que, em alguns casos, os dados nem sempre foram
precisamente compatíveis em todos os países, devido a diferenças de definições.
Os 34 países membros da organização incluem a maioria dos países
do mundo desenvolvido, mas excluem importantes economias emergentes como China,
Rússia, Índia e Brasil. A organização entra na discussão sobre a imigração num
momento em que o tema ganha destaque devido ao alto desemprego e o crescimento
econômico morno, além do questionamento da viabilidade dos sistemas de
bem-estar social. Em alguns casos a discussão mistura questões econômicas e
identidade nacional de maneira politicamente conturbada.
DAVID JOLLY
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS
Nenhum comentário:
Postar um comentário