O Centro de Identificação e Expulsão,
um complexo de detenção na periferia de Roma onde imigrantes ilegais podem
ficar detidos por meses antes de serem deportados, não é uma prisão. Mas
parece.
Cercas metálicas separam alojamentos
térreos em unidades individuais que são trancadas à noite, quando os pátios são
fortemente iluminados. Há câmeras de segurança. Alguns dos guardas trajam
uniformes da polícia de choque. Os detentos podem se movimentar em áreas
designadas durante o dia, mas são obrigados a usar chinelos ou sapatos sem
cadarços, para que não possam machucar a si mesmos ou a outros. Após uma
revolta no setor masculino, foi proibido o uso de objetos afiados, incluindo
canetas e pentes
Situado no subúrbio de Ponte Galeria,
o centro é um dos 11 na Itália em que são mantidas pessoas que não têm
autorizações de trabalho ou residência ou cujos documentos já passaram da validade.
Algumas delas já vivem no país há
anos. As autoridades dizem que os centros são essenciais para a boa
regulamentação da imigração ilegal e que eles respeitam as diretrizes da União
Europeia.
Mas os centros desse tipo na Itália e
em outros lugares da Europa vêm sendo criticados por grupos de defesa dos
direitos humanos, que os consideram desumanos, ineficazes e caros.
“São lugares que não têm interação
com a sociedade italiana”, disse Gabriella Guido, coordenadora nacional da
LasciateCIEntrare, uma de várias associações que fazem campanha pelo fechamento
dos centros de detenção. “São desertos políticos e culturais que só aparecem
nos radares nacionais quando explodem revoltas.”
Depois de uma mudança nas leis
italianas, em 2011, agora pessoas descobertas residindo ilegalmente no país
podem ser detidas por até 18 meses, como prevê a lei europeia, enquanto seus
casos são revistos. As autoridades reconhecem que, desde a mudança na lei,
aumentou a incidência de revoltas e tentativas de fuga.
Quando, em julho passado,
observadores da organização italiana Médicos pelos Direitos Humanos tentaram
visitar um centro de detenção em Bari, no sul do país, foram barrados “devido
às tensões dentro do centro”, segundo relatório divulgado em maio
Uma rebelião em agosto de 2010
resultou na depredação ampla do centro, que está operando com capacidade
reduzida desde que uma ação coletiva foi movida contra o lugar, com sucesso.
A depressão é comum em todos os centros. Os suicídios são raros, mas acontecem.
A depressão é comum em todos os centros. Os suicídios são raros, mas acontecem.
Em seu relatório, a Médicos pelos
Direitos Humanos disse que, nos 15 anos passados desde que foram criados, os
centros “mostraram ser congenitamente incapazes de garantir a dignidade e os
direitos humanos fundamentais”.
Críticos dizem que os centros não
impedem a imigração ilegal. O relatório da organização de médicos observou que
apenas 50% —4.015 dos 7.944 imigrantes ilegais detidos em 2012— foram
deportados. Esse número não passa de uma fração dos 440 mil imigrantes ilegais
que se acredita que vivam no país.
Para Michael Flynn, fundador e
coordenador do Global Detention Project, com sede em Genebra, “a Itália não é o
único país a ter problemas na administração dessas instalações”. No Reino
Unido, o Observatório de Migração de Oxford questiona a utilidade da detenção.
A Espanha já foi criticada por abrigar os imigrantes em barracas e a Holanda
por mantê-los em barcos residenciais.
Mas a Itália enfrenta uma situação
complicada em decorrência de seu litoral extenso e de sua proximidade com o
norte da África. Com o caos da Primavera Árabe em 2011, o número de pessoas que
atravessaram o Mediterrâneo em direção à Itália subiu para 62 mil. No ano
passado, segundo estimativas da Organização Internacional de Migração, 13.200
pessoas fizeram a travessia. Nos três primeiros meses de 2013, cerca de 1.500 o
haviam feito.
Não obstante as críticas, os centros
da Itália, que são administrados por empresas privadas, tornaram-se
“indispensáveis”, segundo relatório de 2013 do Ministério do Interior. Mas,
citando problemas nos centros, o relatório pediu uma revisão do sistema.
Uma pesquisa do Serviço de Refugiados
Jesuítas da Europa constatou que, nos centros de detenção na Europa, os
migrantes detidos “sofrem de estresse psicológico e mental grave por não
saberem quando a detenção vai terminar”, disse Philip Amaral, coordenador de
defesa e comunicações do grupo, sediado em Bruxelas. De acordo com ele, a
detenção de migrantes é pior que a prisão comum, que tem duração definida.
Alguns imigrantes vêm para o centro
de detenção diretamente da prisão, depois de cumprirem suas sentenças. “Esperei
cinco anos para ser solto e então fui encarcerado novamente”, disse um
tunisiano de 40 anos detido no centro de Ponte Galeria e que não quis ser
identificado. Ele passou quase metade de sua vida na Itália, trabalhando na
construção antes de ser preso, acusado de tráfico de drogas. “A prisão era mais
organizada que este lugar.”
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