O Europa, fortaleza assediada por imigrantes
mais provável é que os países da UE tenham a possibilidade de exercer
o controle fronteiriço no interior de seus limites já a partir do próximo ano.
Desta forma eles se propõem a lidar com o influxo de imigrantes da África e
Oriente Médio (regiões envolvidas pelos acontecimentos trágicos da “primavera
árabe”).
Fala Evgueniya Voyko, docente da cátedra de Ciência Política Aplicada da
Universidade das Finanças patrocinada pelo Governo da Rússia.
“Sem dúvida alguma, o que prima aqui é o fator de segurança. Já há
bastante tempo o público europeu está indignado com o envolvimento de
imigrantes em diversas ocorrências criminais. As pessoas já estão fartas disso
e sentem preocupação pelo destino de seus filhos.”
Por assim dizer, o Ocidente está ceifando, em certa medida, os frutos de
sua própria política de exportação de democracia. Precisamente os europeus
apoiaram com tamanho entusiasmo o rosário de revoltas no mundo árabe que
derrubavam aí os regimes de longa data, presumindo, pelo visto, que a
“primavera árabe” fosse semelhante à Primavera de Praga. Contudo, as esperanças
de uma “revolução de veludo”, europeiamente civilizada e respeitável, foram,
por infelicidade, enganadas. Até agora os europeus não reconheceram seu erro, o
que os impede de retificá-lo. Entrementes, o fardo da imigração sobre a Europa
segue crescendo. O que tem duas causas globais, acredita o presidente da
fundação “Migração – Século XXI”, Vyacheslav Postavnin.
“A mais global é a crise europeia e o desemprego que a acompanha. A
segunda causa tem a ver com os conflitos regionais nos confins do sudeste
europeu que proporcionaram à UE mais imigrantes. Eles chegam primeiro à Turquia
e da Turquia seguem para a Grécia, ou fogem da África para a Itália ou Espanha
e após se espalham por toda a Europa. Via de regra, são pessoas que obtêm
qualquer trabalho e certa condição. Recebem algum dinheiro, subsídios sociais.
Se eles estão em acampamentos de imigrantes, recebem aí alimentos e manutenção.
Tudo isso é muito decente, mas requer muito dinheiro. Os imigrantes custam caro
à Europa. Naturalmente, os países europeus procuram reduzir o número de
imigrantes ilegais.”
Os efeitos incidem não só nos oriundos da África, mas também nos da
Europa de Leste. Certamente, os últimos foram aceitos no seio da grande família
europeia. Mas são tratados, como o sucede a todos os parentes pobres, com
condescendência e suspeita. Os fatos falam por si: a partir do momento de
abolição de vistos, o número de cidadãos dos países balcânicos ansiosos de
obter asilo na Europa Ocidental se multiplicou várias vezes.
Com certeza, isso de nenhuma maneira pode agradar aos europeus. E por
isso, a União Europeia está disposta a implantar mais uma medida, além do
controle fronteiriço interno. Trata-se da possibilidade de suspender ou
inclusive revogar o regime de isenção de vistos com terceiros países. Essa
última, aliás, poderia ser utilizada também como pretexto para protelar ainda
mais a lengalenga das negociações sobre a abolição dos vistos entre a Rússia e
a Europa. Comenta Evguenia Voyko.
“Acho que essa questão
irá influir forte no desenrolar das conversações sobre a abolição dos vistos.
Na Europa não escondem que Bruxelas não dá sua aprovação à simplificação e
posterior abolição dos vistos porque, entre outras causas, receia um novo
influxo de imigrantes, em particular dos países da Ásia Central. Embora, claro
é, se trata também do controle fronteiriço. Mas isso pode ser utilizado como
argumento para dilatar o processo."
É de sublinhar mais uma vez: estas medidas restritivas visam
exclusivamente todos quantos não têm a sorte de ser titular do passaporte
europeu ou qualquer outro documento com um visto Schengen válido. No entanto, o
que importa é a tendência. Hipoteticamente, o novo regime de imigração a ser
implantado nos países da UE é capaz de reduzir a tensão que surge por causa das
disparidades em distribuição dos recursos no mundo e enorme diferença em níveis
de vida e trabalho nos países da União Europeia e os países de origem dos
imigrantes. Mas neste caso, provavelmente, não vale a pena se referir ao mesmo
tempo à liberdade de circulação nem falar em tom doutrinador (como a Europa se
acostumou a fazê-lo anteriormente) dos direitos humanos, em geral.
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