Novo documento da Santa Sé com orientações para a ação da Igreja evoca «condições desumanas» em que vivem milhões de refugiados
O Vaticano apelou hoje ao fim da “cultura de suspeita” perante as
pessoas que saíram do seu país, lembrando em particular a "gravidade"
da situação dos 100 milhões de refugiados, deslocados e apátridas em todo o
mundo.
“A
conotação negativa dos requerentes de asilo e dos próprios refugiados aumentou
a xenofobia, às vezes até o racismo, o medo e a intolerância a seu respeito, e
uma cultura de suspeita a partir da assunção generalizada de uma possível
correlação entre o asilo e o terrorismo, que ainda tem repercussões sobre a
situação dos refugiados e de outras pessoas deslocadas à força”, alerta o novo
documento de orientações pastorais “Acolher Cristo nos refugiados e nas pessoas
deslocadas à força”.
O
texto foi elaborado pelo Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes
(CPPMI) e o Conselho Pontifício ‘Cor Unum’, responsável pela coordenação das
organizações caritativas na Igreja Católica.
“Consciente
da gravidade da situação dos refugiados e das condições desumanas nas quais
muitos deles vivem, a Igreja, para além do seu próprio compromisso, considera
sua tarefa consciencializar a opinião pública sobre este grave problema”,
assumem das duas instituições da Santa Sé, que alertam para a “diminuição da
hospitalidade e do acordo a receber um número considerável de refugiados por um
período de tempo indefinido”.
O
documento lembra que a migração mudou e vai a aumentar nas próximas décadas,
tornando mais difícil o trabalho de distinguir entre migração voluntária e
forçada.
“Quando
se aborda o problema dos requerentes de asilo e dos refugiados, o primeiro
ponto de referência não deve ser a razão de Estado ou a segurança nacional, mas
a pessoa humana”, sustentam os Conselhos Pontifícios, num texto dividido em
quatro partes e 124 pontos.
Segundo
o Vaticano, o problema dos refugiados e de outras pessoas deslocadas à força só
pode ser resolvido “se existirem as condições para uma reconciliação genuína”,
o que “significa reconciliação entre as nações, entre os vários setores de uma
comunidade nacional, no interior de cada grupo étnico e entre os diversos
grupos étnicos”.
O
documento divulgado esta manhã recorda que a Igreja sempre evocou o direito à
“reunificação de famílias separadas por causa da fuga de um ou mais dos seus
membros, devido à perseguição” e destacou a importância de respeitar “o direito
à liberdade religiosa dos refugiados”.
“Se
tivéssemos caridade, seria impossível permanecer silenciosos diante de imagens
inquietadoras de campos de refugiados e de pessoas deslocadas internamente, no
mundo inteiro”, observam os responsáveis da Santa Sé.
O
texto realça que o cuidado para com os necessitados, entre os quais migrantes,
refugiados e itinerantes, foi sempre uma parte “essencial” do cristianismo.
“Através
deste Documento, esperamos sensibilizar todos os cristãos, os pastores e
igualmente os fiéis, acerca dos seus deveres em relação aos refugiados e às
outras pessoas deslocadas à força”, pode ler-se.
Para
a Santa Sé, é necessário
um compromisso efetivo das instituições da Igreja Católica para “oferecer
respostas adequadas às necessidades dos refugiados e de outras pessoas
deslocadas à força, abordando comportamentos de discriminação, xenofobia ou
racismo e promovendo políticas que salvaguardem, fortaleçam e tutelem os seus
direitos”.
OC
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