Do
Congo, veio o “Compagnon Petit Josée”, e da Colômbia, “Galiña y Zorro”. O “Zuu”
veio do Irã, e da Costa do Marfim chegou o “Passé”. Todas essas brincadeiras
infantis típicas destes respectivos países foram compartilhadas com refugiados,
solicitantes de refúgio e brasileiros de todas as idades na manhã do último
sábado, em São Paulo, durante um evento de celebração do Dia Mundial do
Refugiado.
As brincadeiras foram apresentadas pelos próprios refugiados e
contaram com a animada participação dos participantes do evento, que foi
promovido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR),
Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) e Serviço Social do Comércio (SESC)
de São Paulo. Cerca de 130 refugiados de 17 nacionalidades diferentes
participaram da celebração, ocorrida na unidade Itaquera do SESC SP.
“Costumava brincar de ‘Compagnon Petit Josée’ quando era criança
no Congo, e gostei de ver o envolvimento das pessoas com esta brincadeira aqui
no Brasil”, afirmou o refugiado Hidras Tuala, de 18 anos, que há nove meses
vive no Brasil. Sua família permanece no Congo. Nesta brincadeira, os
participantes se organizam em uma roda e são chamados a formar grupos de um
determinado número de pessoas ao final de um refrão e de palmas puxadas pelo
líder. Aqueles que não conseguem formar o grupo correto são eliminados. Vence o
grupo que fica por último.
“Em todas as regiões da Colômbia, as crianças brincam de ‘Galiña
y Zorro’ nas escolas e em festas de aniversário. Apresentar esta brincadeira me
fez lembrar o meu país”, disse C’ayu Manuela Hernandez, que há vive no Brasil
há 11 anos, e esteve no evento com seu pai. A brincadeira que ela apresentou lembra
a popular “Cabra Cega” brasileira, pois uma pessoa vendada (o Zorro – ou
raposa) tentar capturar o maior número de galinhas (ou galiñas) que ficam
gritando ao seu redor.
O
Dia Mundial do Refugiado celebrado em São Paulo foi um momento de lazer e diversão
para todos os refugiados presentes – a sua maioria, em núcleos familiares. O
evento refletiu a campanha “1 Família”, lançada globalmente pelo ACNUR para
marcar o Dia Mundial do Refugiado deste ano. O objetivo da campanha é mostrar
as consequências da fuga forçada para os núcleos familiares, que muitas vezes
separam-se ao deixar sua casa ou cidade, sob o risco de nunca mais voltarem a
se encontrar. Ela está disponível na internet, no site www.acnur.org/umafamilia
“O Dia Mundial do Refugiado é para refletir sobre o medo, o
drama e o sofrimento causados a milhares de pessoas por conflitos e
arbitrariedades que infelizmente ainda acontecem em muitos lugares do planeta.
Mas é também para celebrar a vida e a força de todos os homens, mulheres e
crianças que seguem em frente – desafiam o que parece impossível e conseguem
encontrar um pouco de paz e segurança longe de casa”, afirmou Humberto Peron
Jr, do SESC SP.
Para a refugiada Larissa Edy, da Costa do Marfim, a brincadeira
“Passé” é uma referência às escolhas democráticas que cada um deve fazer. Duas
pessoas – uma de frente para a outra – ficam de mãos dadas e formam uma espécie
de túnel, por onde os demais participantes passam. Aleatoriamente, essas duas
pessoas impedem a passagem de um participante e perguntam de lado de quem ela
quer ficar. Após todos os participantes fazerem suas escolhas, os dois lados
protagonizam um “cabo de guerra”, e vence o grupo que consegue puxar o outro.
“Lembra muito minha infância, e foi legal brincar aqui com outros refugiados e
com brasileiros também”, afirmou Larissa.
Os monitores do SESC Itaquera deram um toque brasileiro à festa
em São Paulo. Eles convidaram a todos os participantes para formarem rodas e,
de mãos dadas, dançar ritmos conhecidos em todo o país, como samba, forró e
cantigas de roda.
A
região metropolitana de São Paulo acolhe a maior parcela dos refugiados
reconhecidos pelo governo brasileiro. Dos cerca de 4.300 refugiados vivendo no
Brasil, aproximadamente 1.800 são cadastrados e atendidos pela Caritas
Arquidiocesana de São Paulo (CASP) - de acordo com dados referentes a maio de
2013. Essa população cresceu 10% em relação ao final do ano passado (e 15% em
relação ao total registrado no final de 2011). O número de solicitantes de
refúgio que chegam a São Paulo e são atendidos pela CASP também tem crescido,
saindo de 661 casos em 2011 para cerca de 1.300 em 2012 (um aumento de quase
100%).
De acordo com dados divulgados ontem pelo Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), existem no mundo 45,2 milhões de pessoas
deslocadas por motivos de guerras, perseguições e violações generalizadas de
direitos humanos. Deste total, 15,4 milhões são refugiados e 937 mil são
solicitantes de refúgio. Do total da população refugiada, 48% são mulheres e
meninas, e 46% são crianças e jovens com menos de 18 anos. Outros 28,8 milhões
são deslocados internos - que passam pelos mesmos problemas dos refugiados, mas
permanecem em seus próprios países.
O evento foi um sucesso. “Emocionei-me vendo como todos os
presentes estavam realmente participando e tornando aquele momento uma
verdadeira festa! Foi particularmente especial ver o entrosamento de várias
nacionalidades, dançando, brincando, almoçando, rindo. Foi lindo”, resumiu a
coordenadora geral do Centro de Acolhida para Refugiados da CASP, Maria
Cristina Morelli.
A celebração do Dia Mundial do Refugiado também contou com a
presença do representante do Comitê Estadual para Refugiados de São Paulo,
Ricardo Alves, que parabenizou a iniciativa e ressaltou a importância da
integração destas populações no Estado.
Por Luiz Fernando Godinho e Larissa Leite, de São Paulo.
Por: ACNUR
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